O processo de reabertura da economia enquanto a vacinação avança no País - mesmo que não seja na velocidade ideal - já permite o vislumbre de perspectivas positivas para as cadeias econômicas. A saída do lockdown reabriu parte das empresas do comércio e serviços no Ceará e, conforme avança, as possibilidades melhoram, avaliam os especialistas ouvidos pelo O POVO. A esperança é que os segmentos que têm grande peso na economia cearense puxem os resultados positivos no mercado de trabalho, como os serviços da cadeia do turismo, indústrias com grande peso na pauta de exportações, como as sediadas no Complexo do Pecém, além do comércio.
O cenário de momento é de mercado de trabalho cambaleante por causa da crise. No País, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo IBGE, revela que o número de desempregados bateu novo recorde histórico em fevereiro, com 14,423 milhões de desocupados, aumento de 400 mil pessoas em um trimestre (+2,9%) e de 2,08 milhões em 12 meses (+16,9%). Já a parcela de pessoas desalentadas, que já desistiram de procurar emprego deu salto de 4% no trimestre e chegou a 5,95 milhões no País. Em 12 meses, essa quantidade de pessoas já aumentou 26,8%.
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O quadro do desemprego no Ceará, segundo os dados mais recentes do IBGE, que são os do fechamento de 2020, revela que o Estado encerrou o ano passado com o pior índice desde 2012, com 549 mil desempregados, com taxa de 13,2%, enquanto a nacional foi de 13,5% naquela oportunidade. O dado mais recente sobre o tema no Estado é o recorte do trabalho formal, dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, que aponta que no mês passado houve saldo negativo na geração de emprego, com fechamento de 1.564 vagas em março.
No ano, ainda há saldo positivo de 17.363 vagas, fato destacado pelo secretário do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet), Maia Jr., como de distinção da economia cearense frente ao desempenho nacional. "Acho que o Ceará se superou muito acima do esperado", diz.
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Entre os segmentos que devem puxar a retomada, Maia destaca alguns que estão a pleno emprego, como o setor de energia, telecomunicações e TI, além das atividades industriais no Complexo do Pecém e nas cidades de Horizonte e Pacajus. O secretário destaca que os desafios ainda são grandes, pois a pandemia chegou num momento em que o mercado de trabalho ensaiava uma melhora mais consistente.
"Ainda temos uma taxa altíssima de desemprego no Ceará por causa da pandemia e herança de sete anos de crise econômica. O nosso objetivo é que o Ceará gere 100 mil empregos por ano. É um desafio grande atender um estoque de desempregados que foi gerado nos anos de crise junto com a pandemia, que já dura um ano e meio", completa.
A favor do Ceará nessa meta de geração de emprego, Maia destaca os projetos de desenvolvimento de clusters econômicos e o fortalecimento da economia no Interior. A configuração econômica da economia local e as vantagens competitivas que já possui, devem produzir bons frutos, avalia o economista e consultor empresarial Alcântara Macêdo.
Para ele, num primeiro momento de retomada das cadeias, muitos dos demitidos devem ser recontratados. Ele ainda ressalta que o fato da conjuntura econômica estar passando por dificuldades, a resposta no mercado de trabalho não deve ser imediatamente pujante. Alcântara sustenta a tese de que o mercado de trabalho passou por transformações que vieram para ficar, como adoção de novas tecnologias, mas que são necessários investimentos em políticas de desenvolvimento.
"Parte da nossa mão de obra não tem a melhor qualificação. Temos grande desemprego nas grandes cidades, por causa da queda da demanda nos setores de comércio e serviços. Mas, em alguns estados em que a indústria e o agronegócio são predominantes, temos um cenário um pouco diferente", analisa.
Recuperação
Em 2020, 42 mil postos de trabalho foram fechados entre março e junho de 2020. E antes do fim do ano os postos foram recuperados e fechamento do ano foi com saldo positivo de 18 mil empregos no Ceará.
IDT/SINE
Desde o início da semana, as unidades do IDT/SINE voltaram a realizar atendimentos presenciais no Estado por meio de agendamento. Para agendar, o trabalhador precisa acessar o site www.idt.org.br
AUTÔNOMO
No site do IDT/SINE os trabalhadores autônomos também podem realizar cadastro para ofertar seus serviços. Há um espaço na plataforma que é específico para contratação de serviços autônomos e domésticos.
Atual mercado de trabalho
A diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE) e fundadora da Flow Desenvolvimento Integral, Adriana Bezerra destaca as principais exigências no atual mercado de trabalho
Trabalho remoto
Desde o início da pandemia, o trabalho remoto foi a opção das empresas que buscavam diminuir a circulação de pessoas em seus ambientes. Quem trabalha em setores fora do operacional foram designados ao home office. "Inicialmente, as empresas precisam estruturar seus modelos de gestão para que possam instituir o trabalho remoto de forma rápida. Essa mudança envolveu não só infraestrutura, mas principalmente uma mudança cultural, que incorpora o digital no dia a dia das pessoas, com uma condição muito grande de manter o digital ao longo de suas vidas".
Mentalidade
Ponto fundamental para as empresas foi a mudança de mentalidade na forma de gerir os funcionários. A microgestão, de controle de pequenas tarefas, precisou ser trabalhada de forma diferente. "Foi preciso que as empresas trabalhassem as lideranças para um modelo mais focado na autogestão, delegação e, principalmente, na confiança do líder para com a equipe. Precisou costurar uma nova forma de se comunicar nas organizações.
Mudanças de comportamento
A pandemia proporcionou grandes mudanças no mercado de trabalho e nas relações profissionais. "O binômio vida pessoal e profissional passa a ter uma evidência muito maior na vida das pessoas e a ser mais considerado nas empresas. Equilibrar o desempenho com a qualidade de vida e bem-estar passou a ser também uma necessidade das organizações para assegurarem uma condição de saúde física, mental e social desses colaboradores, a fim de que eles possam retomar suas atividades de maneira muito mais eficiente e produtiva. As empresas agora inauguram um novo tempo, de cuidar das pessoas.