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Não é mais preciso ir para o Vale do Silício para montar uma grande empresa de tecnologia no Brasil, diz cofundador do QuintoAndar
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Não é mais preciso ir para o Vale do Silício para montar uma grande empresa de tecnologia no Brasil, diz cofundador do QuintoAndar

André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar, acredita também que a disponibilidade de talentos é crucial para trazer soluções para que a economia cresça. Quando se traz de outros países, ele diz que há ainda um efeito multiplicador no âmbito regional
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André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar. (Foto: VIVIAN KOBLNSKY/Divulgação
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Foto: VIVIAN KOBLNSKY/Divulgação André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar.

 

 

O ecossistema de inovação e tecnologia no Brasil é capaz de gerar futuros unicórnios, aquelas empresas de tecnologia que têm valor de mercado de US$ 1 bilhão para cima. Isso é o que avalia o CTO e cofundador do QuintoAndar, André Penha.

Ele enfatiza que, diferentemente da sua época, em que precisou ir ao Vale do Silício passar pela Universidade de Stanford para vivenciar aquele cenário, considerado um universo à parte, hoje já temos polos brasileiros de desenvolvimento tecnológico em avanço e investidores mais atentos ao que se passa nesse mercado, viabilizando bons investimentos em ideias promissoras.

Ao O POVO, ele destaca que o QuintoAndar, que chegou aos US$ 5 bilhões de valor de mercado, projeta expansão para todo o Brasil e “outros brasís” espalhados pelo mundo. 

Sobre a atuação da empresa durante a pandemia, destaca que foi um período desafiador, que impôs demandas que precisavam de soluções urgentes, como na renegociação de preços de aluguéis para os inquilinos que passavam por dificuldades financeiras.

“Então, basicamente, aprendemos a lidar com oscilações. É normal que o mercado oscile ao longo de décadas, mas a pandemia fez com que ele oscilasse ao longo de meses.”

 

O POVO - André, como foi sua trajetória desde o curso de Engenharia da Computação, na Unicamp, até o ponta-pé inicial no projeto do que viria a ser o QuintoAndar, um unicórnio no mercado de tecnologia do Brasil?

André Penha - Comecei no curso de Engenharia da Computação despretensiosamente. Eu gostava de computador, eletrônica, achava que seria uma carreira legal, mas naquele tempo não se usava essa palavra startup. Até a palavra empreendedor era meio rara.

Depois, já mais para o fim do curso, quando a gente começou uma companhia de jogos (a Overplay, durante o curso na Unicamp)... E a ideia surgiu em 2002 junto de alguns amigos da faculdade, algo bem ingênuo e genuíno para o começo de carreira - algo que não recomendo hoje em dia - que deu certo aos trancos e barrancos.

A empresa cresceu e, lá pelas tantas, em 2005, vendemos a um preço simbólico para uma empresa tradicional no ramo de videogames. E depois dali tive contato com pessoas que sabiam gerir melhor empresas, que me davam puxões de orelha.

"Passei a ter chefe e aprendi que esse negócio de gerir uma empresa é bem mais difícil do que parece, mais do que quando eu comecei com 22 anos na Overplay. Em 2009, a ficha caiu que a gente não estava fazendo algo que não faria tanta diferença no mundo. " André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar

A gente tinha estúdio que desenvolvia jogos para os outros. A Eletronic Arts e a Ubisoft queriam um pedaço de jogo desenvolvido, aí contratavam a gente para o desenvolvimento de software, não um trabalho de autoria, mas de execução.

Então era um trabalho de baixo valor agregado com milhares de outras empresas no mundo que fazem exatamente isso. Se a gente deixasse de existir, uma outra empresa na Polônia e República Tcheca faria a mesma coisa. Essa ficha caiu depois de um tempo, que nosso poder de barganha é mínimo, estamos aqui pedalando uma bicicleta, e que se a empresa der certo, ok, mas se desse errado tinha umas 60 pessoas trabalhando que iriam ficar desapontadas.

