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Juros imobiliários em alta: é o fim das boas oportunidades?
Reportagem

Juros imobiliários em alta: é o fim das boas oportunidades?

Mercado Imobiliário| Em julho, os bancos começaram a reajustar as taxas do financiamento imobiliário. Analistas avaliam o impacto desta e outras mudanças que devem influenciar o mercado nos próximos meses
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Novas regras aquecem mercado imobiliário (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira Novas regras aquecem mercado imobiliário

A alta da taxa básica de juros (Selic) para 4,25% ao ano já começa a se refletir nos juros praticados pelas instituições financeiras. Em julho, a maioria dos grandes bancos reajustou os juros cobrados para o crédito imobiliário em até um ponto percentual. E deve subir mais nos próximos meses, acompanhando a tendência de alta da Selic, que deve terminar o ano em 7%, segundo projeção mais recente do Boletim Focus, do Banco Central.

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O movimento começou em 9 de julho, quando o Santander elevou a taxa mínima de 6,99% para 7,99%. No dia 15, foi a vez do Bradesco e da Caixa formalizarem o aumento de suas taxas, segundo o site comparador de financiamento de imóveis MelhorTaxa. O Banco do Brasil informou que também promoveu ajustes pontuais em algumas faixas específicas do crédito imobiliário, mas manteve a taxa de entrada de 6,29% ao ano + TR.

Apenas o Itaú ainda não confirmou alterações. Mas é uma questão de tempo, explica a coordenadora de crédito imobiliário da MelhorTaxa, Priscilla Basso. “O ritmo é sempre o mesmo, geralmente tem uns bancos que saem na frente, outros esperam um pouco mais. Mas sempre que a Selic sobe é natural que os bancos também elevem os juros”

A forma é que, muitas vezes, pode variar de banco para banco. “Tem bancos que alteram por segmento, outros por score (nota atribuída pelo banco com base no histórico e relacionamento do cliente com instituição), mas basicamente é feito por todos”.

Contudo, não é somente o custo do financiamento que está mais caro. Pressionado pela inflação dos materiais de construção e pela forte demanda por imóveis na pandemia, o valor das unidades em si também está subindo em Fortaleza. Dados do Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) mostram que até junho a variação acumulada nos preços dos imóveis foi de 1,75%. No Brasil, a alta é de 6,04%.

O indicador é medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), com base nos laudos de imóveis financiados pelos bancos.

Ou seja, quem adquirir um imóvel agora vai pagar mais caro, por exemplo, do que quem comprou no ano passado ou em 2019. E a tendência é de que, quanto mais o tempo passe, maior o valor que precisará ser desembolsado, afirma a advogada e especialista em financiamento imobiliário, Daniele Akamine.

“Na minha opinião, ainda é um bom momento para comprar um imóvel, mas quem deixar mais para o fim do ano ou para o ano que vem pode pegar uma situação bem mais adversa”.

Ela explica que, no início do ano, a previsão era de que a Selic fechasse o ano em 5,5%. “Hoje já se fala em 7% em 2021. Com isso, a taxa média de juros do financiamento imobiliário que era em torno de 6,7% deve fechar o ano em dois dígitos. O que acaba impactando o poder de compra do consumidor”, reforça Akamine.

Apesar da tendência de alta, o consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn, não acredita que essa seja “a última janela de oportunidade para comprar imóvel barato”. Ele vê, muito mais, como um período de acomodação do mercado.

Ele explica que as circunstâncias de curto prazo - como a pandemia e, mesmo antes, o Brasil já enfrentava uma forte crise econômica - nortearam a decisão do Banco Central de reduzir a política de juros nos últimos anos. Logo, já era esperado que, com o início da retomada econômica e o avanço da vacinação, esse padrão de juros fosse recomposto. Até como uma forma de tentar frear o avanço da inflação, que também está em alta.

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“Não dá para ser simplificar tanto as coisas, até porque esse é um mercado muito cíclico. Sim, devemos ter pela frente aumento de taxas de juros, mas ainda estamos em um período de juros excepcionalmente baixos, antes a Selic ficava em dois dígitos”.

Para ele, é preciso considerar também outras variáveis. “Vai impactar o mercado? vai, mas há um outro lado também. Não sabemos até que ponto isso vai afetar o apetite dos clientes e, se a demanda cair, como vai rebater no ímpeto das construtoras em elevar seus preços”.

Mudança nos juros

Santander - Subiu um ponto percentual. Está com taxas partir de 7,99% (taxa bonificada) e 9,99% (sem bonificação)

Bradesco - Subiu 0,2 ponto percentuais. A partir de 6,90% (Prime),7,10% ( Exclusive) e 7,30% (Classic)

Itaú - Ainda não alterou. A partir de 6,70% (Personalité), 6,80% (Uniclass) e 7,30% (agência)

Caixa - Subiu 0,5 ponto percentual em algumas faixas. Na Caixa- Poupança (a partir de 3,35% Índice de poupança); Caixa - TR (a partir de 7% TR); Caixa IPCA (a partir de 3,55% IPCA); Caixa - Taxa de juros Fixa (a partir de 8,25%)

Banco do Brasil - Manteve a taxa de entrada de 6,29% ao ano TR, mas fez ajustes em outras faixas

Fonte: instituições financeiras e site Melhor Taxa

O que dizem os bancos

Itaú - O banco não deu detalhes sobre os juros. Informou que, "como a Selic é um componente importante na precificação das taxas para os clientes - que também levam em consideração as condições de mercado, custos operacionais, tributos e inadimplência no preço final - sua alta teve impacto em alguns produtos".

Caixa - O banco informou que a definição dos juros se baseia na análise de fatores mercadológicos e conjunturais dentro das regras prudenciais de definição das condições do crédito. "A Caixa ressalta ainda que está em constante busca pelo equilíbrio financeiro de suas operações e pela adoção das melhores taxas do mercado"

Banco do Brasil -
O banco destacou que promoveu ajustes pontuais em algumas de suas linhas, mas manteve a taxa de entrada de 6,29% ao ano TR. "O BB monitora e avalia permanentemente os fundamentos do mercado e a concorrência, sempre no propósito de estabelecer sua política de preços em condições competitivas."

Bradesco - Informa que alteração da taxa mínima de 6,70% para 6,90% ao ano mais TR no Sistema Financeiro Habitacional, mas que as demais condições, que incluem "comprometimento de renda em 30% da renda familiar, quota de financiamento de 80% e o prazo de até 360 meses", permanecem inalteradas.

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