Sentar na cadeira de comando é algo “simbólico”. “Somos seres simbólicos”. É assim que define a primeira secretária titular da Secretaria da Fazenda (Sefaz) no Ceará em 183 anos, Fernanda Pacobahyba. “Independentemente da figura, que é uma mulher como qualquer outra, eu tenho consciência da representatividade e sou obstinada em fazer um bom papel para que as pessoas saibam que quando uma mulher foi titular da Sefaz lembrem como ela fez a diferença”, complementa.
A história da Sefaz remonta a quase dois séculos de comando masculino. Diferentes perfis, desde os técnicos, militares, nomes consagrados de governos, como na era Virgílio Távora, era Tasso Jereissati, depois vieram mais governos, alguns desses ex-secretários da Fazenda Estadual viraram nomes de monumentos, caso feito do Estádio Plácido Castelo, o Castelão (hoje arena), de bairro, como Álvaro Weyne, ou as ruas, João Cordeiro e Tibúrcio Cavalcante.
Passou muito tempo, mas a espera por representatividade feminina do comando da Fazenda acabou no segundo governo de Camilo Santana (PT), quando a doutora em Direito Tributário (PUC-SP) e auditora fiscal jurídica da Receita Estadual Fernanda Pacobahyba se tornou a primeira mulher a ser a titular da pasta, sucedendo a sequência de 58 homens.
Ao O POVO, Fernanda diz ser acostumada com ambientes predominantemente masculino. Foi oficial da Força Aérea Brasileira, chegou aos 17 anos neste mundo, em que de mil cadetes, apenas duas dezenas eram moças, que tinham de ouvir tremendos absurdos. Mas enfatiza: como oficial no serviço militar sempre foi respeitada.
Serviu por cinco anos na Base Aérea de Fortaleza, veio junto com o brigadeiro Batista Jr, que hoje é comandante. Chefiou as licitações da Base, principalmente relacionadas às compras públicas e contratos, além de ocupar outras funções. “Esse ano completei 26 anos de serviço público e 13 desses foram no serviço militar. Só neste ano igualo o tempo de serviço como civil”.
A vida de serviço público, principalmente como titular da Sefaz, nem sempre é simples. Fernanda diz que ainda há no ambiente da gestão pública muitos estereótipos que precisam ser derrubados. “Eu sinto que foi preciso um tempo para maturar na Sefaz por conta de um histórico de 58 homens que me precederam.
“O que essa menina está fazendo aqui?”, “O que ela tem para mostrar?”, “Uma menina tão jovem”. Não sou tão jovem e tenho um currículo que me credencia a estar aqui. Mas acho que por tudo que fizemos na nossa gestão, isso já é uma coisa superada aqui na Sefaz”.
Fernanda não quer ser vista como a "menina", a "bela". Mas enumera feitos de sua gestão, que entra no quarto ano. Lembra que na sua entrada para a Sefaz, em 2009, o concurso anterior havia sido 15 anos antes. Hoje comemora ter como marca de sua gestão a realização de um novo concurso, no fim de 2021.
Por sinal, o primeiro com cotas para negros, uma demanda da secretária que quer mais diversidade nos corredores da Sefaz. A de gênero já há avanço importante, com quadro composto por 40% de mulheres.
"A Sefaz precisa se revitalizar, precisa ser outra para o mundo que aí está. E obviamente vamos precisar de todo mundo, os que aqui já estão, mas também do toque diferenciado que mire o que precisa ser construído. E essa renovação é absolutamente necessária. Demorou demais, o choque geracional será imenso, assim como foi na minha chegada”.
Estudo
Depois do período na Força Aérea e a aprovação no concurso público da Sefaz, Fernanda ampliou a dedicação à vida acadêmica, com especializações em Direito Empresarial, Direito Tributário, mestrado em Direito Constitucional e o doutorado em Direito Tributário. Hoje continua estudando, faz MBA no Insper em Gestão Pública.
"É meu projeto agora. Acho que a gestão tem uma característica de imediatismo e, como estou passando muito tempo e se aparta do estudo, a gestão é muito embrutecedora, pois só apaga incêndios. E você precisa estar nesse ambiente acadêmico, pois permite respirar novos ares", afirma.