Passados pouco mais de 365 dias como CEO da AES Brasil, subsidiária da AES Corporation, uma das maiores empresas de energia dos Estados Unidos, Clarissa Sadock enfatiza: "a evolução da matriz energética vai nos ajudar a diminuir esse impacto no preço" da energia elétrica no País. As fontes renováveis, destaque para eólica e solar, com as reduções do preço médio, além de serem verdes, serão o grande foco no
Segundo Clarissa, o consumidor do mercado livre está mais atento à matriz, à origem e aos processos em torno da produção energética, inclusive procurando informações sobre as medidas de mitigação de impactos sociais e ambientais.
Principal alta executiva entre as empresas privadas do setor de energia no Brasil, Clarissa defende a inclusão de mais mulheres no mercado. E o trabalho tem iniciado na própria AES Brasil por meio de metas de inclusão e diversidade.
De olho no mercado, Clarissa coloca como prioridade a diversificação da matriz energética brasileira para que em períodos de seca, como a enfrentada no ano passado, a conta de energia dos brasileiros não suba de forma descontrolada ou haja risco de desabastecimento. "É importante um bom planejamento para os momentos em que se chove menor termos um estresse menor no preço".
Ela ainda diz ao O POVO que a AES Brasil prioriza energias renováveis e hidrogênio, com projetos bilionários para o Nordeste e o Ceará nos próximos anos.
O POVO - A sua trajetória na AES Brasil iniciou em 2004 e desde então a empresa passou por um grande processo de reestruturação. Qual o foco desse período?
Clarissa - Sem dúvidas, é satisfatório estar no setor elétrico neste momento em que tantas coisas boas estão acontecendo. Entrei nesse mercado em 2004 e lá atrás a gente já era uma empresa 100% renovável e viemos crescendo neste período, mas mais fortemente a partir de 2017, abrindo o nosso portfólio para o eólico e o solar.
Hoje, nosso portfólio possui tanto produção de energia hídrica, quanto eólica e solar. A gente vê o mercado de energia mudando muito. Quando entrei, esse era um mercado de geração de energia com contratos regulados, vendendo energia somente por meio de leilões que o governo fazia e hoje temos um mercado livre, em que os clientes compram energia diretamente das geradoras.
Então, temos aí portfólio muito maior de clientes, precisamos entendê-los melhor para oferecer aquilo que eles precisam. Um mundo que evoluiu bastante e que esperamos que continue evoluindo nos próximos anos. Vemos clientes cada vez menores comprando energia no mercado livre, então estamos nos preparando, pensando do ponto de vista de e-commerce, de aplicativos para conseguir atender essa nova realidade. É, sem dúvidas, um desafio bastante interessante.
OP - Você se tornou diretora aos 31 anos, como foi assumir uma posição de liderança tão jovem? A Clarissa tem medo no mundo corporativo? É permitido a ela falhar?
Clarissa - Entrei no grupo na área Financeira, era responsável pela estruturação financeira. No setor elétrico a gente tem um volume alto de investimento e, consequentemente, um volume importante de estruturação financeira. Minha trajetória foi dentro da área financeira.
"Eu sempre gostei de desafios novos e esse é um grupo que veio crescendo dando oportunidades para quem estava entregando, buscando por essas oportunidades."
Aos 31 anos, passei a ser diretora de Relações com Investidores, saindo da Tesouraria e passo para Relações com Investidores, lidando agora com o investidor de dívida e com o de ações, que é um investidor que olha mais em detalhe para entender o negócio num nível mais detalhado.
Logo na sequência juntamos Tesouraria e RI e passei a ser responsável pelo caixa das companhias do grupo, na época a gente também tinha distribuidoras de energia, que é um caixa bastante complexo, frente o preço de energia que sobe e desce e temos as bandeiras tarifárias.