Aí eu decidi que buscaria fazer algo que fizesse a diferença no mundo. Mas na época eu não sabia como fazer isso. Então eu fui pelo exemplo, de onde existiam mais empresas fazendo a diferença no mundo: no Vale do Silício.

Naquela época eles eram mais isolados no mundo, mas hoje com tecnologia, internet, expansão de grandes empresas ao redor do mundo, eles estão mais conectados, ficou um pouco mais comum. Mas, ali, as grandes empresas de tecnologia estavam pelos lados da Califórnia, até o Facebook, que começou em Boston foi para o Vale do Silício.

Então tinha Google, Twitter... E eu queria fazer uma empresa grande e impactante como aquelas, então fui para lá. O epicentro do Vale do Silício é a Universidade de Stanford, então me candidatei. E é aí que tá essa sorte.

Lá conheci meu sócio e hoje cofundador no QuintoAndar. A gente rapidamente se conectou e passamos a discutir sobre os problemas que nos incomodavam e uma coisa que nos incomodava profundamente era que achar um lugar para morar e alugar esse lugar era muito burocrático, o que era ruim para quem está locando (será que vou conseguir alugar, será que esse é o preço certo, será que vou receber...) e é ruim para o inquilino (que tem que buscar fiador, correr atrás das papeladas e burocracias que era padrão da indústria naquela época).

A gente quis resolver aquele problema e fizemos as malas no fim do curso, não ouvimos as propostas - algumas delas bem atraentes - e voltamos para o Brasil. Sem dinheiro no bolso começamos QuintoAndar, com a esperança de que as coisas rapidamente iriam funcionar. Isso foi em 2012, mas nosso primeiro round de investimento institucional foi em 2015. Contamos moedinhas num nível de ansiedade alto. Que bom que a gente insistiu.

QuintoAndar, dos cofundadores Gabriel Braga e André Penha, chegou aos US$ 5,1 bilhões de valor de mercado, projetando um 2022 de expansão para todo o Brasil e chegada ao México.(Foto: VIVIAN KOBLNSKY)
Foto: VIVIAN KOBLNSKY QuintoAndar, dos cofundadores Gabriel Braga e André Penha, chegou aos US$ 5,1 bilhões de valor de mercado, projetando um 2022 de expansão para todo o Brasil e chegada ao México.

O POVO - Como foi o processo de amadurecimento a partir de uma ideia para a realização de um negócio?

André - Uma coisa muito positiva é que hoje em dia o conhecimento sobre o que é um produto que cresce, o que é um produto tecnológico escalável, como que faz uma grande empresa que pode impactar muita gente, é muito mais acessível.

Tanto por conta da internet, quanto porque os fundos de investimentos começaram a olhar para o mercado brasileiro, África do Sul, Índia etc. Aí começou a aparecer uma ou outra empresa nesses mercados (fora do Vale do Silício), talvez a nossa tenha sido uma das primeiras a crescer bastante no Brasil.

Mas naquele tempo havia um conhecimento restrito ao Vale do Silício, ainda bem que a gente estava lá, conversou com muita gente, bastantes falaram para não voltarmos para o Brasil que aqui não conseguiríamos dinheiro - e essa questão foi uma verdade, porque foi muito difícil conseguir dinheiro -, teve muita gente que falou para desistirmos, pois achavam nosso negócio muito complexo e grande para o Brasil.

"A gente teve uma tese um pouco ortodoxa. Enfim, recebemos ali algumas dicas do que faz uma empresa interessante do ponto de vista do empreendedor e do investidor que resumo hoje em três grandes pilares: Mercado grande, um produto muito bom e uma dor profunda." André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar

No nosso caso, o mercado de imóveis é gigante, veja a quantidade de pessoas moram em algum lugar. O produto bom é o que a gente demora um pouco para fazer e faz quando a gente tem um time bom e objetivo. E a dor profunda é quando o mercado é abastecido por uma empresa que tem problema ou está muito fragmentado.

