As possibilidades da computação em nuvem nas empresas vai além de reunir as informações no ambiente digital em busca de sistemas otimizados e seguros. O avanço da Inteligência Artificial (IA) Generativa permite atravessar uma nova fronteira.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que, no Brasil, 42% do processamento de dados nas empresas já é realizado na nuvem, maior percentual em um histórico de 34 anos. Portanto, esse ambiente tecnológico está longe de ser estático, mas o seu movimento deve se ampliar ainda mais.
Em resumo, os recursos disponíveis na computação em nuvem permitem acesso sob demanda a recursos como servidores, armazenamento, banco de dados e softwares. Esse último ponto é o que vem gerando o principal movimento no mercado, a partir dos avanços com IA.
Relatório da Cisco, lançado em maio, aponta que mais de 40% dos líderes e profissionais de TI entrevistados ao redor do mundo afirmaram que a principal motivação para migrar para nuvens privadas e públicas é o desenvolvimento de aplicativos mais ágeis e escaláveis.
No Ceará, também há movimentações no sentido de tornar o serviço público mais eficiente. A Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice) contratou a TelCables Brasil para atuar como Cloud Solution Provider (CSP).
Isso permite com que a Etice passe a atuar como fornecedora de serviços em nuvem com soluções agregadas de segurança para entidades públicas em todo Ceará.
As empresas que contratarem a Etice terão acesso ao "Clouds2Brasil", o serviço de nuvem desenvolvido pela TelCables, que também já é responsável pela operação local da gigante multinacional Angola Cables - que possui datacenter no Ceará.
Neste cenário de crescimento, o potencial de evolução desse mercado é imprevisível. Henrique Cecci, diretor sênior de Pesquisa da Gartner, destaca que os serviços de Cloud devem movimentar 1 trilhão de dólares de faturamento até 2026.
Na sua avaliação, o serviço de computação em nuvem se tornou uma necessidade básica para os negócios. "No futuro, a gente vê que a cloud estabelecerá qual o padrão de segurança em infraestrutura. Ela não será apenas aceita, mas vista como padrão", comentou.
Para o diretor de Engenharia na VMware Brasil, Rodrigo Mielke, demanda de diferentes setores devem se ampliar. E mais: aponta para o desenvolvimento de um amadurecimento do mercado de nuvem. “Acreditamos que este crescimento deve continuar nos próximos anos, mas notamos uma tendência de um uso mais inteligente dos recursos de Cloud.”
Os mais diversos setores devem ser beneficiados. Cleber Morais, diretor geral para o Setor Corporativo da AWS no Brasil, destaca que a empresa tem avançado em iniciativas, como Alexa, automatização da operação de centros de distribuição (CDs) e recomendações. E continua: Mais coisas estão por vir.
O executivo da AWS enfatiza que na área da indústria, potencializando as ações em prol da automatização; de saúde, com soluções que permitam aumentar a capacidade de detecção de doenças de forma mais rápida, "ajudar na cura do câncer"; no setor automotivo, na aceleração da produção e desenvolvimento de carros voadores, por exemplo.
Cleber ainda aponta que na área de entretenimento também é possível encontrar soluções, como também na de finanças e sustentabilidade. "Podemos construir um mundo melhor, na indústria, com a transformação dos clientes, e no varejo", declarou durante a abertura do AWS Summit 2023, realizado em São Paulo, no início de agosto.
A partir das soluções apresentadas ao mercado pela AWS, empresas nacionais se tornaram “unicórnios”, como Nubank, assim como grandes corporações reforçaram sua presença digital, tal qual o Itaú.
O Itaú Unibanco, apresentou os resultados que obtiveram ao usufruir das soluções disponíveis na nuvem. Fábio Napoli, CTO da instituição, informa que houve 98% de redução dos incidentes que impactam o cliente, além de crescimento de 140% no volume de implementações, dez vezes mais do que em 2018.
Agora, um dos focos da indústria de tecnologia agora é o de criar uma jornada de democratização dos dispositivos e inovações, permitindo com que pequenas e médias empresas tenham acesso aos dispositivos. Mark Schwartz, estrategista corporativo da AWS, pontua que o alcance da tecnologia já permite o desenvolvimento de recursos que podem gerar muitas mudanças positivas para o mundo.
Schwartz exemplifica o período da pandemia, em que, usando machine learning, foi possível sequenciar o vírus e caminhar rumo ao desenvolvimento de uma vacina em tempo recorde na história da humanidade.
Assim, após a crise da pandemia, não existe um "novo normal", mas há um estado constante de mudanças.
"A nuvem não é mais restrita à datas centers. Pensamos na segurança da estrutura desde o início para podermos entregar inovações aos clientes. A ideia é criar uma cultura, de constância. Inovação é arriscada, a questão é democratizar a tecnologia, dando as condições de inovar", conclui.
A partir do cenário descrito, a bigtech AWS lançou o Amazon Bedrock, plataforma de inovação que funciona na nuvem e que disponibiliza modelos de base para o desenvolvimento de aplicações generativas alimentadas por IA. A intenção é proporcionar às empresas clientes opções que as permitam trabalhar com IA, aplicando o machine learning ao mundo real, possibilitando a resolução de problemas reais de negócios em escala. Isso ocorreria a partir de uma "família de modelos treinados" internamente pela AWS.
