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Praia Acessível em Iracema: lazer, dança e música para pessoas com deficiência
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Praia Acessível em Iracema: lazer, dança e música para pessoas com deficiência

Além do banho assistido e das bicicletas, a programação teve dança com Regina Batista Pereira e música com a Dj Lanis
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 27.09.2025: Luís Galvão 
40. A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) realiza neste sábado (27/9), às 9h, na Praia de Iracema, um passeio dos beneficiários do Cartão Gratuidade à Praia em parceria com o projeto Praia Acessível, do Governo do Ceará em parceria com a Secretaria do Turismo da Prefeitura Municipal de Fortaleza.(Daniel Galber/Especial para O POVO) (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 27.09.2025: Luís Galvão 40. A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) realiza neste sábado (27/9), às 9h, na Praia de Iracema, um passeio dos beneficiários do Cartão Gratuidade à Praia em parceria com o projeto Praia Acessível, do Governo do Ceará em parceria com a Secretaria do Turismo da Prefeitura Municipal de Fortaleza.(Daniel Galber/Especial para O POVO)

A Praia de Iracema reuniu 25 pessoas com deficiência, beneficiárias do cartão de gratuidade no transporte coletivo, e seus acompanhantes, para uma ação especial numa manhã de lazer, neste sábado, 27.

Promovida pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), a ação faz parte do projeto "Praia Acessível" e foi realizada em comemoração ao mês da pessoa com deficiência.

Atualmente, 57 mil pessoas possuem o cartão de gratuidade ativo, garantindo passagens gratuitas, com ou sem acompanhante, conforme prevê a Lei Complementar nº 57/2008.

O prefeito Evandro Leitão acompanhou o passeio e, em entrevista ao O POVO, ressaltou a importância de transformar a iniciativa em uma atividade contínua.

“Isso iniciou de forma embrionária e nós estamos ampliando essa ação aqui, trazendo 25 pessoas com deficiência para que elas possam ver o mar, possam ter esse contato com a natureza e com o oceano. [...] Nós queremos fazer dessa ação um projeto contínuo”.

George Dantas, presidente da Etufor, explicou que a pasta procurou a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) e no diálogo, junto com a secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França, o equipamento foi disponibilizado.

Praia acessível: ação une lazer e cidadania

Ainda segundo ele, a ação surgiu a partir do diálogo com os próprios usuários, a ideia foi unir transporte gratuito e acessibilidade ao mar, em uma programação que incluiu banho assistido, bicicletas adaptadas, massoterapia e até apresentação musical de uma DJ com deficiência visual.

“O Praia Acessível é montado para receber as pessoas com deficiência. Ele surgiu da escuta e da conversa com as próprias pessoas que a gente atende na Etufor, e na conversa com elas fomos chamando outros órgãos e conseguindo oportunizar de levar a cidade até mais perto delas”, afirma.

Para o gestor da pasta, a maior dificuldade na questão da acessibilidade é o fator das cidades serem construídas sem pensar nas pessoas com deficiências.

“A maior dificuldade é conseguirmos disponibilizar os equipamentos públicos para essas pessoas, mas eu acho que com diálogo e com planejamento nós conseguimos. Obviamente há uma dificuldade em fazer todos os dias, mas com planejamento é possível oportunizar para que essas pessoas sejam incluídas na programação da cidade.”

 

Protagonismo e cultura

Além do banho assistido e das bicicletas, a programação teve dança e música. A DJ Lanis, que é uma pessoa com deficiência visual desde os 15 anos, comandou a trilha sonora e destacou a importância da representatividade de artistas com deficiência em espaços culturais.

“Eu nunca tinha me apresentado em um evento cultural tão grande e está sendo a primeira vez. Eu fui dormir tarde montando as playlists, separando por bpms, para tudo ter uma sequência e uma coerência. Eu me perguntei se era possível uma pessoa com deficiência visual ser DJ. Fui pesquisar algumas tecnologias e programas que eu poderia fazer a utilização, acabei encontrando o Virtual DJ, que tem recursos de acessibilidade. Investi nos equipamentos, na qualificação do curso para isso e está dando certo. Eu acho que realmente me encontrei como DJ”.

Lanis DJ, de 29 anos, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.(Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Lanis DJ, de 29 anos, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.

Lanis, que também está cursando licenciatura em educação física, enfatiza a valorização dos artistas locais nos eventos. “Vemos muitos artistas sem deficiência se apresentando, não só aqui no espaço da praia, mas no geral, como em outros ambientes. E pouco se vê dessa atuação das pessoas com deficiência nesses eventos, mostrando as suas habilidades e suas capacidades, que, sim, nós também temos independentemente das nossas limitações”.

Já Reginalda Batista Pereira, de 47 anos, é bailarina desde os 29 anos e integra as companhias “Elos da Vida” e “Mulheres que se ama”. Para ela, esse momento é uma forma de garantir o direito das pessoas com deficiência e citou a importência de ter presente nos locais diferentes tipos de cadeiras, não só as de banho, mas também de passeio, esporte e balé, como a que ela estava usando. “Isso é importante para que a pessoa com deficiência possa estar incluída. Pois quem não é visto, não é lembrado”.

Reginalda Batista Pereira, de 47 anos, bailarina, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.(Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Reginalda Batista Pereira, de 47 anos, bailarina, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.