E existe essa dor não porque as empresas são más, mas é porque é um mercado muito fragmentado, cujos donos dos imóveis para aluguel são pessoas físicas que trabalham com outras coisas, então não é profissional em alugar imóveis, portanto não sabe como otimizar a vida de quem está do outro lado, o cliente.

 

OP - A empresa hoje é uma gigante no mercado. Como observam o cenário e o que estão desenvolvendo a partir da ideia inicial?

André - Hoje estamos numa posição em que conseguimos olhar para a fragmentação do amadorismo, mas também para a fragmentação das pequenas imobiliárias que têm pouco recurso para investir em tecnologia e processos.

Estamos numa situação em que começamos a fazer QuintoAndar há pouco tempo para imobiliárias que querem usar os recursos da nossa empresa para ter a tecnologia que traz confiança, segurança financeira, velocidade de aluguel ou venda.


A evolução foi por aí: começamos olhando para uma problema de fragmentação e amadorismo no mercado, pois os donos de imóveis não sabiam bem como fazer negócio, aí resolvemos as dores dos proprietários e inquilinos, lançou um produto no mercado, entendeu que esse produto se estende para vendas além do aluguel, lançou o QuintoAndar para vendas e foi um sucesso.

Hoje vendemos mais de mil imóveis por mês e agora estamos lançando o QuintoAndar para imobiliárias, ainda é um experimento controlado, são poucas parceiras por enquanto, mas vamos aumentando passo a passo.

Com isso, caso o inquilino, proprietário ou comprador queira vir ao QuintoAndar alugar ou comprar, mas também a imobiliária quiser pode também usar da nossa tecnologia e tudo que a gente desenvolveu. Vai ser legal para todo mundo.

OP - Que fonte poderosa é essa que existe no Vale do Silício? Como foi sua experiência lá?

André - Eu acho que hoje passar pelo Vale do Silício para montar uma grande companhia de tecnologia é menos importante do que era quando eu estive lá. Porque hoje o conhecimento está por aqui também. Mas o que essa passagem fez comigo é que, primeiro: na Universidade de Stanford, temos um nível de debate, tanto em sala de aula, entre alunos ou alunos e professores, que é muito acima do que eu vi nas melhores universidades brasileiras, como a UFC, USP, Unicamp, a de Campina Grande (UFCG).

Eu nunca tinha visto aquilo, em Stanford o assunto é muito claro na cabeça de todo mundo e aquilo vira uma coisa que a gente começa a ver, calcular e repetir que vira quase uma matemática fundamental. E acho que se eu não tivesse ido para Stanford naquela época não teria voltado e montado o QuintoAndar como a gente montou.

E talvez se a gente não tivesse montado o QuintoAndar não tivesse estimulado o ecossistema de empresas para que hoje esse desenvolvimento esteja presente aqui também.

Ou seja, as empresas que foram montadas naquela época, o QuintoAndar, o Nubank, do David Vélez, que foi meu colega de sala, e algumas outras empresas superimportantes, é possível que essas empresas tenham possibilitado que o Brasil tivesse outras empresas de tecnologia grandes, pois os investidores começam a olhar para o Brasil, os outros empreendedores superinteligentes que estariam em outros mercados no mundo, trabalhando numa empresa tradicional ou consultoria, param e dizem: 'Quer saber, eu entendi o que esses caras fizeram e vou montar uma empresa para resolver um problema também'.

Então, tudo isso é difícil de prever caso fosse diferente, mas eu tenho certeza que Stanford teve um papel crucial na minha vida e o Vale do Silício, que o lugar onde eu vi aquelas grandes empresas serem montadas teve um papel crucial.

Fora o fato de que ao andar nas ruas eu via o Steve Jobs ou o Mark Zuckerberg, que morava perto do campus. Na cabeça de uma pessoa naquele ponto da carreira, eu tinha 30 anos, dava para ver que aqueles homens eram apenas pessoas, então eu também seria capaz de fazer um negócio importante que impacta muita gente. Eu acho legal que a gente tenha exemplos locais, no Brasil, nas regiões, para criar uma cultura de fazer negócios transformacionais.

