Um dos representantes dos policiais militares na mesa de negociação salarial na semana passada, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) defendeu ontem que Governo do Estado e profissionais de segurança precisam ceder para chegar a um acordo em torno do reajuste da categoria, que paralisou atividades na última terça-feira, 18.
"Ambos os lados têm que ter a consciência de que têm que ceder. Os policiais têm que ceder um pouco, o governo tem que ceder um pouco", disse Wagner, no Palácio da Abolição. Acompanhado de representante do Ministério dos Direitos Humanos e de outros dois deputados, ele havia requisitado uma reunião com o governador Camilo Santana (PT) para tratar da suspensão dos trabalhos dos militares, mas não foi recebido pelo petista.
"A gente lamenta muito. Uma comitiva vem ao Ceará para tentar mediar uma solução para esse problema, que já perdeu o controle", relatou Wagner. "Recebemos um chá de cadeira de mais de uma hora, e veio a notícia de que nem o governador nem o chefe de gabinete poderiam receber a comitiva. Acho que isso é demonstração de que o Governo não quer dialogar, quer agir na força."
Além da reabertura da mesa de negociação, Wagner afirmou que os "representantes (dos PMs) não são mais legítimos para qualquer negociação" e que o "Governo tem que encontrar um outro interlocutor para tentar convencer até onde ele pode chegar", sem dizer quem falaria pelos policiais caso as conversas sejam reiniciadas. O Estado, no entanto, descarta essa possibilidade.
De acordo com Wagner, que chegou a gravar vídeo distribuído nas redes sociais no qual considerava o acordo com o Governo um avanço histórico, "os presidentes de associações de militares tentaram evitar a paralisação, mas a categoria não aceitou" os termos da proposta. Pela tabela, um soldado passará a receber R$ 4,5 mil ao fim de 2022 e um coronel, R$ 20 mil.
Do Abolição, o deputado, que é pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza e adversário do grupo político de Camilo, seguiu de carro até o 18º BPM, no bairro Antônio Bezerra.
O quartel foi ocupado inicialmente por esposas de militares e depois por policiais no começo da tarde de terça-feira, mesmo dia em que a mensagem com o reajuste dos militares foi lida na Assembleia Legislativa (AL-CE) e começou a tramitar.
Quarenta e oito horas depois, a unidade permanece sob comando dos PMs, que bloquearam as vias de acesso com viaturas. No local, Wagner, o ex-deputado federal Cabo Sabino e o deputado estadual Soldado Noelio (Pros) discursaram à tropa no pátio do batalhão.
"Eu não vim aqui para inflamar greve, eu vim para solucionar o problema", começou o deputado federal. "A gente não pode ficar inflamando. Até porque a gente sabe que, se vier de lá pra cá gente inflamada, vai acontecer o que aconteceu em Sobral", disse, referindo-se aos tiros disparados contra o senador Cid Gomes (PDT) ao tentar retomar um quartel avançando com um trator na direção dos policiais naquele município.
"É claro que o senador foi irresponsável e tentou matar aquelas pessoas. Se vierem com extremismo pra cá, a sociedade vai ficar contra eles. Nós também não podemos ter extremismo", continuou o parlamentar, que fez ontem boletim de ocorrência contra Cid. A queixa de tentativa de homicídio e dano ao patrimônio foi registrada no 34º DP, no Centro.
Ainda falando aos policiais, o deputado tentou reduzir a temperatura no 18º BPM. "Tenho certeza de que nenhum pai ou mãe de família está aqui para tentar fazer greve", avaliou. "Está aqui para tentar negociar com o Governo melhores condições de trabalho, e isso precisa ficar muito claro."
O grupo, porém, tem dificuldade de nomear um interlocutor que tenha canais com o Governo e a Assembleia para rediscutir a mensagem de reajuste. Depois do encontro, Wagner, Sabino, Noelio e o vereador Sargento Reginauro (sem partido) se reuniram no quartel. Minutos depois, Sabino sentou-se com a tropa para formalizar uma proposta, a ser remetida ao Abolição para análise.