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Os desafios da economia cearense em 2025
Reportagem

Os desafios da economia cearense em 2025

| Perspectivas | Desempenho econômico do Estado depende de fatores nacionais, como a política fiscal e monetária, mas manutenção dos investimentos, otimização da máquina pública, desburocratização de processos e infraestrutura podem ajudar o Ceará a crescer
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PECEM, CEARÁ, BRASIL - 27.09.2024: Pecém movimenta mais de 4 mil contêineres e bate recorde de movimentação de um só navio com a chegada do MSC Navio MSC Mariagrazia. (Foto: Aurélio Alves / O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES PECEM, CEARÁ, BRASIL - 27.09.2024: Pecém movimenta mais de 4 mil contêineres e bate recorde de movimentação de um só navio com a chegada do MSC Navio MSC Mariagrazia. (Foto: Aurélio Alves / O POVO)

O Ceará chega ao fim de 2024 com indicadores econômicos promissores, demonstrando crescimento sobre o ano passado ao atingir o segundo maior patamar de investimento dos últimos 11 anos, taxa de desemprego histórica e apontar na direção de um Produto Interno Bruto (PIB) cujo crescimento é mais do dobro do observado em 2023.

Mas, para ostentar os mesmos ganhos em dezembro do próximo ano, o Estado vai precisar manter o rigor na economia dos últimos 20 anos e com adaptações importantes frente ao cenário nacional, segundo a avaliação dos economistas ouvidos pelo O POVO.

A crise deflagrada no mercado financeiro após os agentes demonstrarem desconfiança sobre o pacote de corte de gastos do governo federal e agravada com a desidratação feita por deputados e senadores projetou incertezas para 2025 ainda carentes de medidas para atenuar os ânimos.

Efeitos da crise fiscal sobre o Ceará

João Mário de França, economista e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (Caen/UFC), aponta como efeitos da crise fiscal e incerteza política para o Ceará a desvalorização do câmbio, o aumento das taxas de juros, a aceleração da inflação e a consequente redução do consumo.

O câmbio elevado prejudica a balança comercial cearense que tem a importação maior que a exportação, na perspectiva mais básica da relação de comércio exterior. Mas o aumento da taxa básica de juros (Selic) eleva também as taxas cobradas a empresários e consumidores, tornando o acesso ao dinheiro, seja para investimento ou consumo, mais difícil.

A projeção da Selic, segundo o Banco Central (BC), é de 14,5% até o meio do ano, podendo chegar a ser maior até o fim de 2025.

“Com essa taxa de juros estratosféricas, vamos sempre limitar o potencial de crescimento. Precisamos de uma reestruturação fiscal mais agressiva do que está sendo proposta para poder restabelecer a confiança e permitir a redução do nível de juros”, comenta Lauro Chaves, professor da Universidade Federal do Ceará (Uece) e presidente da Academia Cearense de Economia (ACE).

Atenção ao consumo das famílias

Nesta perspectiva, os dois economistas sinalizam atenção ao indicador consumo das famílias na economia cearense. O aumento do poder de compra pelos habitantes do Estado é apontado como principal força motriz do PIB e o impacto sobre ele gerado por uma inflação ou juros maiores pode comprometer os ganhos.

“O cenário nacional é mais desafiador e os seus rebatimentos para a economia cearense são preocupantes. A redução do consumo, um dos pilares do crescimento da economia cearense, pode levar a um crescimento menor do que o esperado para o ano”, observa João Mário.

O que o Ceará precisa fazer para se manter competitivo?

A reforma tributária é outro ponto de atenção, segundo o professor do Caen/UFC, por mirar o fim da guerra fiscal entre os estados - prática na qual as unidades da federação atraem investidores prometendo mais benefícios fiscais. Com o início das primeiras medidas para 2025, a expectativa é de que a competição se dê em outros patamares.

“A economia cearense tem um déficit histórico por possuir aproximadamente 4,4% da população brasileira e 2,1% do PIB nacional. Ou seja, o cearense médio é 45% mais pobre que o brasileiro médio que já tem um nível de renda inferior aos padrões internacionais. Para acelerar isso, precisamos de décadas de economia cearense no ritmo mais acelerado do que a economia brasileira”, avalia o professor da Uece e presidente da AEC.

Mas as medidas tomadas estão no rumo certo, indica João Mário: “A conquista do Capag A (indicador de capacidade de pagamento do Tesouro Nacional) mostra que o Estado está com uma situação fiscal bem equilibrada. Isso permite essa capacidade de investimentos que vem ocorrendo. Aumento de investimentos na área de infraestrutura, logística, educação, saúde, tudo isso impacta positivamente a economia cearense.”

