Muito calor? Você já deve ter percebido que os dias estão cada vez mais quentes. Esse é um desafio que o agronegócio, dependente de fatores climáticos favoráveis para bons resultados, precisa enfrentar. No Ceará, entretanto, o cenário muda um pouco.
Mais adaptado a altas temperaturas, a maior preocupação são as prováveis secas de 2024, que podem gerar uma baixa na geração de renda e nos empregos do meio rural.
Essa perspectiva, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), pode ser decorrente do fenômeno El Niño, provocado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico.
“Hoje o El Nino está em nível moderado, mas tem previsão pra ter pico em dezembro/2023 ou janeiro/2024. Então, pode afetar a estação chuvosa do Ceará em 2024”, afirma o pesquisador da Fundação, Francisco Júnior.
Sobre o cenário, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), afirmou ter conhecimento da possibilidade, tocando em uma preocupação dos agricultores: sobre o período de duração da estiagem.
“Poderá ser seca de um ano, poderá ser de dois anos, pode ser três anos, pode ser quatro anos. Isso sim eu não sei, quanto tempo será a seca", destaca.
As maiores consequências são de um possível impacto, não no preço dos alimentos, mas no trabalho do campo, conforme explica o Secretário Executivo do Agronegócio, Silvio Carlos.
“Talvez afete alguns produtos, como leite, mas a cesta básica não. O que pode ter é uma menor geração de emprego e renda no meio rural. Sem água e com a elevação do clima, tenho menor produtividade e isso vai gerar prejuízo e impacto na economia”, explica.
O agravante do calor excessivo já é uma realidade. Ainda conforme a Funceme, neste mês de setembro, a temperatura média mais alta foi de 38,17º C, em Barro, no sul do Estado. No mesmo período do ano passado, o maior valor foi de Jaguaribe, com 37,72º C.
Nos outros estados, o que ocorre são mudanças mais bruscas, com até 3°C acima da média, em extensões enormes de território: desde o sul da Região Norte, passando pelo Centro-Oeste, até a Região Sul. Dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
No Ceará, de acordo com Amilcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faec), os produtores já estão acostumados com o calor, especialmente no período dos quatro últimos meses do ano, conhecido como Br-O-Bró.
“O clima quente, às vezes, afeta a umidade do solo, áreas irrigadas, aumenta um pouco o consumo de água. Isso não é bom pra nós, mas existe uma tendência de calor a mais em setembro, outubro, novembro e dezembro. O que torna esse ano e, parece que o ano que vem também, atípico, é essa história do El Niño”, disse.
Para Silveira, a preocupação aumenta devido ao nível de água dos reservatórios, que gira em torno de 40% da capacidade total, podendo influenciar na forma como o Estado enfrenta a falta de chuvas.
“Não achamos que está tendo um bom gerenciamento dos recursos hídricos. Estamos começando a estudar isso para tentar levar uma proposta ao Governo, especialmente relacionada à Cagece”, afirma.
Segundo o representante da Secretaria do Agronegócio, as discussões dentro da pasta do Desenvolvimento Econômico do Ceará estão mais voltadas ao incentivo de práticas agrícolas de alto valor agregado.
“Quanto mais atividades assim eu tiver no meio rural, mais eu gero renda e emprego. Com a mesma água e a mesma terra eu posso produzir outras produtividades agrícolas que darão mais retorno. Esse é o foco”, comenta Silvio Carlos.
Além disso, para os próximos anos, cada setor conta com estratégias específicas. Estas envolvem a construção de estufas, investimento em pesquisas, e métodos de irrigação, como a microaspersão, que permitem uma economia maior de água.
O presidente do Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras do Ceará, João Nicédio Alves, afirmou que essas técnicas servem para todos os tipos de agricultores, de pequeno a grande porte. O maior desafio, nesse caso, é no processo de mecanização.
“A indústria de fabricação foca nas grandes máquinas. Para isso é preciso grandes áreas. Isso é muito importante para o pequeno produtor porque, hoje, tem menos gente no campo, então precisamos produzir mais com menos gente e, nisso, a mecanização ajuda de um modo geral”, explica.
Sobre o cenário para 2024, João Nicédio ressalta a importância de obras de convivência com a seca. “Como é que a gente vai trabalhar contra a natureza? Não dá para enfrentar. Hoje nós estamos bem mais preparados, com auxílios assistenciais do Governo e tecnologias, mas no Ceará vai ser para sempre assim. Convivendo com ela”, afirma.
PIB do agro
Após vários anos de seca, o agronegócio vem dando sinais de recuperação no Ceará desde o ano passado. No segundo trimestre deste ano, o PIB do setor cresceu 3,58% ante o trimestre imediatamente anterior, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará (Ipece)
MAPA DA TEMPERATURA NO CEARÁ
Temperatura máxima média Mensal em °C por Município. Em setembro
35,49 - Acaraú
36,01 - Aiuaba
36,63 - Alto Santo - Castanhão
37,28 - Amontada
33,06 - Araripe - Chapada Cruz do Monte
34,19 - Barbalha
38,17 - Barro
36,35 - Baturité - APA
34,91 - Campos Sales
36,93 - Crateús
36,68 - Camocim
35,81 - Canindé - Cangati
33,52 - Crato - Sede
32,61 - Fortaleza
32,92 - Fortaleza - Itaperi
29,63 - Fortaleza - Praia do Futuro
35,71 - Iguatu
35,32 - Itapipoca
36,43 - Ibaretama
33,62 - Icapuí - Fazenda Agrícola Famosa
36,29 - Iguatu
34,68 - Itatira
37,9 - Jaguaribe
35,07 - Jaguaruana
35,45 - Jaguaribara
37,74 - Jaguaribe - Brum
33,46 - Jericoacoara
36,3 - Morada Nova
34,65 - Morada Nova
34,79 - Missão Velha - Sitio Barreiras
35,98 - Morada Nova - Fazenda Itaueira
34,26 - Pacajus
36,49 - Piquet Carneiro - Barra do Serrote
34,67 - Piquet Carneiro - Mororó
32,33 - Poranga
35,66 - Quixadá
35,68 - Quixeramobim
35,72 - Quixeramobim
35,7 - Quixerê
33,55 - Redenção
36,41 - Russas
37,66 - Sobral
37,33 - Santa Quitéria
31,97 - São Benedito - Sítio Ingazeira
32,53 - São Gonçalo do Amarante - Jardim Botânico
31,26 - Tianguá
36,58 - Tejuçuoca
36,9 - Varjota
36,84 - Viçosa do Ceará
FONTE: Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme)
OBS: Municípios nos quais a Funceme tem estações observacionais