A AWS afirma que trata o mercado brasileiro como prioridades dentre as suas regiões de atuação. Desde que se estabeleceu no País, em 2011, realizou US$ 3,8 bilhões em investimentos, que incluem construção, conexão e operação de data centers e desenvolvimento de softwares.
No que se refere ao mercado de tecnologia nacional, os investimentos estão em amplo crescimento.
De acordo com o Índice Global de Inovação (IGI) de 2022, publicado pela OMPI em parceria com o Instituto Portulans, as economias emergentes se destacaram com desempenho sólido e consistente. No recorte por região, o relatório destaca que, na América Latina, o Brasil apresenta desempenho superior ao esperado para seu nível de desenvolvimento econômico, se colocando como uma liderança regional junto com o Chile.
"O Brasil registrou avanços importantes em produtos de inovação, especialmente em produtos criativos, como ativos intangíveis e criatividade on-line, bem como em registro de marcas e criação de aplicativos móveis", diz trecho do relatório.
Dentro de um pacote de "neoindustrialização" lançado pelo Governo Federal no início de julho, o investimento em inovação e desenvolvimento industrial devem ser escalados. Existe a pretenção de disponibilizar R$ 106 bilhões em financiamentos e também para destinação de fundos perdidos nos próximos quatro anos.
“A indústria representa mais de 60% de pesquisa e inovação brasileira. É um grande empenho para conter a desindustrialização precoce que o Brasil sofreu", afirmou na oportunidade do lançamento o vice-presidente Geraldo Alckmin. Os créditos para indústrias que queiram fazer pesquisa terão taxa simbólica com base na Taxa Referencial (TR), de 1,9% ao ano.
Com base no avanço da IA e iniciativas linkadas em machine learning, o iFood espera lançar em breve ao mercado um novo formato de buscas no aplicativo. A ideia é que o app dê sugestões de cardápio com buscas mais elaboradas e diversificadas.
A informação foi confirmada pelo vice-presidente de ML/IA do iFood, Thiago Cardoso. Ele enfatiza que desde que os primeiros experimentos com IA Generativa começaram a se popularizar no mercado de TI, a empresa passou a olhar com atenção o movimento.
Em relação às novas formas de pedir pela plataforma, exemplifica, em caso de um pedido hipotético: "Quero fazer um churrasco para cinco pessoas."
A intenção é que o app ofereça sugestões de listas de compras para o usuário, de onde comprar e com o melhor preço. A solução está em fase de desenvolvimento em parceria com a AWS.
Thiago conta que o iFood tomou a decisão de buscar liderar as pesquisas em torno da IA Generativa por todo potencial de aplicabilidade multilateral. "Quando você usa os modelos, fica impressionado. O primeiro motivo é que diminuem as barreiras para instituir modelos mais baratos e simples. A cada semana saem modelos novos, treinamentos novos. Acreditamos que o custo deve cair rápido e a escalabilidade tem grande potencial."
Neste contexto, uma cultura de experimentação é gerada na organização. Existe uma equipe que explora caminhos novos, trabalhando em projetos menores com a licença para buscar, testar e errar. E, no caso da IA Generativa, existe um time de plataformas, outro time desenvolvendo projetos para aprender mais sobre a tecnologia. Todos estão somando conhecimentos, descreve o executivo.
Com 46 anos de história, que começou numa farmácia de manipulação, em Curitiba-PR, O Boticário se tornou um grupo com diversas marcas, inclusive marcas internacionais licenciadas para o mercado brasileiro.
Reconhecida como marca do segmento de beleza, cosméticos e perfumes, a demanda por soluções tecnológicas tem mudado alguns paradigmas.
A tecnologia tem ganhado espaço e é uma das bases que pavimentou o crescimento do grupo e a integração gera experiências únicas, afirma o CTO do Grupo Boticário, Renato Pedigoni.
Em 2019, a empresa decidiu não só usar tecnologias, mas inovar e construir tecnologias, identificando problemas e gerando soluções. Devem fechar o ano com 3 mil pessoas trabalhando em tecnologia no grupo.
"Nessa época (em 2019), a gente saiu de um time de mais ou menos 200 pessoas para hoje termos 2.600 pessoas no time de tecnologia. Passamos a ter o desafio de fazer tanta gente trabalhar de forma paralela, descentralizar nossa execução mantendo segurança e escalabilidade", pontua.
Por isso, o grupo criou Alquimia, sua própria plataforma de desenvolvimento integrada baseada na nuvem e em serviços da AWS.
Atualmente, O Boticário tem 4 mil lojas omnichannel (multiplataforma), além de modelos de IA aplicados em toda cadeia produtiva, inclusive na criação de produtos e até em lojas e app, com experiências personalizadas.
Renato destaca que, desde que começaram a utilizar Alquimia, o "setup" médio de uma nova aplicação caiu de sete dias para cerca de 20 minutos. Estudos em IA Generativa são o próximo passo.
Francessca Vasquez, vice-presidente global de Tecnologia, Soluções para o cliente e Vendas da AWS, afirma que a IA Generativa irá transformar todas as aplicações, empresas e setores. Essa tecnologia chegou a um ponto de virada pela alta capacidade. Na avaliação da executiva, IA Gen não é "hype" momentâneo, mas uma tecnologia que vai revolucionar o mercado de tecnologia e precisa ser democratizado.
* repórter viajou a São Paulo a convite da AWS