Se tudo ocorrer como o previsto, a ferrovia Transnordestina deve ser entregue até 2026 e deve gerar até 10 mil empregos diretos e indiretos.
Com esse prazo, dado pela empresa Transnordestina Logística (TLSA), que é quem está construindo e irá operar a via de transporte de carga, o feito ocorre 20 anos após o início do projeto, que data de 2006 e, diferente do que esperava, sem um dos seus “braços”.
Pela nova composição, a ferrovia irá ligar os Estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, porém, com o escoamento da produção apenas pelo Porto do Pecém. Ou seja, os quilômetros que ligavam a cidade de Salgueiro, em Pernambuco, até o Porto de Suape está em fase de devolução para a União.
Atualmente, a malha ferroviária já possui 815 quilômetros (km) prontos, dos 1.282 km de extensão total deste novo traçado.
Além disso, a previsão é de que mais 100 km sejam entregues ainda este ano, entre os municípios de Missão Velha e Iguatu, no Ceará.
No início deste ano já foram entregues 50 km de Missão Velha a Lavras de Mangabeira, de superestrutura (fase da montagem efetiva, onde coloca os trilhos, os dormentes e a brita).
Mais de 2 mil empregos diretos e indiretos já foram gerados com a obra. E a expectativa é de que a cada novo trecho mais mil empregos sejam gerados, perfazendo 10 mil novos empregos considerando os lotes que faltam no Ceará.
Conforme o diretor-presidente da Transnordestina Logística, Tufi Daher Filho, a devolução de 544 km dentro do estado de Pernambuco foi pedida por conta da viabilidade econômica da obra.
“Esta não é uma medida de última hora. Vimos que o projeto só se sustentava como um porto e com um traçado. Então, essa decisão foi conjunta entre todos esses órgãos”, afirma Tufi, referindo-se a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A (empresa pública, sob a forma de sociedade por ações, controlada pela União), Ministério dos Transportes, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Tribunal de Contas da União (TCU).
Ele ressalta que nada foi decidido de forma unilateral, apenas pela empresa. “Também não é uma exclusão por gostar ou não, em absoluto. Pelo contrário, achamos, inclusive, que tem que ser feito a ponta que vai até Suape (porto em Pernambuco). Porém, isso seria uma responsabilidade do governo federal.
Tufi destaca que o esforço da Transnordestina Logística está concentrado em terminar o que é considerado como fase 1, que vai de São Miguel do Fidalgo, no Piauí, até o Porto do Pecém, no Ceará. Isso significa trabalhar em trechos que já estão sendo feitos, ou que em algum momento nestes anos de obras já foram inicializados e também, iniciar “do zero” o que falta a partir do município de Acopiara e ir até o Pecém.
“Com a entrega de 100 km que faremos neste ano, ainda ficarão faltando cerca de 370 km que são perfeitamente factíveis em três anos e meio, quatro anos, ou seja, ainda dentro da gestão do presidente Lula. Porém, para isso, precisamos que os recursos sejam liberados.”
O diretor-presidente explica que a acionista (Transnordestina Logística), já aportou mais de R$ 3 bilhões, além de ser responsável por ser fiador de todos os outros financiamentos. Segundo ele, cerca de R$ 1 bilhão referentes a serviços já prestados precisam ser liberados pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o Banco do Nordeste (BNB).
Este valor é de um contrato em que os pagamentos foram suspensos em 2014, mas que já foi avaliado e liberado o pagamento pelo TCU. “Por conta disso, a Casa Civil, o Ministério dos Transportes e o Ministério do Desenvolvimento Regional estão imbuídos em dar uma solução o mais rápido possível.”
Além disso, para concluir as fases 1 e 2 (esta é apenas no Piauí e abrange os municípios de São Miguel do Fidalgo e Eliseu Martins), Tufi afirma que são necessários cerca de R$ 8 bi.
Para este valor que falta, o que está sendo negociado com o governo federal, conforme o executivo, seria um novo empréstimo do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), de R$ 2,5 bi, o acionista entraria com mais R$ 1,2 bi e um novo substituto para a Valec, que e está saindo deste contrato. Há tratativas para que o BNDES seja este novo acionista e que entre, também com um aporte.
“Com este novo cenário que está se desenhando, a nossa expectativa é de que o BNDES entre como acionista e aporte o que falta de valor para concluirmos a obra”, diz Tufi.
Pecém prepara ampliação da capacidade
O prazo de conclusão para as obras da Transnordestina até o Ceará aceleram a programação do Porto do Pecém, segundo afirmou Hugo Figueirêdo, presidente do Complexo do Pecém. Em entrevista exclusiva ao O POVO, ele disse que o porto se prepara ampliar a capacidade de movimentação em 15 milhões de toneladas. O foco é cargas de grãos e minério que a ferrovia vai levar até o terminal de múltiplo uso (TMUT).
"A capacidade do Porto do Pecém é de em torno de 30 milhões de toneladas ao ano. Nós já chegamos a movimentar 22 milhões de toneladas. Ano passado foram 17 milhões. Então, precisaremos expandir a capacidade para atender essa demanda de 15 milhões de toneladas da Transnordestina."
Grãos ainda não fazem parte das operações do Pecém, mas minério, sim. Uma área do terminal, inclusive, é preparada para a chinesa Globest. (Armando de Oliveira Lima)