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Bienal do Livro: 'O slam mudou minha vida', diz poeta Kieza Fran
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Bienal do Livro: 'O slam mudou minha vida', diz poeta Kieza Fran

Durante a Bienal Internacional do Livro do Ceará, a poeta cearense Fran Nascimento afirmou como o slam é importante em sua vida; artista foi entrevistada na Casa Vida&Arte
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A POETA cearense Kieza Fran participou de entrevista na Casa Vida&Arte (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares A POETA cearense Kieza Fran participou de entrevista na Casa Vida&Arte

A Casa Vida&Arte foi palco na tarde desta terça-feira, 8, para mais uma atividade na XV Bienal Internacional do Livro do Ceará. Após o bate-papo “A Mulher no Mercado de Quadrinhos”, foi a vez de receber a poeta cearense Kieza Fran para uma conversa sobre sua trajetória e o cenário do slam no Ceará.

A atriz, poeta, curadora e produtora cultural nasceu em Sobral e coordena a programação do slam nesta edição da Bienal. O evento destaca a prática a partir de diferentes programações neste ano com artistas de cidades do interior do Ceará.

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Competição de poesia falada, o slam é uma prática na qual os participantes, chamados de slammers, falam sobre assuntos que circulam suas vidas e experiências enquanto são avaliados por um júri e o público. Ao jornalista Miguel Araujo, Kieza Fran compartilhou sua história, a importância de descentralizar ações culturais e como o slam a atinge: “Mudou completamente a minha vida”.

Bienal do Livro: “O slam é um espaço que se torna libertador”

Idealizadora e organizadora do Slam da Quentura e Slam Ceará, junto ao Coletivo Fora da Métrica, Kieza Fran conheceu a prática via internet. Ela foi marcada pelos vídeos do Slam Resistência, pela visualidade e pelos poemas recitados. Criou o evento “Traga sua Rima” em 2017, o que descambou no Slam da Quentura, um espaço para se reunir mensalmente em Sobral e para os integrantes declamarem poesias.

Foram anos sem patrocínios e sem recursos para poder financiar um campeonato estadual do slam, retirando “dos bolsos dos organizadores” para fazer o evento acontecer. No último edital da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) veio, enfim, a possibilidade de financiar o torneio.

Hoje, existem 18 slams no Ceará e Kieza Fran é uma das referências. “Foi através dele que consegui ser homenageada na Bienal em 2022. Vim trabalhar como assistente de produção, ninguém me conhecia, mas um amigo meu falou sobre meu trabalho e pude ser homenageada no final do evento. O slam mudou minha vida a ponto de eu conseguir estar em uma coordenação”, indica.

A poeta acrescenta: “Não tem como dizer que o slam não muda a vida dos jovens. Vários aqui tiveram suas vidas atravessadas pelo slam. Estamos falando também sobre sonhos. Quando um jovem chega para escrever uma poesia, ele procura espaço para poder recitar. Ter três minutos para falar sua poesia, sobre dores, amores, violências do cotidiano… É um espaço que se torna libertador”.

Bienal do Livro: Estreia na coordenação do evento e descentralização

Esta é a primeira vez na qual Kieza Fran tem a oportunidade de estar na coordenação do eixo de Literatura e Juventude na Bienal do Livro. Os sentimentos que a preenchem alcançam a reflexão de que “nunca imaginou estar neste lugar”, tanto por ser de uma cidade que não é a Capital quanto por morar na periferia de Sobral.

Uma vez conquistada a função, os pensamentos se estendem para como “trazer para perto pessoas que também atravessaram o seu caminho e que admira profissionalmente”. Essa compreensão se dá por entender que sua trajetória foi marcada por diferentes profissionais da palavra, incluindo, é claro, os artistas do slam.

“É bacana pensar nesta repercussão. Como trazemos essa oralidade que é o slam para um lugar de que somos, sim, literatura e que merecemos estar na Bienal do Livro do Ceará? Não é porque somos escritores periféricos, dos interiores, que não podemos estar aqui. Quando veio o convite de estar na coordenação foi um convite também para abrir caminhos. Tomei essa responsabilidade”, pontua.