 

OP - Olhando para o desenvolvimento regional, desde que voltaram ao Brasil com o projeto QuintoAndar, imaginaram tamanha dificuldade e porquê não ficar por lá?

André - Se a gente tivesse feito um equivalente ao QuintoAndar por lá (Estados Unidos) seria diferente, porque as necessidades são distintas em termos de mercado. Mas acho que teria sido mais fácil porque a disponibilidade de capital é maior, a disponibilidade de talentos para contratar é melhor, no Brasil é difícil encontrar alguém que tenha feito algo parecido, estando num negócio transformacional.

Então, aqui foi mais difícil, tivemos que reinventar a roda. Mas está ficando mais fácil montar uma startup, os investidores olham com muito mais carinho para o Brasil do que em 2010 e 2012 por causa da evolução do mercado.

 

OP - E qual o cenário atual para quem quer empreender em tecnologia?

André - Hoje em dia é mais simples. Os investidores entendem questões complexas no Brasil, apesar do Brasil ser um mercado difícil, uma economia que oscila muito, esse é um país que tem muita gente consumindo, tem muitos talentos.

Então, o Brasil é um país que dá para ter negócios grandes, sim. Aí quando começa a ter disponibilidade de capital e exemplos, começa a aparecer gente querendo empreender. E como temos empresas que já passaram por aquele estágio, que já estão maiores, a disponibilidade de talentos também existe.

"As pessoas que estão começando agora contratam alguém que estava no QuintoAndar, no Nubank, na Loggi, traz alguém que já fez isso aqui. Essa disponibilidade de talentos é crucial para trazer soluções para que a economia cresça. Quando trazemos talentos de outros países também há um efeito multiplicador e acho isso muito importante no âmbito regional." André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar

OP - Empreender é difícil e o negócio pode seguir rumos diferentes do imaginado pelo idealizador. Chegou o momento crítico em que vocês pensaram que não daria certo?

André - Tiveram tantas dificuldades nos três primeiros anos que não consigo nem elencar uma delas. Mas a sorte é que somos dois sócios, eu e Gabriel. Um, sozinho, é mais fácil de desistir. Mas como somos dois, temos o compromisso com a outra pessoa que está ali, trabalhando, então quando está desencorajado, volta a sentar e trabalhar um pouquinho mais.

Essa é uma vantagem em ter dois ou três fundadores. Teve também o fato de que a gente acreditava muito naquele problema. Não tínhamos naquele momento ainda a solução ideal, mas tínhamos uma equipe, uma ideia e um problema, que era tão sério, moradia, que alguém precisava resolver aquilo.

E a gente, com uma pitada de ingenuidade e outra pitada de arrogância, e dizíamos: "Vamos nós!". Aí vinha o mundo real e revelava o pouco dinheiro, que estava quase sempre acabando. Então são vários problemas. Teve dia que a gente fazia as contas e via que o dinheiro iria acabar em duas semanas.

Aí a gente ligava para amigos, investidores-anjos, e conseguíamos sobreviver mais um pouquinho. E hoje, merecidamente, ganharam muito dinheiro ao ficarem sócias da companhia e ela passou a valer US$ 5 bilhões recentemente.

O começo é muito difícil e existem muitos momentos em que você pensa em desistir. Hoje essa dificuldade diminuiu porque existe disponibilidade de dinheiro, mas em compensação existem mais ofertas de emprego e empresas tentando contratar.

André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar.(Foto: VIVIAN KOBLNSKY)
Foto: VIVIAN KOBLNSKY André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar.

OP - E hoje, olhando o quanto a empresa se desenvolveu até chegar aos US$ 5 bilhões em valor de mercado, o senhor acredita que o QuintoAndar alcançou seu potencial?

André - Acredito que ainda não. Para mim, nós temos o melhor produto do mercado de aluguel de imóveis no mundo, pois não conheço outra empresa com um produto mais eficiente do que o QuintoAndar, mais fácil para alugar, mais rápido para o proprietário e mais simples para o inquilino.