Para continuar competitivo no cenário de fim da guerra fiscal e com o consumo das famílias sob risco, o Ceará precisa, segundo os dois economistas avaliam, melhorar o ambiente de negócio, ter mais confiança na política econômica, desburocratizar os processos e melhorar a infraestrutura.

É a hora do hidrogênio verde?

Perguntados sobre o que esperar do hidrogênio verde em 2025, os dois economistas concordam que o combustível realmente deve alavancar a economia cearense, mas não neste ano. Após a aprovação do marco regulatório, a expectativa é de que os investimentos sejam confirmados e iniciados, o que não representa grande volume de recursos na economia local.

“O hub de hidrogênio verde é uma oportunidade de desenvolvimento exógeno, com volume de investimentos nunca visto na economia cearense. Porém, temos que ter calma porque o ritmo de investimento não vai acontecer nem em 2025 nem em 2026, de uma vez. Isso são investimentos programados para 5, 10 ou 15 anos”, pondera Lauro Chaves.

A definição do mercado consumidor e modelagens de transporte e geração ainda estão na planilha e comprometem as projeções robustas de US$ 20 bilhões no Complexo do Pecém, segundo João Mário, o que só deve acontecer ao longo dos próximos anos.

Para 2025, a avaliação dos especialistas é de atenção às políticas nacionais e foco nos potenciais locais como forma de manter o potencial de crescimento em todas as frentes totalmente aproveitado.

Mais notícias de Economia

Projeçõesda economiabrasileirapara 2025

Produto Interno Bruto (PIB):

2,01%

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA):

4,96%

Câmbio (dólar):

R$ 5,96

Selic:

14,75%

Investimento direto no País:

US$ 70 bilhões

Dívida líquida do setor público:

67% do PIB

Fonte: Relatório Focus/Banco Central (30/12/2024)

O que os setores produtivos esperam da economia
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O que o setor produtivo espera da economia em 2025

Indústria

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, 2024 finda com a indústria cearense sendo mais uma vez responsável por boa parte do crescimento econômico experimentado em nosso Estado.

Dados divulgados pelo Ipece mostram que o PIB do Ceará registrou um crescimento de 6,67% no terceiro trimestre em comparação a igual período do ano anterior, resultado superior ao apresentado pelo Brasil, que foi de 4,0%. E nesse contexto, a indústria cresceu nada menos que 12,48%.

Isto, se por um lado me deixa motivado para continuar trabalhando firme por uma indústria cada vez mais forte e inovadora, por outro, acende um sinal de alerta para a necessidade de unir forças aos demais setores da sociedade, na luta pela regulamentação da reforma tributária, maior responsabilidade fiscal, combate à elevada taxa de juros e à escassez de mão de obra.

Me anima, a perspectiva que temos de um 2025 onde as energias renováveis ganhem ainda mais celeridade nos investimentos e regulamentação, com a viabilização das usinas eólicas offshore, o crescimento continuado dos investimentos em hidrogênio verde, além do avanço dos data centers no Ceará e das obras de infraestrutura como a ferrovia Transnordestina.

Por isso e muito mais, eu acredito que o ano novo virá repleto de oportunidades.

Ricardo Cavalcante

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará

Agropecuária

O ano de 2024 foi relativamente bom. Teve uma expectativa seca, mas terminou com chuvas acima da média. Isso prejudicou, inclusive, os nossos resultados porque se tivéssemos feito um prognóstico assertivo teríamos lavouras a mais. Alguns setores cresceram substancialmente, como a carcinicultura. Tínhamos 1780 fazendas e, hoje, temos mais de 2030. É um crescimento chinês, de mais de 10% ao ano e a expectativa é de que, em 2025, voltem as exportações para a Europa com o acordo Mercosul-União Europeia.

Esse acordo foi muito importante, é preciso parabenizar o governo por isso, pois abre mercados. Cera de carnaúba, castanha de caju, frutas, carcinicultura e pescado serão o cume de 2025.

Mas temos dois problemas para o agro que precisam ser equacionados. O primeiro é a questão hídrica, porque há muitos perímetros irrigados subutilizados, apesar de o governador ter cooperado muito. O Estado do Ceará tem 14 perímetros irrigados e, salvo o Baixo Acaraú, nenhum outro funciona a contento. O segundo é o energético, porque a distribuidora é muito ruim, demora muito na prestação de serviço. Temos que ter atenção nesses dois pontos.

O ano de 2025 será um ano no qual o Produto Interno Bruto do agronegócio, no Ceará, vai crescer de 3% a 5%. É a nossa expectativa. É um bom crescimento. A pecuária leiteira vai continuar crescendo, a pecuária de corte vai crescer bem, a ovinocaprinocultura tem a mesma expectativa e todos os segmentos terão um ano de boa expansão.

