A distância entre a renda dos mais ricos e a dos mais pobres está caindo na região metropolitana de Fortaleza. No segundo trimestre deste ano, o coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda, atingiu 0,604 pontos. É o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2018 e o segundo menor nível de desigualdade no Nordeste. Porém, o que parece ser uma boa notícia, não é. Além de ser um patamar muito elevado, esconde um dado muito preocupante: a renda média per capita, de R$ 816, atingiu o pior nível em quase dez anos.
Entre os 40% mais pobres, a renda média per capita advinda do trabalho é de apenas R$ 134 mensais. Queda de 35,58% em relação à remuneração dessas famílias no último trimestre que antecedeu a pandemia (4º trimestre de 2019). Mas um cenário um pouco melhor do que se observava no auge da crise pandêmica, no 2º trimestre de 2020, quando a renda média per capita desse público chegou a míseros R$ 98.
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Os dados estão na quinta edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
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O estudo utiliza microdados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esses números levam em conta a inflação e refletem apenas os ganhos com atividades profissionais. Ou seja, recursos de benefícios sociais, como auxílio emergencial e aposentadorias, não entram no cálculo.
“A desigualdade está caindo na região metropolitana de Fortaleza, volta até melhor do que no pré-pandemia, mas é um patamar ainda muito elevado e com renda média caindo. É diferente, por exemplo, do que se via em 2013 e 2014, quando se tinha crescimento econômico, e a desigualdade caiu porque todos estavam ganhando mais e os mais pobres proporcionalmente mais”, explica o professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, André Salata, um dos coordenadores do boletim.
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A pandemia teve um impacto perverso na renda dos moradores da Grande Fortaleza. No auge da crise, no segundo trimestre de 2020, o coeficiente de Gini atingiu 0,675 pontos. O pior desde o início da série histórica feita pelo Observatório das Metrópoles, iniciada em 2012. Acima da média brasileira (0,656 pontos).
No Nordeste, o resultado estava atrás apenas da concentração de renda das regiões metropolitanas de João Pessoa (0,722), Recife (0,682) e Salvador (0,681).
Para se ter uma ideia, naquele momento, os 10% mais ricos da RMF recebiam, em média, 53,5 vezes mais do que a renda per capita dos 40% mais pobres. Um ano depois, essa distância diminuiu, mas eles seguem ganhando 27,4 vezes mais.
Mas Salata explica que a desigualdade caiu na RMF porque a retomada da economia está trazendo uma tímida melhora na renda das famílias mais pobres em relação ao auge da crise pandêmica, mas, principalmente, porque a renda dos mais ricos vem caindo com mais força.
A redução da renda média per capita dos 10% mais ricos (-37,28%) é mais acentuada do que a observada nas demais faixas de renda em igual período.
Também chama atenção que, mais do que em outras metrópoles, em Fortaleza, a deteriorização da renda vem se dando há mais tempo. Desde 2015, na verdade. Mas, no caso dos 10% mais ricos, essa piora ocorre de forma mais consistente a partir do terceiro trimestre de 2019. Enquanto que entre os 40% mais pobres e entre os 50% da população que estão na faixa intermediária, o impacto na renda do trabalho acelera a partir do início de 2020.
De modo geral, nas regiões metropolitanas brasileiras, o nível de desigualdade vem caindo em relação ao auge da pandemia. Mas não de forma consistente e tampouco voltou aos patamares de 2019 que já estavam em patamar muito elevado. E a renda das famílias vem caindo. No Brasil, o segundo trimestre de 2021 foi o sexto consecutivo de queda na média de rendimentos.
O que, na visão de Salata, deixa claro que a atividade econômica e o mercado de trabalho ainda não ganharam a tração desejada nas regiões metropolitanas.
O que é o Observatório das Metrópoles
O Observatorio das Metrópoles é um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) que trabalha de forma sistemática e articulada sobre os desafios metropolitanos colocados ao desenvolvimento nacional. O programa é conduzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) e é composto atualmente por 380 pesquisadores vinculados à instituições de ensino superior, distribuídos pelos 16 núcleos regionais da rede