Regulamentado em 2024, o Marco Legal para o desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA) no Brasil está novamente em debate. Segundo Fernando Arbache, CEO da KnowRisk, as discussões propõem que o arcabouço legislativo seja menos "engessado", de forma a acelerar o desenvolvimento de uma IA brasileira.
Mestre em Engenharia Industrial e especialista com mais de 30 anos de experiência em Ciência de Dados e desenvolvimento de IA Determinística e Generativa, Fernando está inscrito como um dos colaboradores da Comissão Especial sobre Inteligência Artificial, na Câmara dos Deputados.
Ele enfatiza que o que se discute entre os congressistas é tornar a legislação que permita colocação do Brasil como liderança internacional no desenvolvimento de inteligência artificial.
"A regulação que estava muito engessada, muito cheia de regras que não permitiria que a IA se desenvolvesse numa velocidade que a gente precisa. Consequentemente, iríamos ficar para trás", pontua.
Fernando lembra que, na época das discussões para promulgação do marco legal, não foi dada a devida importância para o longo prazo do setor de tecnologia, mas analisado problemas do passado.
"Precisamos garantir que a inovação volte para o Brasil porque não estamos dentro do mapa da inovação global com protagonismo. Dentre os muitos problemas, falta credibilidade, dizem que inovar no Brasil é muito caro e complexo, envolve muito risco e alto investimento, o que move as pessoas em direção às aplicações que rendem juros no baixo risco", completa.
Neste sentido, trabalha para o desenvolvimento de uma IA brasileira que seja solução para negócios. O diferencial dela para os produtos lançados no mercado por gigantes da tecnologia, como Microsoft, Google e OpenAI, envolve consumo de energia e capacidade de processamento.
Ao O POVO, ele diz que é negativo para o setor a visão negativa da população sobre o impacto ambiental causado pelo alto consumo de recursos promovidos por data centers de alta capacidade que atendem a grandes empresas internacionais.
A ideia aqui é formar uma IA altamente especializada na resolução de problemas específicos, diferente das IA generalistas, como o ChatGPT, que precisam ter acesso a uma quantidade enorme de informações abertas na rede.
"O processamento (em grandes data centers) gera muito calor e é preciso muita água para resfriar. Tem impacto ambiental, sim. Aí temos a grande oportunidade no Brasil porque ao invés de usar Large Language Model (LLM), usarmos Small Language Model (SLM)".
Com o crescimento de demanda das grandes empresas no desenvolvimento de IAs generalistas, cresceu junto o consumo de energia proveniente de data centers. Nos Estados Unidos, esses equipamentos responderam por 4,4% do consumo de energia do país, em 2023. A estimativa é de que o montante triplique até 2028, segundo a Agência Internacional de Energia.
Sendo a IA brasileira desenvolvida em SLM para solução de problemas dos negócios, Fernando acredita ser o melhor caminho, tanto do ponto de vista do uso de recursos naturais quanto de custo.
Os custos, no entanto, são altos. Segundo Fernando, uma SLM é o equivalente a 1% da capacidade de processamento de uma LLM. Mesmo assim, para construir uma IA em SLM custa por volta de US$ 2 milhões.
O desafio é trazer a solução ao País sob um custo menor para as empresas, mantendo a qualidade do serviço, inclusive do ponto do treinamento de máquina, apostando em fontes de confiabilidade garantida e não de conteúdos de domínio livre na internet e redes sociais, sem garantia de veracidade, como ocorre em IAs de larga escala.
"Em testes, com SLM temos um consumo muito menor (de energia e água nos data centers). Se processa menos informações, mas porque já há direcionamento para aquilo que se quer algo específico de algum setor do conhecimento. E trabalhar para empresas para gerar riqueza, renda e produtividade ao invés de um app de mercado para as pessoas perguntarem aleatoriamente sob custo de muita água e energia".
Exemplo desse processo de desenvolvimento está o projeto da KnowRisk com a startup cearense Eduvem, da Casa Azul Venturies. A parceria estratégica envolve o desenvolvimento de uma IA que será integrada à plataforma all-in-one de educação corporativa.
Vladimir Nunan, CEO da Eduvem, destaca que a intenção é que a IA funcione como um assistente digital que combina aprendizado contínuo com análise de riscos e lacunas de capacitação em tempo real, ajudando setores de RH de empresas em treinamentos e desenvolvimento.