Então sempre tivemos muitas oportunidades dentro do grupo e sempre fui aberta a elas e consegui ter essas oportunidades. Mais adiante pedi para fazer um movimento e ir para o Planejamento Estratégico e Financeiro, porque achei importante complementar esse meu conhecimento de área financeira para dar o próximo passo e ser indicada para vice-presidência financeira, em 2017. Sempre com uma visão de negócio, vendo o melhor para a companhia, como fazer crescer, com isso, no ano passado fui conduzida a CEO da companhia.
OP - Que saldo tira desses 13 anos em cargos de alta liderança? E como observa a evolução acontecida nos últimos anos de mais mulheres ocupando cargos de liderança em grandes negócios no Brasil?
Clarissa - Eu sempre falo para as pessoas que trabalham comigo: Antes de mais nada, o que a gente gosta de fazer? Como trabalhar de uma maneira que sinta satisfação e consiga entregar bons resultados? A gente trabalha muito, acontece muita coisa no trabalho, a gente passa muitas horas envolvido, às vezes, você vai para casa mas continua com o trabalho na cabeça, então, antes de mais nada, é importante fazer uma coisa que você acredita.
Ter um propósito no que está vendendo para que no fim do dia continue com garra o que está fazendo, se essa é sua vontade e era a minha. Aí as oportunidades vão surgindo e você corre atrás, não podemos ficar intimidados com alguma situação, encarar os desafios e aprender, entender o novo, pois existem muitas coisas que ainda não sabemos e precisamos aprender, trabalhar em equipe, pedir ajuda, até conseguir a maturidade necessária.
OP - Tendo em vista os investimentos, o mercado de geração de energia no Brasil deve ser totalmente limpo em alguns anos. Como observa essa evolução na AES e como vislumbra a ampliação do leque de fontes em energias renováveis?
Clarissa - A gente sempre teve um portfólio 100% de energia renovável e o que a gente vem trabalhando é para ampliar esse portfólio, pois há muito valor no fato dessas fontes estarem combinadas dentro do portfólio, pois assim conseguimos oferecer a possibilidade de produzir energia por fonte renovável 24 horas por dia.
"O sol tem uma irradiação, o vento tem maior potência em outras horas do dia e na hídrica com o reservatório a gente consegue despachar em qualquer horário. Então essa combinação de fontes é importante para entregarmos o que o cliente precisa."
A gente buscando o nosso crescimento em eólico e solar, acreditamos em todas as fontes e que elas combinadas têm mais valor e vemos que os clientes buscam mais por energias renováveis. E, durante a pandemia, esse tema acelerou. Dois anos atrás, ESG (da sigla em inglês ambiental, social e governança) quase não era comentado, hoje em dia você sabe do que estão falando, mesmo que não saiba qual letra representa o quê.
Vemos uma evolução até na exigência, clientes que querem entender onde estou gerando, como atuamos com as comunidades onde estamos construindo novos ativos, qual que é o investimento social, como tratamos o tema de diversidade e governança. É um escrutínio muito maior e temos prazer em expor isso, pois faz parte da nossa história, então é um assunto que flui com naturalidade e ficamos felizes em ver essa evolução no mercado, buscando sempre saber onde podemos evoluir também.
OP - Falando em diversificação de fontes, o hidrogênio verde é uma pauta que tem ganhado força no mercado europeu e o Ceará aparece como potencial grande exportador. Como a AES vislumbra esse mercado?
Clarissa - Sem dúvidas, o hidrogênio verde vai fazer parte da matriz energética no futuro. É uma fonte que ainda está numa curva ascendente de evolução tecnológica, por isso temos um preço que acreditamos que nos próximos anos a gente vai ver uma evolução tecnológica que vai ajudar a baixar esse preço, ajudando essa matriz a entrar com mais volume no mercado.
"E o Ceará tem uma posição muito privilegiada neste negócio, por ter o Porto de Pecém, que é muito bem localizado, com saída importante para a Europa, que é quem vem despontando nas discussões em torno dessa matriz. O Porto de Pecém tem uma estrutura muito boa para receber esse tipo de investimento."
