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Empresas avançam em iniciativas para garantir maior presença e voz para mulheres
Reportagem

Empresas avançam em iniciativas para garantir maior presença e voz para mulheres

Dia da igualdade feminina| Licença-maternidade estendida, processos seletivos exclusivos, programas de formação de lideranças são algumas das estratégias previstas pelas empresas para ampliar equidade de gênero no ambiente corporativo
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Ilustração  (Foto: Getty Images com interferência de Letícia Bernardo)
Foto: Getty Images com interferência de Letícia Bernardo Ilustração

O dia 26 de agosto, transcorrido na última quinta-feira, é reconhecido internacionalmente como um dia de luta pela igualdade feminina. No Brasil, quando se olha para a ocupação de espaços no mercado de trabalho, ainda há muito o que avançar. Além de serem minoria em cargos de direção das empresas, dados do Ministério do Trabalho mostram que no Ceará, quando elas chegam lá, ganham, em média, 22,4% menos que os homens. Mas, a boa notícia é que estão crescendo as iniciativas de empresas para avançar na equidade de gênero no ambiente corporativo.

Neste mês, por exemplo, a Votorantim Cimentos iniciou a operação do seu novo Centro de Distribuição (CD), em Juazeiro do Norte, com 100% da equipe formada por mulheres. E a Solar Coca Cola, com operação em dez estados, incluindo o Ceará, criou neste ano um programa específico de inclusão e diversidade para acelerar as transformações na empresa.

Centro de Distribuição da Votorantim Cimentos em Juazeiro do Norte.
Centro de Distribuição da Votorantim Cimentos em Juazeiro do Norte. (Foto: fotos Divulgação)

Não é um movimento isolado. E vem a reboque de uma pressão que é global para que as empresas aperfeiçoem suas práticas de governança, ambientais e sociais (ESG). O consumidor também está mais atento na hora de escolher de onde comprar seus produtos.

A procuradora regional do trabalho Adriane Reis, que está à frente da Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades, reforça que, aos poucos, as empresas estão entendendo que a diversidade é lucrativa.

“A empresa aumenta a lucratividade em cerca de 20% quando tem um ambiente de trabalho diverso, com pessoas de diferentes raças, gêneros, orientações sexuais ou pessoas com deficiência em espaços de tomada de decisão.”

Isso ocorre não somente porque a diversidade torna o ambiente de trabalho mais acolhedor, com menos ocorrências como violência ou assédio, mas também porque essa pluralidade de vozes amplia a visão da empresa. “A diversidade permite olhar os produtos oferecidos pelas empresas a partir das necessidades dos mais diversos grupos sociais.”

Ela alerta, no entanto, que mais do que um “discurso da porta para fora”, é essencial internalizar ações para criar uma nova cultura de trabalho. E o mais difícil nesse processo é romper com a naturalização da desigualdade de gênero.

“A gente ainda vê tanto situações mais explícitas de desigualdade, como um homem que ganha o triplo de uma mulher com a mesma qualificação e ocupando o mesmo tipo de cargo, como também situações mais veladas, como uma piadinha sobre TPM, interrupção frequente da fala da mulher ou a desqualificação dela como uma maneira de estabelecer hierarquia entre gêneros.”

A pesquisa Diversidade global e inclusão, da PwC Consultoria, feita com mais de 3 mil pessoas, em diversos cargos e funções, de 25 indústrias em 40 países diferentes, mostra que a diversidade é tida como prioridade para 76% das empresas.

Mas, quando se trata de líderes participantes, 79% dos gestores não se encontram engajados com as práticas de diversidade da empresa. Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, explica que para dar certo é essencial o envolvimento em todos os níveis da empresa. E não basta focar apenas em democratizar o acesso na hora de fazer a seleção, é preciso ter estratégias para reter talentos.

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Ela afirma que, historicamente, são muitos os casos em que as mulheres entram nas empresas, em estágio iniciais de contratação, em percentuais até maiores que os dos homens, mas na medida em que ela vai subindo em termos de carreira, deixa o trabalho.

“Seja pela pressão, por julgar que há excesso de trabalho, pela maternidade. É preciso políticas inclusivas para que as mulheres consigam alcançar um maior equilíbrio entre atividade profissional e pessoal”.

Ela cita como exemplo de ações assertivas desde a concessão de licença-maternidade estendida, criação de comitês de inclusão e diversidade, processos seletivos exclusivos para mulheres, flexibilidade de horários, a programas de mentoria para identificar talentos que podem ser desenvolvidos para chegar ao mais alto nível na carreira.

