A Câmara Municipal de Aquiraz – município distante cerca de 22 quilômetros da Capital cearense – aprovou, na última segunda-feira, 8, o Projeto de Lei nº 050/2025, que cria o Parque Tecnológico de Data Centers (PARQRAZ).
A iniciativa, de autoria do prefeito Bruno Gonçalves – conhecido politicamente como Dr. Bruno (PRD) – , tem como objetivo atrair empresas de tecnologia e inovação para o município, aproveitando a localização estratégica próxima a Fortaleza e aos cabos submarinos de fibra óptica que conectam o Brasil a outros continentes.
O texto prevê incentivos fiscais — como reduções de impostos (ISS e ITBI) — e estabelece diretrizes para a instalação de centros de dados, startups e instituições de pesquisa. Segundo a Prefeitura, a lei busca preparar Aquiraz para receber futuros empreendimentos de grande porte no setor digital.
“Com esse diferencial, Aquiraz se coloca como destino ideal para empresas de tecnologia e inovação, fortalecendo a posição como cidade de oportunidades e desenvolvimento”, diz a Prefeitura.
Com a aprovação em plenário, o projeto aguarda agora a sanção do prefeito e a publicação no Diário Oficial. A lei terá até 90 dias para ser regulamentada, prazo em que o Executivo deve detalhar a área de implantação, os critérios técnicos e os incentivos previstos.
Apesar da aprovação, ainda não há projetos concretos de instalação de empresas. A gestão municipal afirmou que, caso surjam interessados, serão feitos estudos de impacto ambiental. “Seguimos o princípio de desenvolvimento econômico alinhado à preservação ambiental”, informou a Prefeitura.
A construção e operação de data centers costuma estar associada a altos níveis de consumo de energia elétrica e uso intensivo de água para sistemas de resfriamento. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), os data centers foram responsáveis por cerca de 1,5% do consumo global de eletricidade em 2024, um total estimado em 415 TWh.
Com o avanço da inteligência artificial — especialmente servidores acelerados — esse consumo pode mais do que dobrar até 2030, alcançando aproximadamente 945 TWh, o equivalente ao consumo anual do Japão.
No quesito hídrico, a IEA estima que a indústria de data centers consome atualmente mais de 560 bilhões de litros de água por ano, com projeção de chegar a 1,2 trilhão de litros anuais até 2030. Além disso, um único data center de 100 MW pode usar cerca de 2 milhões de litros de água por dia, volume equivalente ao consumo diário de aproximadamente 6.500 residências.
Apesar de o projeto aprovado em Aquiraz prever práticas sustentáveis, como uso de fontes renováveis e reaproveitamento de recursos hídricos, a efetividade dessas medidas dependerá da regulamentação e das exigências dos órgãos ambientais.
Assim como Aquiraz busca se posicionar como opção de investimento no setor tecnológico, outros municípios da Região Metropolitana de Fortaleza também têm avançado nessa área. Em Caucaia, por exemplo, foi construído um data center do TikTok, com operação em andamento e energia fornecida por fontes renováveis.
No entanto, o projeto gerou controvérsias: comunidades indígenas Anacé manifestaram-se contra a instalação, alegando que as obras avançaram sobre terras de posse tradicional sem a devida consulta prévia, conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O caso de Caucaia mostra que, embora os investimentos em tecnologia tragam oportunidades econômicas, eles também impõem desafios sociais e ambientais, reforçando a importância de planejamento e regulamentação cuidadosos em projetos semelhantes.
A escolha de municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, como Aquiraz e Caucaia, para projetos de data centers e parques tecnológicos está ligada à combinação de localização estratégica, infraestrutura e incentivos econômicos.
A proximidade com Fortaleza oferece acesso a mão de obra qualificada, universidades e centros de pesquisa, enquanto a conexão com cabos submarinos de fibra óptica garante alta velocidade e confiabilidade na transmissão de dados. Além disso, a região conta com melhor infraestrutura urbana, viária e de energia elétrica, e alguns municípios oferecem benefícios fiscais e zonas especiais de exportação. a concentração de recursos e serviços cria uma sinergia regional que torna a RMF o ambiente mais favorável para investimentos de grande porte no setor tecnológico.
Estudo desmistifica alto consumo de água e energia por data centers
Estudo da Brasscom sobre data centers no Brasil revelou que a percepção de alto consumo de energia e água não corresponde à realidade. A entidade representa as empresas do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais.
A principal conclusão da pesquisa é que o desenvolvimento da infraestrutura digital no país — considerada por muitos como essencial para a transformação digital da economia — ao contrário do que afirmam os críticos, é plenamente compatível com os objetivos de sustentabilidade ambiental.
O levantamento mostra que o consumo de energia elétrica por data centers no Brasil representou 1,7% do total nacional em 2024, com previsão de chegar a 3,6% até 2029. “Um índice ainda considerado baixo, especialmente diante da relevância estratégica desses ativos para a economia digital”, avalia Affonso Ninna, presidente executivo da Brasscom.
No caso da água, conforme o estudo, o impacto é ainda menor. “Em 2022, os data centers foram responsáveis por apenas 0,003% do consumo total do país, com projeção de atingir 0,008% até 2029. Vale destacar que a maioria das operações modernas já adota sistemas de resfriamento em circuito fechado, que reduzem drasticamente a necessidade de captação externa e tornam a operação mais eficiente e sustentável, informa Affonso Nina.
Segundo ele, atualmente, o Brasil importa 60% dos serviços de cloud (computação em nuvem). “A instalação de mais data centers no país pode aumentar a autonomia digital e transformar o Brasil em um polo de exportação de serviços de dados”, diz Affonso Ninna.
O executivo pontua que a operação de data centers gera impactos amplamente positivos para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. Segundo ele, o setor, além de gerar empregos qualificados, impulsiona a inovação, aumenta a competitividade e fortalece a autonomia digital nacional.
“Esses ativos são a base para a transformação digital de empresas e serviços, permitindo que o país avance em produtividade, conectividade e inclusão digital”, conclui o executivo.