Apenas um a cada cinco empregos novos gerados no Ceará é preenchido por quem tem mais de 30 anos, ou seja, apenas 20%. Com isso, parece que, para o mercado de trabalho, os mais jovens são os que preenchem novas oportunidades.
Os dados de 2020 até setembro deste ano foram analisados por meio da base do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), tendo como recorte o Estado do Ceará.
Essa realidade, por sua vez, vai na contramão dos artigos de comportamento, já que em muitos é possível encontrar que “os 30 anos são os novos 20 anos”, fazendo uma analogia com gerações passadas e a fase vivida.
Mas, voltando apenas ao recorte de empregos, segundo o analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, muitos são os fatores que podem ser considerados quando se vê que as novas vagas não estão sendo preenchidas com pessoas de 30 anos ou mais.
Um deles é o processo de redução de custo nos postos de trabalho. “Com a nova forma de cooptação de dados do Caged, a partir de 2020, não é possível mostrar mais as entradas e saídas do trabalhador e o tempo de permanência dele em um posto de trabalho. Porém, historicamente, se sabe que muitas empresas trocam profissionais mais velhos e com mais tempo de casa e experiência, por algum jovem que vá custar menos na folha de pagamento para aquela vaga.”
Nestes 33 meses analisados, conforme Mesquita, as áreas de indústria, comércio e atividades administrativas são as que mais empregaram os jovens (de 15 a 29 anos), somando 83.844 postos preenchidos.
Já para os adultos, o número de vagas foi 22.676, nas áreas de construção civil, atividades administrativas e serviços de saúde. Ou seja, preencheram apenas 27% das vagas, se comparados com os jovens.
O saldo de emprego formal, que é a diferença entre contratações e demissões, sendo positivo, representa geração de novos empregos e são estes que estão sendo preenchidos, majoritariamente, por jovens.
“O que podemos ver é que a oferta de vagas está muito aquém das necessidades de emprego das faixas etárias a partir dos 30 anos e, ainda, que para os mais de 50 anos, os postos de trabalho estão sendo fechados”, explica Mesquita.
Assim, ele acredita que esses trabalhadores adultos, pela falta de opções no mercado formal, acabam migrando para atividades informais ou não assalariadas, como o empreendedorismo e ações de profissionais liberais. Nestes casos, não há todos os direitos trabalhistas que a carteira assinada oferece.
Pensando em melhorar a sua condição de vida, Felipe Mendonça dos Santos empreende há uma década. Atualmente com 42 anos, ele conta que, no início, possuía emprego formal e empreendia para complementar a renda.
“Sou formado e trabalhei na área de informática industrial por muitos anos. Depois, isso foi mudando e acabei optando por ficar trabalhando apenas por conta própria”, diz.
Ele lembra que a troca de município residencial também, para Cascavel, dificultou a sua permanência no mercado formal.
Em contrapartida, analisando o mercado, ele viu uma oportunidade de um empreendimento no ramo de pneus. “Eu ainda estou estudando, faço mestrado em informática, mas continuo analisando o mercado e me enquadrando no mercado como é possível”, relata Santos, que hoje comanda a MF Pneus, no município de Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Veja saldo de empregos em 2022 por faixa etária
15 anos: 291
16 anos: 817
17 anos: 2.687
18 anos: 29.302
19 anos: 23.646
20 anos: 17.665
21 anos: 13.739
22 anos: 12.016
23 anos: 9.999
24 anos: 9.299
25 anos: 7.379
26 anos: 6.235
27 anos: 4.320
28 anos: 3.440
29 anos: 3.049
30 anos: 2.322
31 anos: 1.684
32 anos: 1.404
33 anos: 1.726
34 anos: 958
35 anos: 1.273
36 anos: 789
37 anos: 989
38 anos: 1.118
39 anos: 872
40 anos: 1.083
41 anos: 654
42 anos: 585
43 anos: 979
44 anos: 542
45 anos: 348
46 anos: 665
47 anos: 467
48 anos: 251
49 anos: 70
50 anos: -200
51 anos: -189
52 anos: -384
53 anos: -438
54 anos: -455
55 anos: -551
56 anos: -696
57 anos: -754
58 anos: -740
59 anos: -817
60 anos ou mais: -8.771
Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência/Novo Caged (dados ajustados em setembro de 2022).
2020
Jovens 28.919
Adultos -22.973
2021
Jovens 65.949
Adultos 15.182
2022 (até setembro)
Jovens 49.016
Adultos 12.575
Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência/Novo Caged (dados ajustados em setembro de 2022).