A operação do transporte coletivo por ônibus, em Fortaleza, pode ter encarecimento na passagem caso a recomposição via subsídio pago pela Prefeitura de Fortaleza não suba.
O alerta foi feito pelo presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Barreira.
As revisões tarifárias ocorrem anualmente em novembro. Para manter o atual patamar de custo da passagem, de R$ 4,50 a inteira e R$ 1,50 a meia, além da série de gratuidades previstas, o repasse da gestão municipal às empresas deveria ser algo em torno de R$ 20 milhões mensais, o que nunca se tornou realidade, conforme o relato empresarial.
Segundo Dimas, o valor efetivamente aplicado pela Prefeitura como subsídio ao sistema não passa de R$ 12 milhões por mês, 40% menos do que o necessário. Já os custos totais da operação são de aproximadamente R$ 60 milhões mensais.
Conforme cálculo realizado pelo Sindiônibus para a revisão tarifária do ano passado, o valor “real” da passagem seria próximo de R$ 7,20, sendo o subsídio governamental o fator preponderante para a tarifa ficar em R$ 4,50.
Para a conta foi utilizada a base do atual patamar de custos — que se elevou desde a pandemia, mas que permaneceu em cenário de estabilidade no último ano.
Em relação ao montante pago, a Prefeitura de Fortaleza frisa, em nota, que o repasse ao transporte público supera os R$ 16 milhões, sendo aproximadamente R$ 14,5 milhões para o Sindiônibus e R$ 2 milhões para os veículos alternativos (topics).
“O diálogo com o setor é constante no sentido de que o serviço seja prestado da melhor maneira possível para a população”, complementou em resposta.
Sem o subsídio municipal para fornecer a complementação necessária almejada, empresários dizem que há duas soluções para a questão: aumento da passagem ou redução de oferta.
“Vem ficando cada vez mais difícil de se manter (o sistema funcionando plenamente) porque não há recurso suficiente”, afirma.
No último dia 11 de agosto, O POVO mostrou que, após a falência da Santa Cecília, ganhou força entre os empresários a ideia de redução da oferta em áreas deficitárias, similar ao que aconteceu em cidades como Natal, Teresina e Rio de Janeiro, que também enfrentam crises em seus sistemas de transporte.
O POVO apurou que a questão foi levada à Prefeitura, em reunião, e rechaçada. A gestão quer manter a cobertura atual e busca recursos no caixa para aumentar o aporte de subsídio, buscando ainda apoio do Governo do Estado para isso.
Com a falência da Santa Cecília, cinco das 14 empresas vencedoras da concessão do transporte coletivo de Fortaleza já não operam mais. A idade média da frota superou os oito anos e nunca foi tão velha.
O sistema também sofre com reduções de oferta. Isso ocorre após a série de falências em que, com a perda da frota, as remanescentes não têm conseguido aumentar sua capacidade, já que o setor viu o valor dos ônibus novos dobrar praticamente desde 2020.
O efeito dessa problemática é que em alguns bairros passageiros notaram que o tempo de espera elevou de 25 minutos para cerca de 1 hora e 20 minutos, conforme mostrou O POVO, em maio de 2024.
E o entendimento de Dimas Barreira sobre o assunto é de que o nível de investimentos no sistema de transporte deve fazer parte da prioridade governamental, antes que mais empresas quebrem. Ele ainda defende que o Governo Federal apoie os municípios nesta obrigação.
“Temos mantido diálogo permanente com a Prefeitura. E, na Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), também estamos na luta para conseguir o engajamento do Governo Federal, que de certa forma começou a dar sinais”, aponta.
Segundo Dimas, que é diretor da NTU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está avaliando fontes de recurso para incrementar subsídios públicos com foco na implementação de uma política de tarifa zero (possivelmente aos domingos) e valor simbólico no restante da semana.