Vi isso ao visitar o Complexo do Pecém, em dezembro, e vi a qualidade e como eles estão pensando em ter uma participação neste mercado. Aliado à produção, temos a demanda por energia e, para produzir hidrogênio, demanda muita energia no processo, então é essencial ter acesso à eólica e solar muito próximo.
Aí, de novo, temos no Ceará um fator de capacidade (na produção) muito bom e ajuda no fim do dia, tem um bom preço competitivo. É uma combinação de itens que favorecem o investimento no Estado. Vemos com muito bons olhos, é um assunto que observamos há muito tempo pelo nosso time de inovação que agora vemos desenvolver em produto.
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OP - Como a empresa vê o impacto no entorno de um Estado que mira na transição energética por meio do H2V?
Clarissa - Precisamos de uma estrutura que funcione, são plantas muito grandes e investimentos muito altos. Então, a gente precisa de parceiros que estejam interessados em desenvolver esse novo mercado e vemos o Porto de Pecém e o Estado do Ceará, também estivemos com o governador (Camilo Santana) para assinar um protocolo de intenções.
Se percebe a vontade de fazer acontecer e isso é muito importante. Associado ao hidrogênio verde, provavelmente veremos também as
OP - Especificamente o projeto de H2V no Ceará, em que movimento ele se encontra após a assinatura dos memorandos de intenção em dezembro de 2021?
Clarissa - Estamos neste momento aprofundando os estudos. Tivemos uma primeira assinatura, para sentar para conversar. Temos um time interno trabalhando nisso. Temos um vice-presidente na América Latina, o Ítalo Freitas - que era o CEO da AES no Brasil antes de mim, ele está acompanhando de perto o tema do hidrogênio.
A AES (matriz) tem analisado o hidrogênio não só no Brasil, mas em outros lugares do mundo, como no Chile e nos Estados Unidos. Estudamos muito para entender como o mercado global está evoluindo nessa nova frente. Temos um time de inovação com projeto claro focado para que a gente possa desenvolver essa nova tecnologia.
OP - Miram investimentos em energias renováveis em outros estados? Como estão olhando para o Nordeste?
Clarissa - Estamos fazendo um grande investimento em energias renováveis. Temos hoje em construção mais de 700 MW, tanto na Bahia quanto no Rio Grande do Norte. Também temos feito aquisições de alguns ativos já operacionais, percebendo que alguns investidores menores têm processos de operação que podemos fazer melhor, então temos adquirido alguns ativos com esse objetivo.
Adquirimos um ativo no Ceará no ano passado e temos ativos operacionais no Rio Grande do Norte e na Bahia. Temos crescido bastante no Nordeste e vemos grande potencial, sabemos que existem muitos projetos desenvolvidos, mas existem oportunidades para novos projetos. A gente vê projetos e clientes bastante interessados em assinar contratos de 15 anos, 20 anos, então essa tem sido a nossa avenida principal de avanço: energias renováveis no Nordeste.
OP - Com relação a valores em investimentos nesses avanços em energias renováveis, falamos em quanto por parte da AES?
Clarissa - Somente para este ano, temos previsão de investimentos da ordem de R$ 3 bilhões que a gente vai fazer.
OP - A empresa mira em eólicas offshore? O que achou do novo marco regulatório?
Clarissa - Sem dúvidas, offshore virá. A dúvida é em que velocidade virá. Hoje ainda é uma tecnologia mais custosa do que a eólica e solar onshore. Por outro lado, é um mercado novo que precisa ser desenvolvido e receber investimentos nesse sentido, buscando também uma evolução tecnológica, assim como falei do hidrogênio verde. Acredito muito no eólico offshore, mas não acredito que seja coisa para 2022 ou 2023.
OP - Qual o plano de crescimento da AES no mercado livre e como veem o movimento para este mercado, até mesmo com governos, como o Governo do Ceará, entrando neste tipo de negócio, no caso dele, para comprar energia e abastecer prédios públicos?