No Ceará, cita nomes como Cacheada Santos (Sobral) e Sara Silva (Itapipoca) como exemplos de slammers potentes, entre tantos que compõem a cena. A cearense Lyvia Cruz se notabiliza também pelo slam Mãos Quentes, slam feito na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

“Temos várias pessoas pensando no slam. Não se configura mais como uma oralidade que encontramos apenas nas ruas. Conseguimos encontrar nos centros socioeducativos, na rede básica de ensino e dentro dos editais também. É importante ver que a política pública está considerando o slam como um movimento, assim como os saraus são um movimento”, declara. 

Bienal do Livro: Formação e desburocratização na mira do slam

Questionada sobre os principais empecilhos para o slam não alcançar maior visibilidade no Ceará, Kieza Fran afirma que falta “formação em arte e cultura” para a prática. Em sua visão, há diversos agentes culturais potentes nos interiores do Estado, mas que muitas vezes não sabem acessar editais. Assim, é também um processo de desburocratização.

“Tendo a formação pelo menos para entender a burocracia, talvez fosse um caminho para poder lidar, porque muitas vezes você não consegue ‘burlá-la’, você tem que lidar com ela. Acredito que falta informação em todas as instâncias, não só no slam. Por exemplo, há varias pessoas de saraus que são poetas há muito tempo, mas não conseguem ter espaço e voz”, declara.

Enquanto coordenadora da programação voltada ao slam na Bienal do Livro do Ceará, Kieza Fran observa possibilidades para os artistas que ultrapassam o aspecto de apresentações. Estar no evento pode representar também uma rede de contatos, mais visibilidade e o reconhecimento de anos de trabalho.

“Acredito que essa vinda para a Bienal vai ser uma virada de chave na vida de várias pessoas que estão participando da programação, como o coletivo Fora da Métrica, que vai completar dez anos em 2027 e participa pela primeira vez do evento. É pensar que quem está no interior também tem que ocupar esses espaços”, enfatiza.

Slam na Bienal do Livro do Ceará

Quarta-feira, 9

  • 9 horas: Bate-papo "Palavras em Cena - Slam, Teatro e Literatura"
  • Com Neto Duarte (Sobral), Elmo Ricardo (Sobral) e Thay Gadelha (Sobral)
  • Mediação: Kieza Fran
  • 11 horas: Roda de Conversa "Trans-Escrituras - O Legado das Travestis Escritoras da Poesia Falada"
  • Com Akwa da Sylva (Sobral) e Maya Rosa (Massapê)
  • Mediação: APÊAGÁ (Sobral; São Paulo)
  • Mediação: Layze Martins (Sobral)
  • Com Borboletícia (Crato) e Lana Oliveira (Crato)
  • 14 horas: Bate-papo "Vozes do Cariri - Literatura Slam em Cena"
  • 16 horas: Performance Poética de Apêagá
  • 19 horas: Espetáculo Teatral "Às Margens"

Quinta-feira, 10

  • 10 horas: Batalha de Rima da Bienal
  • Com MM MC, LK MC, Akwa MC, Flow MC (Sobral), Sete Ton (Caucaia), LS MC (Crato) e Pahaliah MC (Fortaleza)
  • Mediação: MC Barnabé (Sobral)
  • 14 horas: Roda de Conversa "A Trajetória do Slam no Ceará"
  • Com Saymon Lopes (Sobral), Thay Gadelha (Sobral), Pahaliah (Fortaleza), Ernany Braga (Itapipoca) e Lana Oliveira (Crato)
  • Mediação: Kieza Fran
  • 16 horas: Slam Vozes do Ceará
  • Com Thay Gadelha (Sobral), Layze Martins (Sobral), Rêh (Sobral), Neto Duarte (Sobral), Pahaliah (Fortaleza), Raposa (Fortaleza), Preta Poeta (Crato) e Borboletícia (Crato)
  • Slammaster: Saymon Lopes (Sobral)
  • 17 horas: Slam Mãos Quentes
  • Com Lyvia Cruz (Camocim)

 XV Bienal Internacional do Livro do Ceará

  • Quando: até domingo, 13, das 10 às 22 horas
  • Onde: Centro de Eventos do Ceará (avenida Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)
  • Instagram: @bienaldolivroce
  • Gratuito

 

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