Davi Alcolumbre (Uniãoi Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicano-PB) foram eleitos ontem presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente, sob um traço político comum: ambos tiveram apoio de petistas e bolsonaristas., escapando da polarização que hoje é visto como fator de divisão em quase toda disputa que se faz dentro do Congresso.
Primeiro foi Alcolumbre no Senado, escolhido por 73 colegas para presidir a Casa até fevereiro de 2027. Na disputa, ele derrotou outros dois candidatos: o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e senador Eduardo Girão (Novo-CE), que obtiveram quatro votos cada um. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) e a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), antes inscritos como candidatos, retiraram as candidaturas durante a reunião preparatória, em seus discursos de apresentação das propostas.
Três senadores titulares afastados para exercer cargos de ministro de Estado retornaram temporariamente para participar da votação: Camilo Santana (Educação), Carlos Fávaro (Agricultura) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).
Davi Alcolumbre assumiu a Presidência imediatamente após ser eleito. Esta é a segunda vez que ele ocupa o cargo, tendo comandado o Senado pela primeira vez entre 2019 e 2021. O parlamentar entende a "controvérsia envolvendo as emendas parlamentares" como um desafio a ser enfrentado pelo Congresso e mandou um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF) dizendo que as prerrogativas do Legislativo devem ser respeitadas.
Ele também reiterou um "compromisso inafastável" com a democracia e disse que é preciso "resistir aos atalhos populistas", evitar "os rótulos de discursos fáceis" e as "distorções de debates nas redes sociais" feitas por meio de "simplificações mal intencionadas".
Mesmo longe da presidência nos últimos quatro anos, Alcolumbre manteve sua influência na Casa com o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e aglutinou apoio desde o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, para sua candidatura.
Ao todo, MDB, PSD, PL, União Brasil, PT, PP, PDT, PSB e Republicanos, quase todas as Alcolumbre tem bom trânsito com a direita e com a esquerda e, nos últimos anos, durante a gestão de Pacheco, seu aliado, na presidência do Senado, foi responsável por boa parte das negociações envolvendo emendas parlamentares e cargos.
Um pouco mais tarde, na Câmara, deu-se a vitória de Hugo Motta, de apenas 35 anos, para suceder Arthur Lira (PP-AL), 55,no cargo que ocupou nos últimos quatro anos. Ele teve 444 votos, mas não bateu o recorde do antecessor que, em 2023, teve 464 votos. A maior dúvida da tarde era se o agora novo presidente da Câmara bateria ou não a marca de Lira.
O número de votantes se deve a um acordo de apoio a Motta que contou com 17 partidos, do PT ao PL (veja ao fim da matéria a lista completa). Ele derrotou dois adversários: o deputado Henrique Vieira (PSOL-RJ), que obteve 22 votos, e o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), que angariou 31 eleitores.
Nascido em João Pessoa (PB), o novo presidente da Câmara é médico e vem de uma família de políticos. Seu pai, Nabor Wanderley (Republicanos), foi reeleito prefeito do município de Patos (PB), reduto eleitoral de Motta, em 2024. O avô paterno do parlamentar também foi prefeito da cidade, e o avô materno, deputado estadual.
Motta está no quarto mandato de deputado federal. Ele iniciou sua trajetória na Câmara aos 21 anos, pelo MDB (à época, o nome do partido ainda era PMDB).,
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva felicitou Davi Alcolumbre e Hugo Motta, ainda ontem, pelas vitórias. No caso do novo presidente do Senado houve ainda uma conversa entre os dois por telefone,na qual o petista o convidou para um café da manhã na segunda-feira.