Clarisse - A gente opera no mercado livre há muito tempo, desde que as nossas hídricas saíram do mercado regulado, então estamos há mais de oito atuando nele. E nós acreditamos muito nessas relações bilaterais, em que cada cliente busca sua energia, seu preço e sua forma de energia.
Tem clientes que precisam em horário específico, por exemplo. Entendemos isso como o futuro do negócio. Vemos o mercado se ampliando para clientes cada vez menores. Então está chegando a um varejo. Vemos em vários países do mundo que até as pessoas compram sua própria energia, comprando junto ou separado do serviço da distribuidora local, então acho que de pouquinho em pouquinho vamos dando a oportunidade para que o consumidor escolha como quer comprar sua energia.
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OP - Em evento recente da Credit Suisse, a empresa disse que vai focar investimentos em projetos eólicos para seus planos de expansão, destacando que a fonte está mais competitiva do que as usinas solares. Isso inclui aquisição de parques no Ceará?
Clarissa - Estamos sempre olhando (a possibilidade de aquisições). Não tenho nada que possa te contar hoje sobre um novo ativo solar do Brasil ou no Ceará, mas estamos sempre buscando possibilidades. Não temos preferência entre solar ou eólico porque nós conseguimos entregar um preço melhor para o cliente com eólico do que com solar, pois recentemente houve um aumento de preços maior no solar, mas a gente está sempre comparando os dois, fator de capacidade de um empreendimento ou outro.
Mas temos que estar sempre trazendo novidades ao mercado, seja adquirindo ativos prontos ou construindo, sempre buscando montar um estoque de projetos para poder entregar produtos para os nossos clientes. Temos um time de desenvolvimento de negócios buscando e trabalhando para encontrar projetos nas melhores localidades e o Ceará é, sem dúvidas, uma ótima localidade.
OP - Nos últimos anos, o Ceará tem se notabilizado por sediar fábricas de grandes empresas fabricantes de equipamentos para o setor de energia, principalmente eólica. De onde a AES compra os equipamentos? É daqui? A Aeris entra nos negócios na produção de pás eólicas, ou a Vestas?
Clarissa - A gente está construindo na Bahia com aerogeradores da Siemens Gamesa e lá no Rio Grande do Norte com aerogeradores da Nordex. Na Bahia, que colocamos a planta em operação neste ano, estamos na fase crítica da construção, em que a gente precisa das pás e as pás estão sendo construídas no Ceará na fábrica da Aeris.
E aí, na verdade, a gente está planejando visitar o Ceará para conversar pessoalmente com a Aeris, com o Banco do Nordeste, que também é um importante parceiro do nosso processo de crescimento e também Mandacaru, que é uma das nossas plantas no Estado.
OP - E o marco regulatório facilita a implantação de parques híbridos, pensam nessa possibilidade aqui no Ceará? Como pensam em explorar esse novo modelo de produção?
Clarissa - Planta híbrida é uma evolução muito importante. A gente pode fazer híbrido tanto com eólico e solar, quanto no nosso caso fazer um solar com hídrico, então estamos, sim, estudando, ainda precisamos entender a regulamentação que da Aneel para sabermos qual o benefício na hora que a gente opera em conjunto, mas vai resultar em benefício para o cliente. No momento em que a gente consegue uma economia de encargos, conseguimos um preço de energia menor para o cliente final.
OP - Como a AES observa o surgimento de novas formas de produzir energia limpa? E como anda o trabalho de P&D neste sentido, em um contexto em que o País abriu em leilão de energia mais espaço para as térmicas, mais caras e poluentes, mesmo sendo operadas a gás natural?
Clarissa - O mercado vem crescendo muito em torno do eólico e solar. Então, nada melhor do que o mercado livre para que essa participação cresça da melhor forma possível. Nós vemos a evolução dos últimos anos de forma acelerada, e vendo no planejamento do Governo, por meio da EPE - Empresa de Pesquisa Energética, uma quantidade considerável de eólico e solar entrando na nossa matriz.
