O aumento da competitividade e a atração de novos investidores ao País, uma maior rede de distribuição e, como consequência, um menor preço do gás natural esperados no Brasil após a publicação do mercado legal do setor, conhecido como lei do gás, deve ter as perspectivas anuladas com o avanço do conflito entre Rússia e Ucrânia, segundo avaliam especialistas ouvidos pelo O POVO. Sem o fornecimento do insumo pelos russos, a tendência é de que a cotação internacional seja elevada, aumentando o preço também no mercado interno brasileiro.
Para Ricardo Pinheiro, engenheiro de petróleo e diretor da RPR Engenharia e Consultoria, a elevação do gás natural e dos combustíveis é certo, e deve ser o primeiro impacto na economia local. Ele observa ainda que a autossuficiência neste mercado não será imediata, referindo-se à construção de gasodutos e interesse de investidores estrangeiros nos negócios, e apontou pontos frágeis da legislação sancionada pelo governo, uma vez que o texto “contava com muitos fatores que não estão nem de longe acontecendo, como preço e disponibilidade de gás no mercado.”
“O Brasil até tem quantidade de gás que daria para atender nosso mercado e exportar alguma coisa. Mas está todo no Pré-Sal e não há capacidade de escoamento desse gás porque é muito longe da costa e seria necessário um gasoduto da exploração ao litoral”, completa.
Já Anabal Santos Jr, secretário executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), avalia que os contratos de fornecimento de gás natural não sofrerão impactos imediatos, o que deve amortizar os efeitos causados pela guerra. “Certo que o mercado brasileiro de gás natural é muito novo e longo prazo nesses contratos é de 2 anos a 3 anos, mas existem cláusulas que acordam critérios de elevação se houver algum descolamento importante dos preços, além do reajuste anual já previsto”, avalia.
Sobre os próximos atos da comunidade internacional de impacto sobre o mercado de energia, Ricardo Pinheiro aconselha a observação de tudo que envolve o novo gasoduto Nord Stream 2. Na análise do especialista, o aumento do fornecimento de gás natural pela Rússia para a Europa, via Alemanha, foi o estopim para a guerra.
O equipamento, que custou 10 bilhões de euros, eleva a oferta de gás pelos russos aos europeus em 55 bilhões de metros cúbicos. No entanto, com o início da operação, a Rússia planejava desativar o trânsito de gás natural via território ucraniano, o que geraria uma perda de 1,8 bilhão de euros anualmente em “tarifas de trânsito.” A medida desagradou a Ucrânia que, em contrapartida, resolveu acelerar a aproximação com os Estados Unidos ao aceitar o convite para compor a OTAN.
Pinheiro explica que os americanos também perdem dinheiro com a operação do gasoduto, uma vez que o gás fornecido pela Rússia custa 1/3 do gás natural vendido pelos americanos aos europeus. “Isso provocaria nos EUA um problema extremamente sério. Desde 2008, o governo americano estimulou a exploração de rochas ardilosas cujos reservatórios não eram explorados por serem alvos de críticas de riscos ao meio ambiente e muitas pequenas e médias empresas americanas passaram a exportar gás para a Europa”, conta.
O presidente americano Joe Biden até chegou ameaçar destruir o gasoduto, tendo como resposta do presidente russo Vladmir Putin o acionamento das armas nucleares. Para o engenheiro e consultor, o acerto econômico entre Estados Unidos e Rússia é que deve ditar o fim da guerra na Ucrânia e definir os ânimos no mercado de gás.
Ameaças
O presidente americano Joe Biden até chegou ameaçar destruir o gasoduto, tendo como resposta do presidente russo Vladmir Putin o acionamento das armas nucleares.