Logo O POVO+
Sem apontar erros, Capitão Wagner ataca O POVO em live no Instagram
Politica

Sem apontar erros, Capitão Wagner ataca O POVO em live no Instagram

Deputado federal do Pros, porém, não conseguiu apontar inconsistências na matéria do Projeto Comprova que classifica como enganosa postagem dele contra Camilo Santana (PT)
Edição Impressa
Tipo Notícia
DURANTE a eleição de 2020, Wagner elogiou postura do O POVO em realizar debate no 2º turno mesmo na ausência do então candidato José Sarto (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE DURANTE a eleição de 2020, Wagner elogiou postura do O POVO em realizar debate no 2º turno mesmo na ausência do então candidato José Sarto

O deputado federal Capitão Wagner (Pros) atacou nessa terça-feira, 18, veículos da imprensa cearense, com destaque dado ao Grupo de Comunicação O POVO. Foi uma reação à matéria do Projeto Comprova (veja aqui), do qual O POVO faz parte, que conclui ser enganosa uma postagem nas redes sociais dele sobre suposto incentivo do governo de Camilo Santana (PT) ao uso de cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.

Em transmissão ao vivo no próprio Instagram, o parlamentar do Pros distribuiu críticas e acusações ao O POVO e ameaçou o veículo de processo judicial. "Se é mentira ou é fake, me processem. Quem vai ser processado são vocês por tentar denegrir a minha imagem", disse, sem citar, entretanto, em que ponto específico da matéria de checagem está contido o erro ou a imprecisão.

Até o fechamento desta página, eram mais de 37 mil curtidas e de 5 mil comentários na postagem no Instagram do O POVO sobre a matéria do Projeto Comprova, que classifica como enganosa a publicação de Wagner. 

No postagem do deputado classificada como enganosa, houve ainda edição de legenda. Na primeira versão, de 16 de maio, o texto diz sobre Camilo: "Vai depor na CPI da Pandemia no Senado também?”. Depois do contato da checagem do Comprova com a assessoria do parlamentar, a publicação foi alterada duas vezes, no dia 17.

A primeira mudança na legenda do post verificado pelo Comprova fala em "criminalização do Ministério da Saúde" no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, por recomendação do medicamento. A segunda aponta que o discurso de Camilo foi dúbio em relação ao remédio.

Na live de ontem, Wagner então começou a enumerar as notícias que falam da inclusão da cloroquina e hidroxicloroquina no protocolo estadual contra a Covid-19.

Mas ele não citou que a reportagem da qual foi alvo lista os tais informes da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), publicados no ano passado, nos quais constam as especificações sobre em que circunstâncias os remédios poderiam ser administrados.

As três notas técnicas da Sesa estão dentro da reportagem. Uma delas, do dia 30 de maio de 2020, diz que “sendo o ato médico de responsabilidade maior deste profissional, não cabe ao Estado constranger a decisão médica quanto à referida prescrição".   

A publicação de Wagner sobre Camilo e a cloroquina tem somente 12 segundos. Nela, é possível entender que o petista diz somente: “A cloroquina está no protocolo do Estado do Ceará. Deixar muito claro que todas as decisões que o Estado tem tomado são pautadas nas decisões técnicas e científicas.” Há cortes bruscos no vídeo postado por Wagner.

Já a postagem original de Camilo tem 12 minutos e 31 segundos, e é de 18 de maio de 2020. “Quero dizer que o Estado não utiliza a cloroquina. A cloroquina está no protocolo do Estado do Ceará, agora, ela só é utilizada com a recomendação do médico. Só com a autorização do médico é que é utilizada a cloroquina para os seus pacientes", diz. O trecho pode ser visto aos 10 minutos e 28 segundos.

Segundo o Projeto Comprova, enganoso é "o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor."

Ainda na transmissão de ontem, o policial militar da reserva disse que O POVO não denuncia problemas do Ceará e de Fortaleza, como o da violência urbana, pois "o patrão" da empresa seria o que ele chamou de "esquema". Porém, é possível verificar matérias do veículo criticado pautando as redes sociais dele.

Aglomerações em ônibus de Fortaleza, em fevereiro; o assassinato de um agente do Choque (PM-CE) por criminosos disfarçados e os salários da cota política do prefeito José Sarto (PDT), ambas em maio; além da situação crítica de oxigênio no Ceará, em março, foram matérias do O POVO postadas por Wagner no Instagram. Fora os artigos assinados pelo próprio Wagner na editoria de Opinião, espaço disponibilizado para que ele opine sobre diversos temas.

Eleições 2020

Embora tenha criticado a pesquisa Datafolha na véspera da eleição à Prefeitura de Fortaleza, que lhe registrou 14 pontos percentuais atrás do então candidato José Sarto (PDT) - as urnas mostrariam pouco mais de três pontos de diferença entre eles -, o político elogiou o Jornalismo do O POVO quando o debate programado contra o pedetista, que faltou, se transformou em entrevista, em 23 de novembro, dando-lhe a oportunidade de apresentar propostas para a Capital.

Acesse a cobertura completa do Coronavírus >

Sobre a matéria criticada

O conteúdo, aliás, é resultado da investigação do Diário do Nordeste e do SBT. O material apurado foi verificado por UOL, Estadão, Folha, Correio e Correio de Carajás. Todos estes veículos, assim como O POVO, integram uma coalizão jornalística chamada Projeto Comprova, criada para checagem de postagens que circulam na internet com potencial de gerar desinformação.

NOTA DA REDAÇÃO

Ao reunir todos os esforços para atacar a imprensa cearense, com especial ênfase para O POVO, o deputado federal Capitão Wagner (Pros-CE) perdeu uma oportunidade de demonstrar que fala a verdade no post que motivou a checagem do Comprova. Na live veiculada ontem, o parlamentar não apontou sequer um trecho de imprecisão jornalística contida na matéria que lhe enraiveceu.

Em vez disso, o deputado acusa o jornal de estar a serviço do governador Camilo Santana. Chega a dizer, falsamente, que O POVO teria contratado pesquisas para lhe prejudicar nas eleições de 2020. Sim, a mesma campanha na qual O POVO foi elogiado por Wagner por manter o debate de segundo turno, após a recusa do então candidato José Sarto.

Se o objetivo era prejudicar o deputado, não faria muito sentido garantir-lhe espaço, em horário nobre, na semana final da campanha. Assim como não faria sentido publicar diversos conteúdos sobre problemas no Estado do Ceará - alguns dos quais reproduzidos pelo próprio Capitão em suas redes sociais.

O POVO lamenta que, em vez de simplesmente reconhecer o erro, o deputado opte por tentar criar uma cortina de fumaça. A matéria citada reproduziu as falas do governador com inteireza, sem os cortes vistos na publicação, e com isso permite que o próprio leitor tire suas conclusões. O rigor e a minúcia do jornalismo profissional são valores dos quais O POVO não abre mão. Talvez essas características tenham irritado o parlamentar.

 

O que você achou desse conteúdo?