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"Eu teria cortado a cabeça dele", diz Onyx sobre 'desafeto' Mandetta
Reportagem

"Eu teria cortado a cabeça dele", diz Onyx sobre 'desafeto' Mandetta

Em diálogo com Osmar Terra, ministro da Cidadania atacou o titular da Saúde, com quem diz não falar há dois meses, aumentando ainda mais a tensão interna
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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil PROCESSO de "fritura" de Mandetta segue na ala "ideológica" do governo

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) discutiram, na manhã de ontem, a saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em conversa divulgada pela CNN Brasil, Onyx diz que não fala com Mandetta há dois meses e que, se estivesse na cadeira do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), teria "cortado a cabeça" dele após a reunião no Palácio do Planalto na última segunda-feira, 6.

No diálogo, Terra se propõe a ajudar na saída do ministro da Saúde. O deputado, que também é médico, defende a flexibilização do isolamento social e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, mesmo ainda sem pesquisas conclusivas sobre a eficácia e efeitos colaterais ou adversos do medicamento. Por se tornar uma voz contrária a Mandetta e alinhado ao que deseja o presidente, Terra passou a ser cotado para chefiar a Saúde.

A conversa indica que, apesar dos esforços da ala militar para estabelecer uma trégua entre Bolsonaro e Mandetta, a fritura do ministro da Saúde segue em alta nos bastidores por seus colegas de Esplanada e por auxiliares do presidente alinhados à ala ideológica.

De acordo com o trecho da conversa divulgada pela CNN, Onyx elogia Terra por fazer um contraponto a Mandetta. "Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo", diz o ministro da Cidadania. O deputado responde dizendo que Mandetta "se acha."

"Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)...", diz Onyx, segundo o trecho transcrito pela CNN. Terra, então, diz que "o ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro".

"Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu tivesse na cadeira... O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele...", diz Onyx.

Em resposta, o deputado chama a atenção para a fala do ministro da Saúde após a reunião de segunda-feira. Em declaração à imprensa, sem o aval do Planalto, Mandetta, após ser aplaudido por técnicos da pasta, anunciou que seguiria no cargo e pediu paz para trabalhar. Em sua fala, porém, deu vários recados. Reafirmou que as orientações de governadores sobre isolamento devem ser seguidas e citou "O Mito da Caverna", texto do filósofo grego Platão, que discute o conflito entre a ignorância e o conhecimento.

"Eu fui ler 'O Mito da Caverna', que é um dos diálogos de Platão que eu tinha lido aos 14 anos pela primeira vez e já li umas 20 vezes até e até hoje não consigo entender. Continuei sem entender", disse o ministro aos jornalistas.

Sobre as declarações de Mandetta, Onyx comentou: "Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele há dois meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai, vai acabar indo para a Secretaria do Doria", disse referindo-se ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), antigo aliado de Bolsonaro e que hoje é alvo preferencial de bolsonaristas pela posição em prol do isolamento da população. O estado paulista concentra o maior número de casos e mortes decorrentes de coronavírus.

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Segundo o trecho divulgado pela CNN, Terra responde dizendo que ajuda e que ele não precisa ser indicado o substituto de Mandetta. "Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser."

Onyx Lorenzoni e Osmar Terra foram procurados pela reportagem, mas, por meio de suas assessorias, alegaram se tratar de uma conversa particular e não se manifestaram sobre o diálogo.

No fim da tarde de ontem, havia a previsão de Mandetta participar da entrevista coletiva no Planalto sobre os dados da pandemia do coronavírus no País, como vem sendo feito nos últimos dias. Logo após a divulgação da conversa, a participação do ministro foi cancelada. (Agência Estado)

 

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