Mas tem muito problema para resolver e nós sabemos disso. Sabemos que existe um problema de escalabilidade de atendimento, várias questões interessantes que nós estamos investindo fortemente. E que ninguém no mundo investiu.

Mas chegou um ponto em que notamos que as vendas também sofrem desse problema de burocracia, aí passamos a olhar o financiamento imobiliário, em facilitar as vendas de imóveis também... Aí viramos a maior empresa de vendas de imóveis usados do Brasil.

De longe a maior empresa do Brasil de aluguéis, também queremos ser a maior empresa de suporte às imobiliárias e caminhamos rapidamente nessa direção. E tem muita coisa pela frente.

 

Isso acontece porque temos processos bem definidos, tecnologia e padrões e tudo isso foi desenvolvido com o tempo. Agora queremos todos esses processos e padrões numa expansão geográfica, falta muito ainda no Brasil. E, segundo, uma expansão em mais momentos da vida da pessoa que está no imóvel. Hoje a gente se preocupa muito com o aluguel, a venda... Mas e depois que o cliente já está morando no imóvel, se ele precisar consertar ou trocar alguma coisa, chamar um serviço ou ter um seguro? Será que o QuintoAndar poderia oferecer soluções aí também?

No condomínio em que as pessoas moram que é muito offline teria condições de fornecer um sistema de tecnologia para melhorar tudo. Acho que a resposta é sim, há muito o que fazer. E também pensamos em expansão internacional. Será que é só o Brasil? A resposta é não, por isso estamos expandindo agora para o México.

Mas será que existem uns 20 ou 30 outros brasís pelo mundo para resolvermos com QuintoAndar. A oportunidade é muito grande e estou empolgado com isso. Então quando olho para frente, a percepção que tenho é que há mais coisa pela frente do que para trás.

OP - Como o senhor tem observado a maior aderência das organizações a modelos de negócios ligados à economia colaborativa? Acreditam que o modelo do QuintoAndar já se comunica com todos os públicos e faixas etárias?

André - Não atingimos somente os mais jovens. Todo novo modelo de negócios começamos tratando de um público-alvo, o possível cliente. Sempre tivemos proprietários de todas as idades, no lado do proprietário se torna mais restrito, pois é um público que já possui imóvel.

Mas, clientes de todas as idades. O que acontece é que temos perfis, pessoas com a cabeça mais aberta à experimentação, no começando experimentando mais QuintoAndar, e agora, na verdade, inverteu, pois o QuintoAndar passou a ser o padrão de segurança no mercado. Agora vemos os clientes falando que o ideal para o mercado é que todos tivessem um produto tão seguro quanto QuintoAndar.

Essa inversão é interessante. Nós quem somos o mainstream do aluguel e venda de imóveis. Mas concordo que temos o que desenvolver. Todas as vezes que se lança um modelo de negócios baseado em tecnologia, primeiro começa por um público-alvo até expandir, como o Spotify, que tinha um público-alvo mais geek e agora está expandido.

O iPhone primeiro com um público-alvo, depois expandiu, transformou o mercado e agora outras marcas imitaram esse modelo de smartphone sem teclado. Acho que isso vai se expandido quando ela é melhor, mesmo que no início ela pareça um pouco diferente e cause conflito de decisão, que gere mudança de costume, são mudanças que vão acontecer passo a passo em públicos-alvo específico.

No QuintoAndar não foi diferente, tivemos os que aderiram primeiro e foram espalhando para outras, em cada cidade que entramos temos bairros que aderem mais rápido. E nós sabemos fazer isso muito bem, já que entramos em mais de 50 cidades do Brasil, então sabemos como funcionamos, como podemos crescer.

OP - Esse modelo colaborativo em que pessoas podem indicar imóveis ao QuintoAndar e serem remuneradas por isso é muito usado?

André - Temos o programa chamado Indica Aí, em que pessoas podem simplesmente dizer "eu sei desse imóvel que está para alugar". Podem ser corretores que não trabalham com aluguel e querem indicar um local para alugar. Ou podem ser corretores que não trabalham com vendas, mas sabem de um local à venda.

