A nova temporada de exportação de frutas frescas, que tem início hoje com a chegada do navio MSC Caterina ao Porto do Pecém, traz a expectativa do terminal cearense em se manter na liderança do envio deste tipo de carga ao exterior e do Ceará, como estado produtor, sustentar o posto de 5º maior exportador do País.
Neste ano, a cautela devido à crise deflagrada pela pandemia faz porto, transportador e produtores não arriscarem uma expansão dos números logo no início dos embarques. No entanto, os indicadores do ano passado - que representou uma expansão de 62% sobre 2019 - significam bons resultados se mantidos.
Em 2020, enquanto o Ceará fez girar US$ 69 milhões a partir do envio de frutas frescas ao exterior - 12% mais do que em 2019 -, o Pecém movimentou 21.928 TEU's (capacidade de carga de um container marítimo normal, de 20 pés de comprimento, por 8 de largura e 8 de altura) - 31,68% do que foi exportado neste nicho no País.
Além da produção local, o terminal embarca frutas vindas de outros estados do Nordeste, e tem vencido a disputa com o conterrâneo Porto de Fortaleza e os demais da Região, segundo ranking da consultoria Deltamar.
"O embarque de frutas é uma das principais operações do Porto do Pecém, um terminal que tem localização estratégica para o sucesso desse tipo de movimentação. Saindo daqui, as frutas produzidas no Nordeste chegam mais rapidamente aos Estados Unidos e a Europa. Por isso, a simples manutenção desse serviço, em meio a uma pandemia, já é motivo de celebração para todos nós que estamos envolvidos nesse processo importante para a fruticultura brasileira", enfatiza Danilo Serpa, presidente do Complexo do Pecém.
Responsável pelo primeiro navio da temporada, a MSC compartilha da análise de Serpa e diz encarar "a safra da fruta como um movimento estratégico na expansão" da companhia. Com foco nos mercados da Europa e Mediterrâneo, de onde consegue atender o Oriente Médio, a empresa diz acompanhar as negociações de maior volume para atender os exportadores.
"Infelizmente, essa operação só acontece em uma parte do ano que é quando a gente coloca esse serviço aí. Gostaria de ter mais volume e participar de outras cargas para manter o serviço o ano interior, mas por enquanto é o que a gente consegue fazer", avalia Elber Justo, diretor-presidente da MSC no Brasil.
Apesar da sazonalidade, as frutas frescas representam a segunda maior pauta de exportação da agropecuária cearense, segundo dados compilados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet). Entre 2019 e 2020, foi uma das 4, de dez culturas, que obteve expansão no envio de cargas ao exterior.
Perguntado se enxerga algum outro item movimentado no Porto do Pecém que possa impulsionar as operações da empresa no terminal, Justo afirmou que "não existem cargas que justificaria uma mudança do nosso perfil em relação ao Pecém".
Mas até o principal item visado pela MSC enfrenta desafios nesta nova temporada da safra, e isso deve-se à afamada crise dos contêineres. O problema nasceu quando a China voltou a consumir em plena pandemia, enquanto a maioria do mundo ainda estava de portas fechadas, e todas as cargas convergiram para os portos chineses.
O efeito foi uma superlotação dos terminais e aumento do frete para que os contêineres levados ao Oriente pudessem ser direcionados a outros países de onde seriam carregados e reenviados.
"Existe ainda uma ruptura no fornecimento global tanto de contêineres quanto de navios. Isso basicamente é causado pelos atrasos dos navios em portos estrangeiros adicionados aos atrasos que a gente tem aqui no Brasil também", observa Justo.
O próprio MSC Caterina tinha previsão de chegar ao Pecém na última semana, mas só conseguiu atracar no porto nesta quinta-feira, 2 de setembro. Os próximos embarques, segundo o cronograma do Complexo do Pecém, estão previstos para 3 e 10 de setembro, se não houver problemas de trânsito em outros portos.
"Isso afetou a movimentação de todo mundo, e esse vai ser o grande desafio dessa safra: a gente conseguir dar um atendimento a cargas que precisam de tempo de trânsito confiável numa realidade de mercado que está totalmente bagunçada", ressalta.
Dentro da normalidade, o principal destino na Europa, Roterdã, é feito em 12 dias saindo do Pecém. Já Londres levam 14 dias, enquanto Valência e Barcelona, na Espanha, são 9 e 11 dias, respectivamente. Além da MSC, Hapag e Maersk também levam frutas do Pecém para o exterior.
"Acho que é um momento desafiador. Não sei é dentro ou pós-pandemia. Creio que o consumo de frutas frescas na Europa mudou também e aumentou bastante. Vejo isso como oportunidade grande para a safra, para o Pecém e para o nosso negócio", arremata Elber Justo.
Números de 2020 a serem batidos
Frutas mais
exportadas no Ceará
1. Melões
US$ 50.493.166
2. Melancias
US$ 8.301.618
3. Bananas
US$ 5.995.867
4. Mangas
US$ 1.828.110
5. Mamões
US$ 1.304.456
6. Outras frutas
US$ 1.584.829
Principais estados exportadores de frutas
1.Pernambuco
US$ 185.943.232
2.Bahia
US$ 182.068.956
3.Rio Grande do Norte
US$ 147.700.088
4.São Paulo
US$ 105.261.994
5.Ceará
US$ 69.508.046
6.Rio Grande do Sul
US$ 44.454.587
7.Espírito Santo
US$ 22.126.662
8.Santa Catarina
US$ 17.816.835
Fonte: ComexStat
Elaboração: Sedet
Peso
As frutas são a segunda principal pauta de exportação do Ceará. Enquanto as exportações totais do Ceará tiveram queda de 18,5% em 2020 em comparação a 2019, a fruticultura cresceu 12%.