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A nova cara da economia do Nordeste para próxima década
Reportagem

A nova cara da economia do Nordeste para próxima década

| TRANSFORMAÇÃO | De acordo com previsão da Tendências Consultoria, Região deve liderar o crescimento do PIB brasileiro na próxima década. Investimentos bilionários no Ceará devem contribuir para consolidação desse movimento
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Em 2023 o setor solar gerou mais de 352 mil novos empregos verdes no Brasil (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Em 2023 o setor solar gerou mais de 352 mil novos empregos verdes no Brasil

Puxado por investimentos privados superiores a US$ 10 bilhões previstos até 2027, a economia do Nordeste deve liderar o crescimento econômico brasileiro na década a ser encerrada em 2033.

A previsão é fruto de estudo da Tendências Consultoria, analisando os cenários no curto, médio e longo prazo. Atualmente, a região cresce abaixo da média nacional, o que deve se manter no curto prazo. Mas, conforme o estudo, está previsto um salto que deve fazer a Região subir, em média, 3,4% ao ano entre 2025 e 2033, puxando a média do PIB brasileiro para 2,5%.

A consultoria apontou alguns vetores para o impulsionamento do Nordeste no médio e longo prazo, citando, por exemplo, a retomada da ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O POVO amplia esse mapa e mostra, em detalhes, um raio-x de como a Região deve liderar a economia nacional.

Tomando por base os investimentos mais vultosos, além dos US$ 8 bilhões a serem investidos pela Petrobras em Abreu e Lima até 2027, destacam-se a ampliação da operação da Stellantis, com aporte de US$ 1,54 bilhão, em Pernambuco; e da fábrica de veículos elétricos da BYD por US$ 572 milhões, na Bahia.

FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Porto do Pecém.(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Porto do Pecém.

No Ceará, destaque para a refinaria da Noxis Energy, de US$ 830 milhões, no Complexo do Pecém. Há ainda investimento de US$ 473 milhões na exploração de minério pela Galvani/INB; parque solar de US$ 356 milhões da Powerchina; e outros US$ 310 milhões da Panasonic em outro parque solar.

Para além de projetos que envolvem exploração de combustíveis fósseis (vide a ampliação da refinaria da Petrobras), os principais investimentos na Região estão ligados à renovação da matriz energética e os esforços pela descarbonização das operações industriais. E a atuação de empresas internacionais se destaca: É possível montar quase um mapa mundi dos investimentos, com aportes do Brasil, Portugal, França, Espanha, Itália, Austrália, China e Estados Unidos.

No Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), o grande chamariz é a formação do hub de hidrogênio verde, que, nesta semana, teve seu quarto pré-contrato assinado, com a Cactus Energia Verde, formada por engenheiros cearenses e aporte financeiro do grupo italiano BI. Também há pré-acertos com a gigante australiana Fortescue, além da AES Brasil e da Casa dos Ventos em parceria com a Comerc.

Estima-se que o hub de hidrogênio verde no Ceará conte com investimentos que superem a marca de US$ 30 bilhões. Estudo da GIZ (sigla em alemão para sociedade alemã para a cooperação internacional), adaptado com os dados já divulgados pelo Governo do Estado, aponta que os 32 projetos com possibilidade de instalação no Ceará representam praticamente 50% de todos os investimentos projetados para essa atividade no Brasil.

E esses investimentos devem se transformar em geração de empregos. O presidente da Associação das Empresas do Cipp (Aecipp), Eduardo Amaral, conta que atualmente são 87 empresas instaladas no Complexo, gerando 102 mil empregos. Com o hub de H2V, a expectativa é que o número de pessoas empregadas ganhe um acréscimo de mais 100 mil pessoas.

Ele ainda lembra que existem outros projetos que devem gerar emprego no Complexo, como as melhorias de infraestrutura previstas para os próximos anos, além da instalação do novo parque de tancagem de combustíveis, da Dislub. "O nosso ponto de atenção é trabalhar para que isso aconteça de forma ordenada, com sustentabilidade, gerando empregabilidade e colaborando com todo ecossistema local".

Nordeste deve ser o centro de maior atração industrial em energias renováveis do mundo

Um dos principais investidores no setor de energias renováveis, com parques eólicos, solares, híbridos e com projeto de planta de produção de hidrogênio, a Qair Brasil, do CEO Jorge Borrell, entende que no que se refere a esse setor econômico, o Nordeste desempenha um papel primordial no País.

Ao O POVO, Borrell diz que o papel das autoridades locais é importante para que as oportunidades de atração não sejam perdidas e destaca o Ceará neste movimento.

Jorge Borrell, CEO da Qair no Brasil(Foto: Paulo Magalhães/Qair Brasil)
Foto: Paulo Magalhães/Qair Brasil Jorge Borrell, CEO da Qair no Brasil

"Nos próximos 10 anos nem há a menor dúvida que esse setor vai representar um grande impulso na transição energética mundial, podendo transformar o Nordeste do Brasil no maior centro de atração de investimento desse setor no mundo", avalia.

Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), avalia que a expectativa em torno do Nordeste se refere ao diferencial de ter energia barata é o que a indústria moderna tem buscado.

Esse cenário deve atrair à Região não só o setor de energia, mas outras cadeias. "Vão conseguir baratear o seu preço em relação aos concorrentes internacionais, que estão enfrentando choques de preços ao redor do mundo por conta dos aumentos de custo".

