Cerca de 40 dos 600 apicultores do município de Tabuleiro do Norte (a 211 km de Fortaleza) relataram estar sendo impactados diretamente pela alta mortalidade de abelhas na região da Chapada do Apodi.
O fenômeno teria começado a partir de 2020 e é atribuído pelos produtores de mel e respectivos derivados ao uso excessivo e inadequado de agrotóxicos pela Fazenda Nova Agro, que produz algodão herbáceo na localidade de Curral Velho. A denúncia foi publicada inicialmente na coluna de Nazareno Albuquerque no OP+, no último dia 13.
Os apicultores do entorno do empreendimento relataram ter perdido até 40 colônias por apiário, desde então, e reclamam também do que consideram omissão do poder público, mais precisamente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri-CE), a quem também teriam denunciado o problema. Vale lembrar que o Estado é um dos destaques na produção de mel orgânico no País.
“Nós tomamos a providência de comunicar a Adagri de Limoeiro do Norte, porque não temos representação da entidade em nosso município, mas ela se omitiu e falou que devido à empresa estar pulverizando dentro da própria área da fazenda e das mortes das abelhas serem causadas por veneno, ela não ia poder analisar o caso, mas só se fosse doença”, conta o apicultor Tiago Ferreira.
“Em nenhuma outra região do município está tendo essa mortalidade. A gente chega à conclusão que é o veneno, mas ainda não tem o laudo. A gente mandou abelhas mortas para o laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e está aguardando o laudo. Mas, de antemão há a forte suspeita de que a causa é a pulverização feita pela empresa. Nós não tivemos até agora nenhuma providência, nem do município e nem do Estado”, acrescentou Ferreira.
Segundo a técnica da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, Aline Maia, que desenvolve projetos sociais ligados à agricultura familiar, além do impacto sobre a criação de abelhas o suposto uso inadequado de agrotóxicos teria afetado também a caprinocultura realizada por pequenos produtores da região. “As famílias começaram a se desfazer dos seus animais. Quem tinha condição passou a fazer o transporte dos seus apiários para outras regiões porque começaram a ficar sem local para desenvolver suas atividades”, relata.
“Esse episódio da mortandade das abelhas é mais um dos episódios que nos preocupa”, cita. Aline Maia acrescenta a articulação com universidades e outras entidades para conter o impacto econômico à cadeia produtiva do mel na região. “O Escritório Frei Tito, por exemplo, enviou um ofício para Adagri no dia 5 informando da situação e pedindo que eles verificassem essa problemática”, afirma. A Cáritas também denunciou a situação, segundo a técnica, ao Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural.
“A gente está também buscando o diálogo com o Ministério Público. Já tem um inquérito civil em curso sobre a morte das abelhas. A gente pensa que em breve conseguirá negociar com a empresa”, projeta Aline.
O POVO procurou a fazenda Nova Agro para se manifestar sobre o assunto. Segundo Fernando Gurgel, sócio da Fazenda Nova Agro, eles tomaram conhecimento sobre a mortandade das abelhas na região por um funcionário, mas que não houve confirmação de que esses casos têm relação com a atividade desenvolvida pela empresa.
"Ninguém, fora a Adagri nos procurou. Esta realizou uma fiscalização. Procuramos um vizinho que atua no segmento, o qual disse que ouviu falar, mas que pessoalmente não havia tido qualquer problema".
Ele reforça também que desde abril a empresa não usa mais "produtos considerados danosos". "Também temos interesse em abelhas. Elas são úteis à nossa atividade. Então, abolimos, desde abril, uso de produtos considerados danosos".
E que a empresa opera seguindo os parâmetros legais. "A Adagri tem poder de fiscalização, realizou o trabalho dela e não nos notificou indicando ajustes necessários. Daí entendermos q nossa operação atende todos os parâmetros da legislação pertinente."
Já o representante do órgão em Limoeiro do Norte, Xavier Júnior, disse ter tomado ciência do problema pela imprensa e repassado a informação à coordenação estadual da Adagri. Ele orientou que em caso de mortalidade acima do nível normal, o produtor deve fazer uma notificação oficial.
“Daí, a gente pode fazer a visita, a fiscalização e a investigação epidemiológica para tomar todas as medidas e evitar que se houver alguma doença, ela se instale e se espalhe pelo município ou pelo estado”, disse. (Colaborou Nelson Faheina)