O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar em um ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), que passará a ser 14,25% ao ano, e uma nova subida é esperada. A alta colocou o índice no mesmo patamar registrado durante a crise econômica deflagrada no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
A decisão foi tomada por unanimidade nesta quarta-feira, 19 de março. Segundo o comunicado, o ambiente externo “permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos.”
Já no cenário doméstico, os integrantes do Copom avaliam que os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado dinamismo. “A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.”
Este é o quinto aumento seguido. Após chegar a 10,50% ao ano, de junho a agosto do ano passado, a taxa começou a ser elevada em setembro do ano passado, com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto e duas de 1 ponto percentual.
A aceleração desse processo ocorre em um contexto de pressão inflacionária, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulando alta de 1,47% no primeiro bimestre de 2025.
Nesse sentido, Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, ressaltou que o ponto de dúvida dessa decisão estava muito mais concentrado na comunicação para os próximos encontros.
“Confirmando nossas expectativas, o Copom antecipou que deverá continuar o ciclo de aperto monetário na próxima reunião com um ajuste de menor magnitude. Assim, reforçamos nossa expectativa de um aumento de 50bps para 14,75% a.a. no encontro de maio.”
No entanto, em sua visão, este seria o último movimento do ciclo de alta de juros. Por outro lado, Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, alerta que parte do mercado já precifica uma Selic próxima de 15% até o fim de 2025.
“O grande dilema é se o Banco Central vai elevar a Selic até 15% e, se isso ocorrer, por quanto tempo manterá essa taxa elevada. Esse fator será determinante para o comportamento dos ativos de renda fixa e variável nos próximos meses”, afirma.
Apesar da alta de um ponto na taxa básica de juros, o Brasil caiu da segunda para a quarta posição no ranking dos maiores juros reais (descontada a inflação) elaborado pelo site MoneYou, com 8,79%. O País fica atrás da Turquia (11,90%), Argentina (9,35%) e Rússia (8,91%), e à frente de Indonésia (6,48%).
Além disso, Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, pontua que a decisão encarece o crédito, reduz o consumo e pode desacelerar a economia no médio prazo, mas reforça o compromisso com a estabilidade de preços.
“O impacto imediato deve ser uma maior atratividade da renda fixa para investidores estrangeiros, fortalecendo o real e reduzindo a pressão sobre o câmbio. No entanto, a taxa elevada pode desestimular o investimento produtivo e impactar o crescimento.”
Também explica que a decisão ocorre no momento em que o Federal Reserve (Fed, Banco Central norte-americano) optou por manter os juros estáveis entre 4,25% e 4,50%.
“Esse cenário favorece o Brasil, ao ampliar o diferencial de juros, atraindo capital estrangeiro e ajudando a estabilizar o câmbio. No entanto, sem ajustes fiscais e um ambiente econômico confiável, os efeitos positivos da alta dos juros podem ser limitados.”
Histórico das reuniões da Selic desde o maior patamar antes deste de 2025
As datas a seguir representam as reuniões do Copom:
Fonte: Banco Central