Oportunidades de neoindustrialização do Brasil devem partir do Nordeste

Luis Viga, diretor responsável pela Fortescue no Brasil e presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), celebrou a aprovação do projeto ambiental da empresa, que teve liberada uma licença prévia, para instalação de uma planta de produção de H2V.

Ele conta que o que se forma no Ceará é o potencial de geração de oportunidades não só neste segmento industrial, mas em toda economia comprometida em participar da neoindustrialização verde do Brasil.

Citando o caso do aço verde e fertilizantes derivados de amônia verde, destaca: "As empresas vão exportar, sim, mas o grande salto para nossa indústria será agregar valor ao produto nacional, reindustrializar o Brasil com tecnologia de ponta".

Pátio de pás eólicas no Pecém lotado devido à alta demanda de empresas do setor de energia eólica(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Pátio de pás eólicas no Pecém lotado devido à alta demanda de empresas do setor de energia eólica

No Fiec Summit 2023 Hidrogênio Verde, evento realizado nesta semana que contou com lideranças empresariais, políticas e acadêmicas, já houve sinalizações importantes, como da ArcelorMittal de que há interesse de adquirir a produção do H2V cearense para abastecer de base limpa a produção de aço.

Vale lembrar que a ArcelorMittal Pecém (antiga Companhia Siderúrgica do Pecém) já é, há anos, a principal indutora da indústria cearense e responsável pelo saldo da balança comercial do Estado.

Necessários, investimentos em infraestrutura são prioridade para viabilizar processo

Para que o movimento de desenvolvimento para a Região seja viabilizado, a oferta de crédito é fundamental, pois as demandas são grandes. Melhorar a infraestrutura do Nordeste é uma demanda histórica que se acentua neste momento. Grandes projetos requerem grandes estruturas instaladas.

O presidente do Banco do Nordeste (BNB), Paulo Câmara, enfatiza que o banco quer participar ativamente desse avanço econômico na Região. Por isso, projeta que o funding do BNB suba, em média, 15% ao ano nos próximos anos.

"Em 2023, estamos com um volume recorde de investimento, com R$ 138 bilhões investidos na Região. Nós queremos crescer a uma média de pelo menos 15% por ano para ter real condição de fazer a diferença no desenvolvimento da Região", afirma Câmara.

Detalhamento de projetos por estado do Nordeste

Raul Santos, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (IBEF-CE) e presidente da Câmara de Comércio Brasil- Portugal no Ceará, avalia que as oportunidades são grandes, mas o desafio da infraestrutura é real.

Ele destaca que obras de estruturação precisam ser aceleradas, especialmente as que prometem melhorar a logística. Raul lembra que muitos desses investimentos devem ser realizados via investimento público, o que, visto o histórico brasileiro de demora nas entregas, o preocupa.

"O Porto do Pecém é organizado, mas precisa acelerar a atualização da infraestrutura, pois as estradas ainda são estreitas e esburacadas, precarizando o acesso, por exemplo", aponta.

Titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Ceará, Salmito Filho, elenca uma série de investimentos estruturantes que serão viabilizados a partir de empréstimos e obras do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que inclui a conclusão da Transnordestina e obras de segurança hídrica com foco nas demandas do Cipp.

FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Porto do Pecém.(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Porto do Pecém.

O principal meio para concretizar os planos é a liberação de empréstimo internacional de R$ 670 milhões, que foi autorizada em setembro. A estrutura do Complexo do Pecém deve ser ampliada para atender a cadeia produtiva da transição energética.

Assim, corredores de utilidades e acessos ao setor produtivo de hidrogênio verde no Complexo terão novas infraestruturas, um novo berço de atracação deve ser construído no Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT), além da expansão do Píer 2 para H2V e seus derivados, como a amônia verde.

Uma outra liberação de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê aporte de R$ 2,3 bilhões para o Estado, sendo R$ 600 milhões destinados especialmente para duplicação e alargamento de trechos da BR-116, auxiliando na logística das cargas a caminho do Pecém.

Licenciamento ambiental do hidrogênio verde

Fase que historicamente gera alguns obstáculos no que se refere aos grandes investimentos a serem instalados no Brasil, o licenciamento ambiental para o hub de hidrogênio verde no Ceará está em pauta.

Nesta semana, a Fortescue se tornou a primeira empresa com projeto avalizado, recebendo a licença prévia para unidade industrial no Complexo do Pecém.

Com intuito de facilitar os passos necessários para que as demais empresas consigam suas permissões no Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema), o Complexo do Pecém anunciou a obtenção de uma licença prévia do hub de hidrogênio verde.

Presidente da Cipp S/A, Hugo Figueiredo(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Presidente da Cipp S/A, Hugo Figueiredo

O presidente do Cipp, Hugo Figueiredo, destaca que esse movimento permite às empresas agilizar o processo de instalação.

Ele explica que, a partir de agora, as empresas já poderão iniciar seus processos a partir da etapa de licença de instalação, visto que todo estudo de área já foi obtido.

A licença prévia do hub de H2V ainda prevê Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) foi aprovado com mais de 25 planos e programas de mitigação dos impactos ambientais distintos.

"Na verdade, nós estamos ganhando tempo para oferecer celeridade para que as empresas possam executar mais rapidamente os seus projetos e tomam suas decisões finais de investimento já a partir do final do ano que vem”, pontua Hugo, que espera que pelo menos mais duas empresas que já estão em negociações avançadas, possam assinar pré-contratos.

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