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Os desafios e a viabilidade de uma terceira via em 2022
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Os desafios e a viabilidade de uma terceira via em 2022

| Eleições | Debate político amarrado tem sido limitante a ações de uma ideia alternativa à polarização. Desafio passa por convencer eleitorado de que há projeto além do bolsonarismo e do petismo
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Lula e Bolsonaro (Foto: Reprodução: Lula (PT.org)/ Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR))
Foto: Reprodução: Lula (PT.org)/ Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR) Lula e Bolsonaro

Se a política brasileira fosse um glossário, termos como CPI, fundão, impeachment, polarização e terceira via figurariam entre os mais pesquisados nos últimos meses. Conforme 2022 se aproxima, os dois últimos itens dessa lista tendem a assumir as rédeas da discussão política nacional.

Sabendo disso, partidos já começam a veicular nomes para testar a viabilidade de candidaturas que se coloquem como uma opção à polarização hoje representada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dentre os atores ditos de centro que aparecem como presidenciáveis a pouco mais de um ano do pleito, surgem nomes como: os ex-ministros Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sergio Moro (sem partido), além dos governadores tucanos João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e dos senadores Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Simone Tebet (MDB-MS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). A tendência é que essa fila aumente (ver gráfico).

Apesar de nem todos esses manifestarem publicamente interesse em concorrer, é natural que no período anterior à eleição nomes de possíveis candidatos sejam especulados para testar a receptividade com eleitorado e com meio político em geral.

A questão é saber se há viabilidade na terceira via e quem seria seu representante mais consistente. Além do PT de Lula, apenas o PDT de Ciro aparece com uma pré-candidatura fechada. Até mesmo Bolsonaro, que nem partido tem ainda, passou a por em dúvida na última semana sua presença na disputa.

No caso do PSDB, o partido ainda realizará prévias em novembro para decidir dentro do partido. Doria e Leite figuram como principais postulantes

A eventual candidatura de Rodrigo Pacheco estaria atrelada a uma migração do DEM para o PSD. Embora o presidente do Senado não confirme, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tem dado entrevistas sugerindo que a filiação dele é questão de tempo. Sergio Moro, por sua vez, que se distanciou dos holofotes políticos, ainda conta com apoio de alas entusiastas da Lava Jato.

Na última pesquisa DataFolha, divulgada em 9 de julho, Lula aparecia com 46% das intenções de voto ante 25% de Bolsonaro. Dentre os candidatos da terceira via, Ciro Gomes obteve 8%, seguido por Doria (5%), Mandetta (4%) e Eduardo Leite (3%).

Eis o dilema: se por um lado é importante que haja pluralidade, por outro o grande número de postulantes pulveriza a votação e garantiria que Bolsonaro e Lula cheguem ao 2° turno sem dificuldades.

Bolsonaro e Lula criticam possibilidade de terceira via para disputa presidencial em 2022(Foto: Reprodução: Lula (PT.org)/ Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR))
Foto: Reprodução: Lula (PT.org)/ Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR) Bolsonaro e Lula criticam possibilidade de terceira via para disputa presidencial em 2022

A professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), Monalisa Torres, aponta que as eleições presidenciais no Brasil têm sido, em via de regra, polarizadas.

“A gente sempre teve uma candidatura mais à esquerda e uma mais à direita nos últimos 30 anos. O problema agora é que há uma radicalização em cima disso, o que tem prejudicado o debate político”.

“Os afetos tornaram-se orientadores das discussões. O debate político perdeu a capacidade de discutir posições e tem ficado no aspecto emotivo, daquilo que se rejeita”, explica, acrescentando que na medida em que o debate centra-se em questões passionais “a terceira via perde espaço para se movimentar” e que para além disso “o conjunto de candidaturas fragmenta o voto e ao fazê-lo reduz as chances de furar a polarização”.

Por isso, líderes partidários defendem a união de siglas da centro-direita à centro-esquerda em torno de um nome comum e competitivo. Até o momento, as tentativas fracassaram.

A cientista política Paula Vieira aponta que, no cenário atual, tudo que não está à frente nas pesquisas é uma terceira via. “Não vejo ninguém alcançando uma competitividade até agora. Então é normal que testem novos nomes e caminhos para serem construídos”, analisa.

A pesquisadora diz acreditar que ainda é cedo para fechar questão sobre a viabilidade da ideia, mas aponta para a necessidade de “mudança de estratégias” para evitar um resultado diferente do registrado em 2018, quando a polarização se confirmou.

“Quando chegar mais próximo (da eleição) vamos saber quais as estratégias de cada um, mas por enquanto tudo é uma grande simulação para ver como a opinião pública vai repercutir os nomes”, conclui.

Torres destaca que para que o projeto de terceira via funcione é necessário “conseguir trazer o debate para um aspecto mais racional, que discuta o futuro do país a partir do que se deseja, não do que se rejeita”. Em resumo, será preciso construir uma narrativa política que convença o eleitor que há opção além do bolsonarismo e do petismo. Não é tarefa fácil.

“Os nomes da terceira via tentam incorporar, em alguma medida, essa racionalidade. Mas do ponto de vista, de projeto político, o único que tem um projeto e tenta discutir em cima dele atualmente é Ciro Gomes. O PSDB enfrenta problemas internos, o DEM não fechou questão sobre o Mandetta e tem outros nomes que ainda não emplacaram”, finaliza Torres.

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