A gente capta essas informações pelo aplicativo e quando o anúncio é fechado, pagamos uma determinada quantia, que varia conforme a cidade, e aí depois que o imóvel é alugado ou vendido também pagamos uma participação.

O Indica Aí também é muito usado por porteiro de edifício que não podem e nem querem trabalhar como corretor, eles indicam e um corretor do QuintoAndar cuida disso e ele será gratificado por ajudar o corretor do QuintoAndar a fechar negócio.

Então o Indica Aí é muito útil, é um jeito de muita gente indicar imóvel na sua rua, bairro ou prédio e conseguir ganhar um dinheiro, para o corretor é ter uma renda extra com um tipo de negócio adjacente.

O Indica Aí serve para corretores do QuintoAndar ou de fora do QuintoAndar, e para o público em geral, pois é um app disponível para iPhone, Android e no momento em que baixar o app na loja já informamos o quanto que a gente paga por indicação e comissão na sua cidade.

OP - Um diferencial do negócio tem sido oferecer descontos em serviços agregados, como mudança e limpeza. Como essa captação de parceiros tem agregado valor à plataforma?

André - Temos alguns serviços agregados que oferecemos aos inquilinos, donos de imóveis alugados e para quem compra e vende imóveis pelo QuintoAndar, uma base grande de clientes, hoje são mais de 150 mil imóveis alugados, além de outros muitos milhares de imóveis vendidos pelo QuintoAndar no Brasil.

Quem tem serviços e que gostaria de fazer parcerias com a gente, pode entrar em contato, temos uma divisão dentro do time de Marketing que vai avaliar se é compatível com os nossos serviços, basta procurar no nosso site. A gente vai conversar.

QuintoAndar chegou a Fortaleza no fim de 2021.(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE QuintoAndar chegou a Fortaleza no fim de 2021.

OP - Como o QuintoAndar atravessou esse período de pandemia? São dois anos, um período em que as pessoas passaram muito mais tempo em casa...

André - Para nós foi um período de aprendizado. No começo da pandemia, muita gente perdeu emprego porque as atividades paralisaram. Muita gente ficou desesperada porque as pessoas começaram a reter os gastos... Então houve uma enxurrada de pedidos de revisão de aluguel, algo que nunca havia acontecido igual na história do Brasil.

E, de repente, vimos um pico de demanda no nosso atendimento e aprendemos que as pessoas queriam renegociar o aluguel com o proprietário. Bom, se a pessoa quer negociar o aluguel e o proprietário também, ótimo. Se o proprietário não quer, o que acontece é que a pessoa vai precisar se mudar para outro lugar.

Então, rapidamente criamos uma ferramenta na plataforma que permitia o inquilino negociar alguns meses de descontos durante a pandemia. Fizemos outras coisas também, mas esse foi um aprendizado que situações extremas exigem soluções rápidas e mudanças no sistema e no produto porque esse é o comportamento das pessoas.

O segundo aprendizado que vimos foi de hábito de compra em vez de alugar imóvel, de mudar para um pouco mais longe, busca por imóveis maiores porque as pessoas estão ficando mais em casa. Aí teve um momento em que o imóvel perto do metrô, que em São Paulo era muito quente, deixou de ser tão quente assim.

Aí veio outro aprendizado, porque agora as pessoas voltaram a querer morar perto do metrô, no centro da cidade, a comodidade urbana. Então, basicamente, aprendemos a lidar com oscilações. É normal que o mercado oscile ao longo de décadas, mas a pandemia fez com que ele oscilasse ao longo de meses. Aprendemos em tempo recorde e mudar o produto em tempo recorde. Vejo que saímos mais resistentes a um mercado que pode passar por mudanças ao longo do caminho.

OP - A companhia mudou de marca recentemente. Qual foi o intento e o que esperam para o futuro?

André - O QuintoAndar evoluiu como companhia desde que entrou no mercado, em 2012. E lá atrás, a gente era a companhia que fazia aluguel muito rápido e muito simples. Hoje somos muito mais, fomos evoluindo, fazemos vendas, dialogamos com mais tipos de proprietários, inquilinos e moradores.

