Os dois disparos de arma de fogo que atravessaram o vidro de uma retroescavadeira e atingiram o senador licenciado Cid Gomes (PDT) enquanto ele avançava a bordo da máquina contra o agrupamento de policiais militares, ontem, é o mais elevado ponto da escalada de tensões resultante do movimento paredista dos agentes de segurança pública no Ceará. A paralisação foi deflagrada na última terça-feira, 18, e aderida por parte da tropa.
Até o fechamento destas páginas, o estado de saúde do ex-governador era estável, conforme boletim médico assinado pelo médico Joaquim David Carneiro Neto, diretor técnico do Hospital do Coração de Sobral. Cid realizou tomografia na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, sem que o exame tenha constatado alterações cardíacas ou neurológicas.
Os tiros atingiram a região torácica do ex-governador. Ele retornou ao Hospital do Coração, para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), e de lá aguardará alta médica.
O dia que culminou em toda a tensão em frente ao 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), no município berço político da família Ferreira Gomes, se iniciou horas antes, a partir as redes sociais.
O ex-governador havia publicado vídeo no qual se dizia consternado com as informações que àquele momento chegavam, por volta de 15 horas. Na cidade, durante o dia, viaturas guiadas por policiais integrando o movimento paredista circularam ordenando que o comércio fechasse as portas.
"Não consigo me conformar. Poderia ter uma atitude que já tive como governador, de apelar para a autoridade federais, esperar que as coisas se resolvessem. Acho que governador tem que fazer isso mesmo, mas eu, como cidadão, estou indo agora para Sobral", disse o senador aos seguidores.
Ele convocou "cada irmão e irmã sobralense do bem" a ir ao Aeroporto Coronel Virgílio Távora recebê-lo para, conjuntamente, "definir uma estratégia para dar paz para a cidade."
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Já nos arredores do 3º Batalhão e em cima de um trator, na companhia do secretário municipal Erlânio Matoso (Segurança Pública e Cidadania) e da vice-prefeita Christianne Coelho, Cid voltou à carga. Se disse desarmado, assegurando que enfrentaria quem armado estivesse.
"Eu vi cenas deploráveis, vi carros da Polícia com pessoas sem farda dentro dos carros, mandando comerciantes fecharem suas portas. Vi cenas de carros de polícia com pessoas, marginais à paisana, com arma em punho, amedrontando e querendo intimidar o povo da minha terra. Ninguém vai fazer isso impunemente, os que fizeram serão responsabilizados", ele apregoou.
Antes de sofrer os disparos, Cid ainda levou soco no rosto de um dos manifestantes. "Vocês têm cinco minutos para pegar os seus parentes, as suas esposas, os seus filhos (calma!) e sair daqui em paz, cinco minutos", bradou o político, auxiliado por um megafone, ao que um grevista disse que ele "não tem autoridade" para realizar o ultimato. Foi quando o contato físico entre os dois se iniciou, pessoas se aglomeraram, e um soco foi direcionado ao senador.
Instantes depois, passados alguns minutos, o senador tomou o controle do trator e avançou contra os agentes paredistas. Cid e o grupo estavam separados por grade de ferro, empurrada durante o deslocamento do senador a bordo da máquina. (colaboraram Carlos Mazza e Matheus Facundo)
Camilo Santana
"Inaceitável a extrema violência sofrida pelo senador Cid Gomes, atingido por dois tiros, hoje, em Sobral. Violência provocada por um grupo de policiais mascarados, amotinados num quartel. (...) Esses crimes não ficarão impunes! Não mediremos esforços para restabelecer a ordem e garantir a paz da população cearense."
Roberto Cláudio
"Venho me solidarizar com o meu amigo de grande espírito público, o Senador Cid Gomes. A sua coragem de lutar pela população, somada à determinação de agir na defesa da coletividade, comprovam, mais uma vez, o seu notável caráter de líder da mais alta grandeza"
Eduardo Bolsonaro
"(Cid) Tenta invadir o batalhão com uma retroescavadeira e é alvejado com um projétil de borracha. É inacreditável que um Senador da República lance mão de uma atitude insensata como essa, expondo militares e familiares a um risco desnecessário em um momento já delicado"
Ciro Gomes
"Deputado Eduardo Bolsonaro, será necessário que nos matem mesmo antes de permitirmos que milícias controlem o Estado do Ceará como os canalhas de sua família fizeram com o Rio de Janeiro."
Tasso Jereissati
"Gostaria de expressar meu sentimento de profunda indignação e repúdio em relação ao episódio acontecido hoje (ontem), ao mesmo tempo em que presto solidariedade ao senador Cid Gomes, vítima de uma violência inaceitável e criminosa. Desejo sua breve recuperação, na certeza da punição rigorosa dos que cometeram este ato"
Davi Alcolumbre
"Acompanho com preocupação os desdobramentos do ocorrido com o senador Cid Gomes em Sobral, no Ceará. Entrei em contato o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e com o governador do Ceará, Camilo Santana, para obter informações e garantir a segurança do parlamentar"