Conceitos que você não pode deixar de entender em pleno 2021:

Feminismo

Não é o oposto do machismo, pois não visa oprimir o sexo masculino para "inverter" papeis de submissão e inferioridade. É um movimento político, social e filosófico que luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. Existem diversas correntes e teorias sobre o feminismo, as quais são diferentes nas suas premissas e nas conclusões.

Mansplaining

Quando um homem explica algo a uma mulher, geralmente coisas óbvias, e o faz de maneira tão condescendente porque dá como certo que sabe mais do que ela. O termo ganhou força, em 2008, no ensaio escrito por Rebecca Solnit, "Os Homens Explicam Tudo para Mim", no qual ela relata uma situação vivenciada por ela em uma festa: um homem tentando lhe esclarecer do que se tratava um livro que ela mesma tinha escrito. 

Manterrupting

É óbvio que, de modo geral, ninguém gosta de ser interrompido, mas essa situação acontece com tanta frequência com mulheres, especificamente no ambiente corporativo, que ganhou um termo próprio: manterrupting. Da junção das palavras man e interrupting (do inglês, homem e interromper, respectivamente), o termo significa, literalmente, interrupções masculinas. Acontece quando um homem interrompe a fala de sua colega durante uma reunião ou apresentação e não a deixa continuar a expor sua ideia.

Patriarcado

É o sistema sociopolítico em que o gênero masculino e a heterossexualidade têm supremacia sobre outros gêneros e sobre outras orientações sexuais. Começou a ser usado nos anos sessenta e setenta, para se referir a uma sociedade na qual, além de prevalecerem os critérios dos homens (patriarcado), as pautas são ditadas exclusivamente por aqueles que consideram apenas a heterossexualidade como algo "normal". Podemos afirmar que, hoje, é a manifestação política e visível do machismo e da rejeição às diferentes identidades e orientações sexuais.

Teto de vidro

São as barreiras para a ascensão na carreira, principalmente no acesso a cargos de gestão, mando e decisão para as mulheres. Esta barreira é tão sutil e transparente, mas ainda assim tão forte, que evita - por meio da falácia fundamentada na "incapacidade" da mulher para o exercício da função ou da falta de interesse - que as mulheres avancem na hierarquia corporativa e/ou institucional. Deve ser vista como um problema coletivo porque se aplica a todas as mulheres que são impedidas de avançar na hierarquia porque são mulheres

Interseccionalidade

É a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação, em que se registram as diferentes experiências de opressão feminina para uma resposta e enfrentamento mais efetivo do problema. Por exemplo: a diferença de remuneração e escassez de oportunidades no Brasil é grande entre homens e mulheres, mas essa é uma condição que pesa de maneira muito mais perversa sobre mulheres negras e mais ainda para aquelas que pertencem às classes mais baixas de renda.  

Masculinidade tóxica

Conjunto de comportamentos e práticas relacionadas aos padrões esperados e tolerados de manifestação da masculinidade, responsáveis pelo agravamento do risco de violência, adoecimento mental e morte, tanto de homens como de mulheres. Um exemplo de manifestação da masculinidade tóxica é a possessividade em relação à mulher num relacionamento.

Fonte: Guia Conceitos fundamentais para a promoção da igualdade de gênero no trabalho do MPT

 

 

Você sabia?

Não faz nem 60 anos que no Brasil as mulheres receberam o aval legal para trabalhar fora sem precisar da autorização legal do marido. Pelo menos era essa a determinação prevista no Código Civil de 1916, até a edição da Lei 4.121/1962, denominada Estatuto da Mulher Casada. Trabalhar à noite também não era possível a todas as mulheres, antes do advento da Constituição de 1988. 

 

A origem do Dia Internacional da Igualdade Feminina

O Dia Internacional da Igualdade Feminina celebrado no dia 26 de agosto é considerado um marco da luta por igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. A data tem origem nos Estados Unidos, quando em 1920, foi aprovada a 19ª emenda da constituição americana que dava às mulheres o direito ao voto.

Esse foi considerado um dos primeiros grandes marcos do feminismo no mundo. E só foi possível graças ao movimento sufragista, composto por mulheres de diversas classes sociais que chegaram a recorrer à desobediência civil para garantir o direito de votar.

No Brasil, as mulheres só tiveram esse direito assegurado por lei em 1932. 

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