Em meio à disputa no Centrão pelo comando do Banco do Nordeste, sediado em Fortaleza, Valdemar Costa Neto, dirigente do PL ao qual o presidente Jair Bolsonaro é filiado, conseguiu emplacar José Gomes da Costa como novo presidente interino da instituição. Ele agora acumula a Diretoria Financeira e de Crédito do banco situado no bairro Passaré.
Gomes da Costa ocupará o lugar de Anderson Possa, que volta a controlar somente a Diretoria de Negócios. O novo dirigente é funcionário de carreira de instituição há 38 anos. A mudança havia sido antecipada no início de janeiro pelo O POVO.
A Presidência do banco é cobiçada por lideranças do Centrão - sobretudo do Nordeste -, o conjunto de siglas que dá sustentação ao governo Bolsonaro nas casas legislativas de Brasília. É a região do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), que ganhou poderes sobre o Orçamento de 2022. E também de Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da Câmara dos Deputados.
Em um ano eleitoral, o manuseio do microcrédito, chamado de Crediamigo, é tido como importante ferramenta para ganhos políticos. A carteira de microcrédito urbano do banco é considerada a maior da América do Sul. O peso político disso é o que norteia os movimentos de Valdemar, preso em 2012 após condenação no Mensalão do PT.
Gomes da Costa esteva como superintendente estadual do BNB da Bahia. Ele é economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com MBA em finanças pela Escola de Economia do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Também chama atenção outra informação da biografia do novo dirigente, para a qual Bolsonaro e a base de apoiadores dão importância. Dados da Justiça Eleitoral mostram que Gomes da Costa foi filiado ao PT da Bahia. Desde fevereiro de 2003, na cidade de Lauro de Freitas. A filiação aparece como "excluída" em novembro de 2009 e "cancelada" em junho de 2019. Atualmente, ele não está em nenhum partido.
O passado petista do novo presidente do BNB não incomodou Valdemar. Mas a suposta relação do Instituto Nordeste Cidadania (Inec) com o PT, no final de setembro de 2021, levou o presidente do PL às redes para pedir a demissão de Romildo Rolim do cargo máximo. O motivo apontado foi um contrato de R$ 583 milhões com o Inec. O instituto tinha papel importante, pois era quem operava o Crediamigo e o Agroamigo.
Em nota à época, publicada por O POVO, o BNB afirmou que a parceria com o Inec existia desde 2003 para operação dos dois programas e da gestão administrativa pessoal do banco. A troca de operação, destacou o comunicado, não se mostrava vantajosa. A instituição também afirmou que todos os contratos foram submetidos a auditorias internas e externas, incluindo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), sem que tivessem apresentado qualquer característica de corrupção.
Indicado pelo ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB), em 2017, Romildo Rolim deixou o comando do banco em setembro. "Não fico nesse inferno", desabafou Rolim ao colunista Jocélio Leal, do O POVO, quando da exoneração que se deu sob forte pressão política.
Antes de deixar em definitivo o cargo mais alto do BNB, Rolim havia saído e retornado ao comando do banco, após Alexandre Borges Cabral ocupar o lugar dele como consequência da indicação dos partidos PTB e PL. Foi em junho de 2020.
Mas Cabral saiu do cargo em 24 horas, depois de o jornal Estadão publicar que o TCU o investigava supostas contratações irregulares feitas por ele entre 2016 e 2019, quando presidiu a Casa da Moeda.
Coordenador da bancada do Nordeste no Congresso, o deputado Júlio Cesar (PSD-PI) confirmou ontem que a escolha de Gomes da Costa é de responsabilidade do PL. Lembrou que o partido já havia tentado conquistar antes o comando do BNB para Gomes da Costa, mas não obteve sucesso.
Em nota, o BNB afirmou que o novo presidente Gomes da Costa foi "escolhido pelo Ministério da Economia por sua experiência profissional e acadêmica" e negou a ingerência política na instituição.
A reportagem do O POVO entrou em contato com Valdemar Costa Neto pelo número pessoal dele e pelo da assessoria de comunicação. A equipe do ex-deputado federal encaminhou ao O POVO mensagem dele na qual afirmou que "gostaria muito", mas está sem falar com veículos de imprensa. (com Agência Estado)
Diretores do Banco do Nordeste
JOSÉ GOMES DA COSTA - Diretor Financeiro e de Crédito, acumulando a Presidência Interina
ANDERSON POSSA - Diretor de Negócios
BRUNO RICARDO PENA DE SOUSA - Diretor de Planejamento
HAROLDO MAIA JÚNIOR - Diretor de Administração
LOURIVAL NERY DOS SANTOS - Diretor de Controle e Risco
THIAGO ALVES NOGUEIRA - Diretor de Ativos de Terceiros