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Bolsonaro é criticado por ligar atos nos EUA a 2022
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Bolsonaro é criticado por ligar atos nos EUA a 2022

Sem apresentar provas, presidente brasileiro repete retórica de fraude na eleição americana e ameaça dizendo que sem "voto impresso em 2022", problema no Brasil será pior que nos EUA
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Bolsonaro fez em live correlação entre vacinas e Aids (Foto: Isac Nobrega/Presidência da República)
Foto: Isac Nobrega/Presidência da República Bolsonaro fez em live correlação entre vacinas e Aids

Um dia após a sede do Legislativo dos Estados Unidos, o Capitólio, ser invadida por extremistas que não aceitam a derrota de Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro voltou a colocar em dúvida o sistema eleitoral brasileiro.

Ontem, em conversa com apoiadores, disse que, se não houver voto impresso em 2022, o Brasil pode ter um "problema pior" que o registrado anteontem nos EUA - o ato terminou com quatro mortos e 52 presos.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou a declaração uma ameaça de Bolsonaro, já preocupado com uma eventual derrota nas urnas daqui a dois anos. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) repudiaram a tese de fraude.

"Qual foi o problema (nos Estados Unidos)? Falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram", disse Bolsonaro, sem apresentar provas.

A hipótese de que mortos votaram já foi desmentida pelas autoridades eleitorais do partido Republicano, o mesmo de Trump, e não há indício de que as pessoas votaram mais de uma vez - até porque a eleição americana não é vencida no voto popular. Tribunais de dezenas de Estados negaram recursos feitos com base em alegações de fraudes levantadas por Trump.

"Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos", afirmou o presidente brasileiro, em frente ao Palácio da Alvorada.

A pressão pelo voto impresso é recorrente nas falas de Bolsonaro. Em 9 de março do ano passado, ele disse que apresentaria provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas, o que nunca fez. Embora tenha ganhado, ele diz acreditar que poderia ter vencido no primeiro turno.

Presidente da Corte eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou ontem, por meio de nota, que lida apenas com "fatos e provas". "Eventuais provas, se apresentadas, serão examinadas com toda seriedade pelo tribunal", declarou, em resposta às afirmações de Bolsonaro.

Barroso criticou a fala de Bolsonaro e disse que só trabalha com fatos e provas
Foto: Roberto Jayme/ASCOM/TSE
Barroso criticou a fala de Bolsonaro e disse que só trabalha com fatos e provas

Já o vice-presidente do TSE, ministro Edson Fachin, disse que a invasão do Capitólio deve colocar em alerta a democracia brasileira. Ao destacar a realização das eleições de 2022, afirmou que "quem desestabiliza a renovação do poder ou falsamente confronta a integridade das eleições deve ser responsabilizado em um processo público e transparente".

O ministro do Supremo Alexandre de Moraes disse que os Estados Unidos "certamente" saberão responsabilizar os responsáveis pela invasão. "Milícias presencias ou digitais, discursos de ódio e agressões às instituições corroem a democracia e destroem a esperança em um futuro melhor e mais igualitário."

Legislativo

PRESIDENTE da Câmara disse que Bolsonaro já está preparando terreno para eventual derrota em 2022
Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
PRESIDENTE da Câmara disse que Bolsonaro já está preparando terreno para eventual derrota em 2022

Ao comentar as declarações do presidente, Maia disse que elas indicam que o mandatário não aceitará uma eventual derrota nas próximas eleições.

"Como Trump, me parece que Bolsonaro é um jogador que não admite uma derrota e ele já vai organizando o campo das ameaças com dois anos de antecedência." Segundo o parlamentar, a fala se soma a outros "ataques às instituições", como o Congresso e o Supremo.

"É um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique", afirmou Maia.

Parlamentares da oposição também criticaram o presidente. Líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ) disse que todos devem trabalhar para "preservar a democracia". "As ameaças de Bolsonaro continuam, agora reforçadas pelo péssimo exemplo de Trump."

Líderes das bancadas do PT nas duas Casas protocolaram representações contra Bolsonaro no TSE e na Procuradoria-Geral da República.

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