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Pacote Anticrime: os obstáculos para Moro no Legislativo
Reportagem

Pacote Anticrime: os obstáculos para Moro no Legislativo

Empossado com status de superministro, Sergio Moro ainda tem relação inconsistente com parlamentares. Agora, ele tenta salvar conteúdo do conjunto de propostas "anticrime", em processo de desidratação na Câmara
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APESAR do lançamento publicitário do Projeto Anticrime realizado na última semana — e posteriormente suspenso pelo TCU —, as propostas de Sergio Moro não têm recebido demonstrações de apoio frequentes por parte do Planalto e demais ministros do governo
 (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil APESAR do lançamento publicitário do Projeto Anticrime realizado na última semana — e posteriormente suspenso pelo TCU —, as propostas de Sergio Moro não têm recebido demonstrações de apoio frequentes por parte do Planalto e demais ministros do governo

Se no início do ano os investimentos políticos do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, visavam a aprovação do que ele batizou de pacote anticrime, agora o ex-juiz busca fazer com que a matéria, constituída por três projetos de lei, não perca a essência ou seja desidratada.

O conjunto de medidas anticorrupção, de combate ao crime organizado e crimes eleitorais foi apresentado por ele no dia 4 de fevereiro, no formato de um único texto. Posteriormente, num movimento estratégico, fatiado em três. O propósito foi viabilizar a aprovação de parte, caso o todo fosse inviável, como as ações dos deputados vêm confirmando ser.

Uma das alegações apontadas pelo então juiz para largar a magistratura, após 22 anos, foi a de promover evoluções na legislação anticorrupção. Assim, na defesa da sua maior cartada enquanto ministro, foi à Câmara dos Deputados para audiências públicas, buscou a "bancada da bala".

Conseguiu tornar o deputado Capitão Augusto (PL-SP), de perfil morista, relator de um grupo de trabalho que analisa a proposta na Casa. Mais recentemente, divulgou junto ao Governo Federal publicidade para difundir boa imagem do projeto. O Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu a publicidade, orçada em R$ 10 milhões, sob argumentação de que a matéria ainda será discutida pelo Legislativo.

Augusto, que não falou com O POVO após ligações telefônicas e mensagens por WhatsApp, disse a veículos de imprensa que 25% "substanciais" das propostas foram retiradas. 

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Há a possibilidade de o texto ir direto a plenário, sem passar por comissões. É quando o ministro espera que emendas reconfigurem o texto, adequando-o ao desenho inicial. Outro caminho seria fatiar novamente o projeto, levando alterações do Código de Processo Penal, por exemplo, às comissões, e votando o que for mais simples de ser aprovado.

Estudiosos ouvidos destacaram falta de traquejo político do ministro, agravado pelo aparente abandono de membros do Planalto a ele e ao projeto, sobretudo o presidente Jair Bolsonaro (PSL). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por sua vez, subiu o tom contra o ministro. "Tenta, como sempre, a estratégia permanente dele, a estratégia de um pouco de pressão, de tentar acuar as instituições democráticas deste país", disse à Folha de S. Paulo e Uol.

"É interessante registrar que o governo não faz defesa ferrenha do pacote e ele (Moro) mostrou que não tem habilidade política no trato com os líderes partidários", aponta o cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte.

"Para aprovar pacote desta dimensão, você tem de passar todas as esferas: ter o apoio do Executivo, dos ministros. Impressão é que parte do Executivo não se envolve diretamente", adicionou, recordando o envolvimento de Onyx Lorenzoni (Casa Civil) na aprovação da reforma da Previdência.

.O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, participa do lançamento da campanha publicitária do Projeto Anticrime, do governo federal
.O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, participa do lançamento da campanha publicitária do Projeto Anticrime, do governo federal

Docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), o cientista político Rodrigo Prando analisa que Moro foi transformado, paulatinamente, em "microministro", numa comparação com o momento no qual disse "sim" a Bolsonaro. Para ele, ao transferir o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para a pasta de Paulo Guedes, o presidente desautorizou o ministro.

Este processo de apequenamento, no entanto, se acontece no Poder Executivo, não ocorre na opinião pública. "Me parece, inclusive, que o Bolsonaro, sabendo disso, vê nele um concorrente em 2022."

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