Amílcar Silveira

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará

Comércio e Serviços

O ano de 2024 foi marcado pela resiliência do comércio e dos serviços do Ceará. Destaco como pontos principais a recuperação do turismo, a expansão do varejo impulsionada por datas comemorativas fortes e a consolidação de pequenos negócios. Além disso, a ampliação da digitalização no comércio e a força do setor de serviços de alimentação e logística foram determinantes para sustentar esse peso relevante na economia estadual.

Os desafios existem e são significativos. A alta dos juros reduz o crédito disponível tanto para consumidores quanto para empresários, o que impacta diretamente o consumo e os investimentos. A mudança no cálculo do reajuste do salário mínimo, por outro lado, tem um efeito duplo: por um lado, beneficia os consumidores ao aumentar a renda disponível, mas, por outro, pressiona os custos das empresas, especialmente aquelas que empregam mão de obra intensiva.

A expectativa é de que a crescente se mantenha em 2025. Alguns pontos positivos sustentam esse otimismo: o fortalecimento das políticas de incentivo ao turismo, com a previsão de novos voos internacionais; os investimentos em infraestrutura, como estradas e aeroportos, que facilitam a circulação de mercadorias e turistas; e a retomada gradual do poder de compra das famílias, impulsionada por programas de transferência de renda e pelo aumento do emprego formal. A adaptação contínua às tendências de digitalização e sustentabilidade também tem contribuído para a competitividade dos negócios locais.

Cláudia Brilhante

Diretora Institucional da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará

Mercado imobiliário

O ano de 2024 foi um marco para o setor da construção civil, consolidando Fortaleza e a Região Metropolitana como referências no mercado imobiliário nacional. Para 2025, estamos otimistas. Acreditamos que a manutenção de políticas públicas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) e do Programa Entrada Moradia Ceará, aliada a investimentos em inovação e qualidade por parte das incorporadoras, continuará impulsionando o mercado. Nosso foco será manter o crescimento, buscando diversificar ainda mais os empreendimentos e atender às necessidades de diferentes perfis de consumidores.

A alta da Selic é um desafio, pois encarece o crédito imobiliário, impactando principalmente o segmento de habitação popular, que depende de financiamento. Caso a taxa chegue a 14,5%, haverá um impacto significativo na acessibilidade ao crédito, o que pode desacelerar o mercado. Contudo, acreditamos que a manutenção de programas habitacionais, a confiança do consumidor e o fortalecimento da economia poderão mitigar esses efeitos, garantindo que o setor continue relevante e resiliente em 2025.

É possível superar 2024. A continuidade e o fortalecimento desses programas são fundamentais para o setor. O MCMV e a Entrada Moradia Ceará atendem a uma demanda essencial de habitação popular, gerando impacto direto no VGV e na geração de empregos.

Os segmentos de médio e alto padrão continuarão em alta em 2025. A manutenção de lançamentos demonstra a confiança do mercado e reforça o papel desse segmento no fortalecimento do setor imobiliário.

Patriolino Dias de Sousa

Presidente do Sindicato da Construção do Estado do Ceará

Turismo

Em 2024, o turismo no Ceará teve um desempenho muito positivo, especialmente no segmento de eventos, congressos e convenções. Houve um aumento significativo no número de eventos, participantes e no gasto médio desses participantes. O Centro de Eventos também se destacou, sendo um equipamento com estrutura e capacidade para atrair grandes eventos, como o congresso do algodão.

Embora 2024 tenha representado uma retomada significativa, uma normalização, os números do turismo de eventos ainda não atingiram os níveis pré-pandemia. A expectativa é que 2025 marque a recuperação total e alcance esses níveis. Com projetos em andamento, parcerias e ações de promoção e divulgação, existe uma confiança de que 2025 culminará em um aumento e atingirá as taxas pré-pandemia.

Acredito que há maior potencial de expansão do turismo nacional em 2025, mas os níveis de voos ainda não atingiram os níveis pré-pandemia. A falta de aeronaves das companhias aéreas ainda é um desafio estrutural. No entanto, há confiança em um crescimento de 10% a 20% nos voos nacionais em relação a 2024, devido a um trabalho de promoção e parcerias.

O litoral continua sendo a principal competência do Ceará, com muitas áreas ainda em desenvolvimento nas costas oeste e leste. A curto prazo, o foco é no desenvolvimento do litoral, com melhorias na estrutura e conexões, de transfer e aeroportos regionais. Temos novos hotéis, pousadas e atrações que vão ser relevantes para o ano que vem.

Clarisse Linhares

Presidente do Visite Ceará

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