"O cliente quer energia renovável, o cliente quer comprar energia de fontes que deixem o seu produto mais verde, por isso nada melhor do que o mercado se regulando e isso vem acontecendo de maneira natural. Sou muito otimista em relação a essa matriz cada vez mais renovável."
A gente tem uma posição de destaque na produção desde a sua origem, somos um país com abundância de hidrelétrica e estamos evoluindo para ter uma diversidade maior de fontes porque muitas vezes em anos que chove muito, venta menos. Anos que venta mais, chove menos. Essa correlação negativa entre as fontes também ajuda a reduzir o risco na produção de energia renovável e, consequentemente, a pressão sobre os preços.
OP - Esse período de seca mais prolongada acendeu um alerta, já que temos uma predominância e até dependência importante da produção por meio hídrico…
Clarissa - Acho que é importante acompanhar as mudanças climáticas também. E evoluir o sistema. Temos um Operador Nacional do Sistema (ONS) centralizado fazendo um grande trabalho em despachar toda essa produção de energia pelo Brasil e precisamos evoluir com esse modelo, pois quanto mais eólico e solar temos no sistema, mais é importante entender que é preciso uma gestão diferente, aumenta a complexidade do sistema e o ONS tem entendido e feito um trabalho para entender essa matriz e a gente também cobrar de forma apropriada.
Temos uma discussão importante em torno da regulação: o preço horário foi uma evolução importante, estimulando que as pessoas consumam energia numa hora que é mais barato. Temos visto evoluções regulatórias necessárias para equilibrar esses “pratinhos” todos.
OP - Como a AES observa o crescimento da geração distribuída no Brasil? E em que ponto isso preconiza uma evolução do mercado de energia aberto para os pequenos consumidores?
Clarissa - É uma evolução bastante importante, pois traz a geração de energia para próximo ao consumo dela, reduz as distâncias com transmissão, então eu vejo como um mercado em crescimento, sim. Várias pesquisas mostram essa geração descentralizada crescendo de forma paulatina. É necessário investimento em equipamentos, mas vemos cada vez mais telhados e pequenos sítios com placas e, sem dúvidas, veremos na próxima década um crescimento importante dessa descentralização.
OP - E os consumidores residenciais, podem entrar nessa evolução de ter acesso ao mercado aberto?
Clarissa - Claro. Já temos muitos consumidores colocando placas solares para esquentar água ou outros usos. É um investimento alto, por isso ainda não vemos tanto volume, mas, de novo, virá com a evolução tecnológica e um modelo mercadológico em desenvolvimento.
OP - Qual a estratégia da empresa ao migrar para o Novo Mercado na B3? E como tem sido o trabalho de aprimoramento da governança corporativa?
Clarissa - Sempre fomos uma empresa listada em Bolsa, sempre evoluindo na governança e, no ano passado, migramos para o Novo Mercado da B3, que é o nível mais elevado em governança da Bolsa. No novo mercado, todos os acionistas têm um tipo de ação, a ON, o que é o melhor padrão de governança esperado.
Voltando ao assunto ESG, estamos sempre vendo como aprimorar os padrões de sustentabilidade, social e de governança também, sem dúvidas um pilar muito importante. Estamos trabalhando evoluções contínuas para aprimorar esse tema e essa entrada no novo mercado foi um grande passo na nossa história.
OP - E como a empresa mira o mercado a partir de compras e fusões de empresas (M&A)?
Clarissa - Estamos sempre em busca de oportunidades. Então, estamos pensando em construir ou adquirir. O nosso objetivo é seguir crescendo, consolidando o mercado. Vemos muito valor na diversificação das fontes, pela vantagem financeira em que conseguimos ser competitivos. Vamos ver se teremos algo a contar neste ano ainda.
