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Desigualdade cai na Grande Fortaleza, mas renda média atinge pior nível em quase dez anos
Reportagem

Desigualdade cai na Grande Fortaleza, mas renda média atinge pior nível em quase dez anos

Estudo produzido pelo Observatório das Metrópoles mostrou que a renda média advinda do trabalho na região metropolitana de Fortaleza segue em queda e alcançou o pior nível desde 2012
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Famílias pedindo comida nas ruas de Fortaleza no segundo trimestre de 2021 (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Famílias pedindo comida nas ruas de Fortaleza no segundo trimestre de 2021

A distância entre a renda dos mais ricos e a dos mais pobres está caindo na região metropolitana de Fortaleza. No segundo trimestre deste ano, o coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda, atingiu 0,604 pontos. É o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2018 e o segundo menor nível de desigualdade no Nordeste. Porém, o que parece ser uma boa notícia, não é. Além de ser um patamar muito elevado, esconde um dado muito preocupante: a renda média per capita, de R$ 816, atingiu o pior nível em quase dez anos.

Entre os 40% mais pobres, a renda média per capita advinda do trabalho é de apenas R$ 134 mensais. Queda de 35,58% em relação à remuneração dessas famílias no último trimestre que antecedeu a pandemia (4º trimestre de 2019). Mas um cenário um pouco melhor do que se observava no auge da crise pandêmica, no 2º trimestre de 2020, quando a renda média per capita desse público chegou a míseros R$ 98.

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Os dados estão na quinta edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).

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O estudo utiliza microdados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esses números levam em conta a inflação e refletem apenas os ganhos com atividades profissionais. Ou seja, recursos de benefícios sociais, como auxílio emergencial e aposentadorias, não entram no cálculo.

“A desigualdade está caindo na região metropolitana de Fortaleza, volta até melhor do que no pré-pandemia, mas é um patamar ainda muito elevado e com renda média caindo. É diferente, por exemplo, do que se via em 2013 e 2014, quando se tinha crescimento econômico, e a desigualdade caiu porque todos estavam ganhando mais e os mais pobres proporcionalmente mais”, explica o professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, André Salata, um dos coordenadores do boletim.

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A pandemia teve um impacto perverso na renda dos moradores da Grande Fortaleza. No auge da crise, no segundo trimestre de 2020, o coeficiente de Gini atingiu 0,675 pontos. O pior desde o início da série histórica feita pelo Observatório das Metrópoles, iniciada em 2012. Acima da média brasileira (0,656 pontos).

No Nordeste, o resultado estava atrás apenas da concentração de renda das regiões metropolitanas de João Pessoa (0,722), Recife (0,682) e Salvador (0,681).

Para se ter uma ideia, naquele momento, os 10% mais ricos da RMF recebiam, em média, 53,5 vezes mais do que a renda per capita dos 40% mais pobres. Um ano depois, essa distância diminuiu, mas eles seguem ganhando 27,4 vezes mais.

Mas Salata explica que a desigualdade caiu na RMF porque a retomada da economia está trazendo uma tímida melhora na renda das famílias mais pobres em relação ao auge da crise pandêmica, mas, principalmente, porque a renda dos mais ricos vem caindo com mais força.

A redução da renda média per capita dos 10% mais ricos (-37,28%) é mais acentuada do que a observada nas demais faixas de renda em igual período.

Também chama atenção que, mais do que em outras metrópoles, em Fortaleza, a deteriorização da renda vem se dando há mais tempo. Desde 2015, na verdade. Mas, no caso dos 10% mais ricos, essa piora ocorre de forma mais consistente a partir do terceiro trimestre de 2019. Enquanto que entre os 40% mais pobres e entre os 50% da população que estão na faixa intermediária, o impacto na renda do trabalho acelera a partir do início de 2020.

De modo geral, nas regiões metropolitanas brasileiras, o nível de desigualdade vem caindo em relação ao auge da pandemia. Mas não de forma consistente e tampouco voltou aos patamares de 2019 que já estavam em patamar muito elevado. E a renda das famílias vem caindo. No Brasil, o segundo trimestre de 2021 foi o sexto consecutivo de queda na média de rendimentos.

O que, na visão de Salata, deixa claro que a atividade econômica e o mercado de trabalho ainda não ganharam a tração desejada nas regiões metropolitanas.

 

O que é o Observatório das Metrópoles

O Observatorio das Metrópoles é um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) que trabalha de forma sistemática e articulada sobre os desafios metropolitanos colocados ao desenvolvimento nacional. O programa é conduzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) e é composto atualmente por 380 pesquisadores vinculados à instituições de ensino superior, distribuídos pelos 16 núcleos regionais da rede

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