Passou a ter mais participação geográfica, trabalhar em mais cidades. Nesse crescimento, entendemos que a moradia é uma das necessidades básicas de qualquer pessoa e entendemos mais a relação das pessoas com suas casas e com a gente, a empresa que resolve seus problemas em conseguir casa, e passamos a acreditar ainda mais no que acontece enquanto as pessoas habitam o imóvel.

Então passamos a ver o QuintoAndar como uma empresa de moradia, não só um lugar se pode comprar, alugar ou vender. Mas um lugar onde as pessoas podem pensar alguma coisa para sua casa e a gente poder oferecer pela nossa plataforma.

Também queremos entrar no negócio de tecnologia para condomínios, estamos trabalhando para isso. Queremos também pensar em produtos financeiros, pensando naqueles que querem rever seu financiamento imobiliário e precisam do dinheiro no bolso, estamos trabalhando para isso.

Mais pontos relacionados às moradias, seja de produtos que simplesmente melhorem a vida das pessoas porque fica mais fácil, mais tecnológico, seja produtos financeiros que tenham dinheiro envolvido e a casa, queremos ter esses produtos, oferecer cada vez mais. E fica mais claro nosso contato com as pessoas ao longo de suas vidas porque as pessoas que compram ou alugam pelo QuintoAndar continuam falando com a gente. Queremos falar com todos quando estiverem com problemas, mas também quando formos oferecer soluções.

 

OP - Como a empresa está observando o cenário de mercado para 2022 e o que planejam em expansão?

André - Temos nosso plano de expansão internacional, em 2022 entraremos no México. E tem expansão nas cidades brasileiras também, inclusive nas cidades em que a gente já entrou. Temos casos de cidades que acabamos de chegar, como Fortaleza, que será um ano de expansão.

A economia não está ótima, mas é sempre assim, ciclos. Estamos nesse negócio há dez anos, mas é assim em qualquer área, a economia tem altos e baixos, tem uma certa insegurança, os juros deram uma aumentada, é ano de eleição, muito normal. Algumas pessoas hesitarão mais: 'Será que é hora de comprar uma casa?', 'Será que vendo minha casa?', outras já tem urgência em vender ou comprar e alugar rapidamente.

Os comportamentos vão mudar um pouco, mas estaremos ali para atender quem quer que seja e o mercado é gigantesco. Uma pequena oscilação muda o comportamento, muda como sintonizamos o produto, os discursos e as ações comerciais, mas não tenho a menor dúvida de que esse será uma ano de crescimento para nós.

O nosso pedaço relativo de mercado ainda é pequeno, temos o QuintoAndar para imobiliárias que para nós é muito importante. Tem cidades, como é o caso de Fortaleza - a quinta maior cidade e décimo maior PIB do Brasil - onde a gente acabou de entrar, então estamos aprendendo algumas novidades, em 2022 essas novidades vão crescer, aí é que vamos expandir. E esse ano será um ano bacana, sim.

OP - Houve evolução, mas o que podemos esperar para os próximos anos? Virão novos unicórnios brasileiros?

André - Acho que virão alguns. Eu até evito fazer esse tipo de observação porque dá a entender que eu comemoro somente o fato da empresa valer muito. O valor da empresa reflete o que a gente entrega para o nosso cliente.

O QuintoAndar vale US$ 5,1 bilhões porque entregamos um valor muito legal para o nosso usuário e vejo que temos um potencial muito grande no Brasil e internacionalmente.

Então, eu gosto de pensar que as empresas que alcançaram certo valor e que o mercado ainda tem muito o que crescer, que é o caso do QuintoAndar, vão continuar crescendo caso façam um bom dever de casa. O mercado continua difícil. Algumas empresas menores vão crescer e algumas dessas vão atingir esse status mágico de valor de mercado. Isso é legal, simboliza maturidade da economia.