OP - A AES é conhecida pelo seu desempenho positivo na Bolsa e é querida pelos investidores por ser grande pagadora de dividendos. Como a empresa trabalha essa relação e projeta os próximos anos?
Clarissa - O setor elétrico exige muito investimento para crescer, temos bilhões investidos. Por outro lado, conseguimos reduzir esse nível de endividamento de forma acelerada. Então estamos sempre buscando oportunidades para crescer, gerando caixa com esses novos ativos e continuar crescendo, pagando dividendos porque são fortes geradores de caixa e a gente combina bem essa estratégia de crescer pagando dividendo, tratando nossos acionistas da melhor maneira possível, entender esses acionistas, o tipo de informação que precisamos prestar ao mercado, ir direto ao ponto, aprimorando a comunicação e o entendimento, seja do controlador, seja do minoritário.
OP - Como vê a participação de mulheres em cargos de liderança no setor de energia no Brasil e nos Conselhos de Administração?
Clarissa - Não há dúvidas de que já foi muito pior, mas há ainda o que melhorar. Dentro desse movimento de mostrar as melhores práticas, voltamos ao ESG: aumentar a diversidade, não só de gênero, é uma pauta para todas as organizações.
Então, vemos uma evolução importante acontecer, mas ainda estamos longe do ideal. É importante termos programas específicos, olhar crítico para acelerar esse processo de diversidade, pois é isso que faz as empresas serem mais competitivas.
Colocando todos iguais para trabalhar juntos, se tem um processo criativo muito menor. Por isso é importante ter pessoas com experiências diferentes, vidas de situações diferentes para termos um time mais completo. Gosto de tratar esse tema de forma objetiva.
Se olharmos as pesquisas, temos vários exemplos de empresas que tiveram mais sucesso são aquelas que têm um corpo mais diverso. Isso é importante para a sociedade, mas importante também pelo lado objetivo pela geração de valor, que é o objetivo das empresas.
OP - Quais medidas efetivas têm adotado dentro da empresa para avançar na equidade de gênero e na diversidade?
Clarissa - Temos metas dentro da organização de aumento da participação em nível de liderança, aumentando também no time operacional, que historicamente sempre foi mais masculino no setor elétrico, com situação de 99% dos times de operação com homens.
Mas o que estamos fazendo é aproveitar esse crescimento da operação para trazer mais mulheres. Por exemplo, nesta nova planta da Bahia, montamos um time 100% feminino. Essa planta entra em operação no fim deste ano, então, há dois anos começamos um processo de seleção para montar uma turma no ano passado para preparar essas mulheres para exercer as diferentes funções numa planta eólica neste ano.
É um processo de três anos, um passo-a-passo para chegar ao ponto de ter um time altamente qualificado. Recebemos mais de 300 currículos para uma turma de 30 que a gente preparou de mulheres altamente dedicadas buscando oportunidades dentro da companhia. Aos poucos, vamos misturando, mas precisamos de uma porta de entrada.
OP - Como a Clarissa vê seu desenvolvimento pessoal e o que ela indica para os que querem esse desenvolvimento?
Clarissa - Antes de mais nada, acredite em você e corra atrás do que precisa para melhorar e estar bem preparada. Nem tudo são flores neste processo, por isso é importante a resiliência para não desistir antes que as coisas aconteçam.
OP - Quando que a energia no Brasil vai deixar de pesar tanto no bolso do brasileiro? Existe alguma solução de médio, longo prazo?
Clarissa - A grande beleza da energia eólica e solar, além de ser verde, é ter um preço competitivo. Traz uma redução do preço médio, então, com certeza, esse crescimento da matriz energética vai favorecer a diminuição do custo da energia.
É importante um bom planejamento para os momentos em que se chove menor termos um estresse menor no preço, sabendo que haverá aumento por conta da menor oferta, mas a evolução da matriz energética vai nos ajudar a diminuir esse impacto no preço que tem sido tão relevante nos últimos anos.
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