Depois de se referir aos nordestinos como "paraíbas", termo pejorativo, Jair Bolsonaro (PSL) suavizou o discurso ontem. Na inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA), o presidente admitiu a uma plateia de 500 pessoas: "Eu amo o Nordeste".
E então citou vínculos com o Ceará: "A minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste. Cabra da peste de Crateús" — o sogro do pesselista nasceu no sertão cearense.
A declaração segue-se à polêmica da última sexta-feira, 19, quando Bolsonaro utilizou a expressão ofensiva, e à disputa pela paternidade das obras do terminal aeroviário com o governador da Bahia (PT), Rui Costa.
O petista, que não participou do evento, vetou a presença da Polícia Militar do Estado para fazer a segurança durante a cerimônia, realizada a partir das 11 horas, com a chegada de voo inaugural da comitiva presidencial. A segurança pessoal de Bolsonaro foi feita pelos agentes da Polícia Federal e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Acompanhado do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), adversário de Costa, o presidente mencionou a ausência do petista, alfinetando-o. "Lamento não estar aqui o governador da Bahia, até porque não podemos concordar com quem quer mudar a cor da nossa bandeira", disse.
Pelas redes sociais, o chefe do Executivo baiano rebateu: "Isso é retórica do presidente para chamar a atenção. Se ele não vai pisar os pés no estacionamento, para que ele quer a PM?", questionou. "Quem está lá dentro é o Exército. Se a pessoa está com receio popular porque está com alta taxa de reprovação, não dá pra sair para lugar nenhum."
Um dia antes, Costa disse ao O POVO que havia desistido de ir à inauguração do aeroporto porque o presidente tinha limitado seus convites para apenas 100 dos 600 disponíveis. O petista também se queixou de que as obras, iniciadas no governo de Dilma Rousseff (PT) e continuadas no de Michel Temer (MDB), "não tinham um centavo" da gestão Bolsonaro.
O presidente, todavia, minimizou a queda de braço. "Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia e nem no Nordeste. Estou no Brasil", discursou. "Não há divisão entre nós. Sexo, raça, cor, religião ou região... Somos um só povo, uma só raça, um só ideal e um só objetivo: colocar esse grande País no lugar que ele merece." Bolsonaro acrescentou: "Somos todos paraíbas, somos todos baianos".
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Sem o principal adversário político, ACM Neto sentiu-se à vontade. "Tenho certeza que o aeroporto vai impulsionar ainda mais a economia de toda essa região e do nosso Estado", escreveu no Twitter. "Sinto orgulho de ter contribuído, como deputado federal, para a realização dessa conquista que deve ser celebrada por todos os baianos."
Presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação criticou Neto e Bolsonaro. "Além de não terem política de investimento para o Nordeste", disse ao O POVO, "eles transformaram um ato de interesse da Bahia e excluíram aqueles responsáveis de participar de um projeto que vai ter repercussão na vida da população do Estado".
A reportagem procurou o deputado federal Heitor Freire (PSL) para avaliar a passagem de Bolsonaro pelo Nordeste, mas não conseguiu retorno nos últimos dois dias. Questionada, a assessoria do parlamentar informou que não havia conseguido localizá-lo.
"Atitude de Rui Costa deve ser reprovada"
Coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL) no Ceará, Carmelo Neto avalia que a passagem de Jair Bolsonaro pelo Nordeste (PSL) foi positiva e que "o presidente fez discurso voltado para geração de emprego e crescimento".
Neto, porém, criticou o governador petista Rui Costa, da Bahia, que, segundo ele, "coloca a sua ideologia acima do povo baiano e do povo brasileiro ao se negar de proteger a figura do presidente da República em uma visita oficial a um estado da federação".
Para o dirigente do MBL, a recusa em encaminhar contingente policial para a segurança do evento de inauguração do aeroporto na cidade de Vitória da Conquista (518 km de Salvador) "deve ser reprovada".
Neto completa: "O chefe do Executivo estadual se colocou numa situação deplorável. Não é o Bolsonaro, não é o presidente do PSL, não é o presidente da direita, é o presidente do Brasil, eleito democraticamente, e essa figura tem que ser respeitada e protegida".
Membro do grupo Endireita Fortaleza, Leonardo Toti diz que a ausência do governador petista em evento com o presidente da República "é demonstração de partidarismo".
De acordo com ele, a visita de Bolsonaro ao Nordeste, a segunda desde que assumiu o Planalto, "não foi uma tentativa de pedir desculpas porque não houve erro da parte dele".
O presidente, prosseguiu Toti, "usou um lugar de destaque do Nordeste" para se referir à região como um todo, sem discriminação. "Bolsonaro não tem nada contra nordestinos."
Durante o evento, o pesselista se referiu às raízes cearenses de sua família. A primeira-dama, Michele Bolsonaro, é filha de um cearense de Crateús. Em discurso, o presidente falou que a filha tem "sangue de cabra da peste".
A visita de Bolsonaro ao Nordeste foi feita num momento de tensão com os governadores, que se reúnem na próxima segunda-feira, 29, em encontro do consórcio formado pelos nove estados.