"O Brasil até bem pouco tempo atrás era uma economia imatura em tecnologia, agora está mais madura. Na medida em que a gente vai desenvolvendo, o ecossistema vai melhorando, mais gente aparece fazendo empresas bacanas, mais gente investindo em empresas bacanas, aí teremos mais empresas resolvendo problemas cruciais, de verdade." André Penha, CTO e cofundador do QuintoAndar

Acho, sim, que veremos mais empresas sérias, resolvendo problemas críticos para a sociedade ganhando esse status. E outras empresas vão tropeçar, levantar e vão para frente, não dá para apostar quem vai ser o quê, mas, estatisticamente, teremos mais unicórnios nos próximos anos e boa parte dessas empresas que chegarem até esse limiar vão ficar maiores ainda porque o mercado permite.

OP - O que o senhor considera que precisa para darmos o próximo passo no desenvolvimento desse ecossistema de inovação no Brasil? Faltam políticas públicas, incentivo para ação de mais empresas?

André - Acho que o incentivo deve ser dado para as empresas com maior dificuldade, as menores. As empresas que estão começando. A mortalidade das empresas em seu início de operação é muito alta porque é bem difícil montar um negócio no Brasil.

É difícil trabalhar no Brasil, mas continuamos na batalha. O incentivo poderia vir nesse sentido. As grandes empresas já possuem uma estrutura maior, já conseguem lidar com a burocracia. Se eliminasse essa grande burocracia e pudesse simplificar mais já melhoraria.

Dito isso, acho que no Brasil falta para valer é talento. No Brasil temos duas dificuldades críticas: a dificuldade da pessoa encontrar emprego e a dificuldade do emprego encontrar a pessoa. E a ponte que faltam nesses dois lados são educação e experiência.

Quando investimos em educação, as pessoas criam experimentos interessantes, começam a trabalhar numa empresa e outra, a economia agradece. Quando as pessoas têm a oportunidade de trabalhar numa empresa de tecnologia, no Brasil ou onde quer que seja, quando elas voltam, chegam com um amplo conhecimento na cabeça.

O Brasil é um país fechado para negócios internacionais e dificulta a vinda desses profissionais. Se fosse mais fácil importar talentos nossa vida seria melhor, pois a pessoa que a gente traz para ocupar um emprego, ela gera mais um monte porque ela traz consigo conhecimento.

E, claro, em termos de política pública devemos continuar investindo no fundamental, o que todo mundo fala, em educação, saúde, segurança, que é o que forma e atrai pessoas boas. Estamos vendo o contrário, fazem anos que muita gente sai do Brasil. Então tenho confiança e fé, o Brasil é um país legal, já vi muita gente estrangeira querendo vir para cá, mesmo sendo um país difícil de papelada, burocracia. Se a gente tiver com a economia bem, as pessoas vêm para cá.

OP - Qual a influência da Netflix no negócio da QuintoAndar?

André - É uma companhia que admiro profundamente. Acho uma empresa brilhante, uma empresa que sofreu bastante no começo, os caras começaram alugando DVD, trabalhando pelos correios e o negócio não ia. Queriam fazer streaming, mas a tecnologia não permitia. É uma empresa que batalhou.

Mas para mim, a associação vem porque foi uma empresa que inventou um segmento de mercado. O Netflix reinventou completamente a forma como a gente consome vídeo e o QuintoAndar reinventou completamente como a gente mora. Eu fico bem contente quando as pessoas fazem essa associação porque essa é uma empresa que eu admiro e que por dentro ela é muito bacana, que como o QuintoAndar tem valores muito fortes.

 

 

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Formação

ANDRÉ É formado em Engenharia da Computação e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Aos 30 anos, foi aos Estados Unidos fazer MBA na Stanford.

Games

André teve um período relevante no mercado dos games. Foi fundador da Overplay, empresa de tecnologia voltada aos games iniciada durante a formação na Unicamp. Fez parte da Abragames e trabalhou para Sony em projetos para a América Latina.

QuintoAndar

EM AGOSTO de 2012, o projeto do QuintoAndar engrenou e os cofundadores Gabriel Braga (CEO) e André Penha (CTO) fecharam 2021 com a marca de mais de 4 mil funcionários.

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