Os participantes também falam da necessidade de continuidade de projetos. Igor Mesquita, de 29 anos, é gestor público e vice-presidente do Conselho de Pessoas com Deficiência de Fortaleza, ele reconhece a importância de eventos pontuais como esse, mas enfatiza que é necessária uma manutenção diária desses direitos.

“Essa é uma luta de toda a sociedade, tanto nossa como das pessoas que não tem deficiência, porque precisamos ter o nosso protagonismo garantido através do nosso estatuto, que é tão belíssimo, mas que a sociedade, infelizmente, não conhece. É importante lembrar que não existimos apenas no mês de setembro, existimos durante todo o ano, por isso precisamos fortalecer as políticas públicas. Parabenizo todos os profissionais e que fazem acontecer, mas esse trabalho não pode parar por aqui, ele tem que continuar porque a pessoa com deficiência existe todo dia”, explica.

Ainda de acordo com Igor, pessoas com deficiência não buscam sair de casa apenas para fazer tratamentos médicos, mas também desejam estudar, trabalhar e ocupar plenamente os espaços de lazer da cidade. “A maior dificuldade que enfrentamos hoje é a sociedade entender que o paradigma da pessoa com deficiência mudou, pois não saímos de casa só para o médico. Merecemos trabalhar, ocupar os espaços de lazer e tudo o que a constituição brasileira nos oferece”.

Igor Mesquita, de 29 anos, gestor público e vice-presidente do Conselho de Pessoas com Deficiência de Fortaleza, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.(Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Igor Mesquita, de 29 anos, gestor público e vice-presidente do Conselho de Pessoas com Deficiência de Fortaleza, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.

Projetos parceiros

A programação também contou com o projeto Bike Sem Barreiras, da Uninassau, que já atendeu mais de 5 mil pessoas com bicicletas adaptadas. Olavo Ximenes, coordenador de fisioterapia e terapia ocupacional, lembra que, em muitos casos, adultos e idosos pedalam pela primeira vez, vivenciando uma conquista simbólica e afetiva.

Com o apoio da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e fica localizado ao lado do Centro Cultural Belchior. Com três anos de existência é gratuito e funciona a cada 15 dias. “O mais bonito é porque alguns falam que é a primeira vez que andam de bicicleta, porque são bicicletas adaptadas e totalmente monitoradas com os monitores da fisioterapia e terapia ocupacional”.

Para o estudante de fisioterapia Adriano Lima, de 28 anos, monitor do projeto desde o início, a alegria é visível em cada atendimento. Ele ressalta que os equipamentos são adaptados para diferentes condições, incluindo paralisia cerebral, paraplegia e modelos duplos para autistas.

Praia Acessível

O Praia Acessível é um projeto da Secretaria do Turismo de Fortaleza (Setfor) em parceria com o Governo do Estado, que acontece de terça-feira a sábado, mediante agendamento pelo e-mail acessibilidade@setfor.fortaleza.ce.gov.br, oferecendo acesso ao banho de mar para pessoas com mobilidade reduzida, utilizando cadeiras anfíbias, esteiras de acesso e acompanhamento especializado por guardas-vidas, Bombeiros e servidores da Setfor.

Desde sua criação, aproximadamente 15 mil pessoas já foram atendidas.

Para os profissionais envolvidos, cada atendimento carrega uma emoção própria. O guarda-vidas G.D A. Nascimento, de 50 anos, conta que muitos participantes chegam a passar décadas sem entrar no mar, e o reencontro com essa experiência costuma ser marcado pela emoção, tanto para os beneficiados com o projeto quanto para os profissionais que os acompanham nas atividades..

“Hoje o efetivo estava bom, 12 cadeirantes entraram no mar e todos saíram satisfeitos, alegres. Cada pessoa tem um diagnóstico diferente e tratamos individualmente, levando em conta a sua limitação. O que mais me emociona são os casos das pessoas que passam 30 ou 40 anos sem entrar no mar. Quando conhecem o projeto, ao entrar na água se lembram do tempo que tomava banho antes do diagnóstico e começam a chorar. A gente se emociona também”, conta com os olhos marejados.

Para o jovem Ítalo Bernardo, de 24 anos, estudante de administração da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a sensação é de pertencimento. Ele tem deficiência visual e é ex-integrante do Conselho de Jovens Leitores do O POVO e ouvinte fiel da rádio O POVO CBN. Acompanhado da mãe, Katia Silva, de 45 anos, e da prima Iara Marques Rodrigues, de 7 anos, ele diz que a iniciativa quebra barreiras e preconceitos, permitindo que pessoas com deficiência possam viver momentos de lazer com dignidade.

colaborou Carlos Vianna

Italo Bernado, de 24 anos, estudante de administração da Uece, com Eduarda Bezerra, de 22 anos, estudante de fisioterapia e Milena Sousa, 23 anos, estudante de fisioterapiaIgor Mesquita, de 29 anos, gestor público e vice-presidente do Conselho de Pessoas com Deficiência de Fortaleza, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.(Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Italo Bernado, de 24 anos, estudante de administração da Uece, com Eduarda Bezerra, de 22 anos, estudante de fisioterapia e Milena Sousa, 23 anos, estudante de fisioterapiaIgor Mesquita, de 29 anos, gestor público e vice-presidente do Conselho de Pessoas com Deficiência de Fortaleza, na ação do Praia Acessível na Praia de Iracema.

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