O rompimento do senador Cid Gomes (PSB) com o governo de Elmano de Freitas (PT) ainda é recente e a reação no meio de político segue de espanto, sem que tenha sido mensurado qual deve ser o impacto na relação dos aliados do senador com a gestão estadual. A saída de Cid da base do petista teve como "gota d’ água" a indicação de Fernando Santana (PT) para concorrer a presidente da Assembleia Legislativa (Alece) sem diálogo nem com ele nem com deputados próximos.
A projeção era que um nome do PDT, da ala mais ligada ao governo, ocupasse a vaga, mas Fernando foi apresentado como a opção da base governista para suceder Evandro Leitão (PT), eleito prefeito de Fortaleza. Cid já tinha criticado anteriormente a concentração de postos de poder do PT. Com a indicação do petista na Assembleia Legislativa, a sigla teria Governo Federal, Governo do Estado, vaga no Senado e Prefeitura da Capital, além da Assembleia.
Nos bastidores, comenta-se que Cid já tinha conversado com Camilo Santana (PT) e o ministro da Educação iria fazer parte da reunião com Elmano. Porém, o encontro aconteceu, de forma relativamente rápida, apenas com o governador e o senador. Cid não teria conseguido mudar o entendimento de Elmano e então anunciou a saída.
"Há um tempo ele já vinha se sentindo excluído das decisões e, enfim, ele resolveu que não fazia mais sentido continuar fazendo parte do grupo", disse a deputada estadual Lia Gomes, irmã de Cid, à coluna Vertical, do O POVO, assinada pelo jornalista Carlos Mazza. "Ele já vinha se pronunciando que não concordava com essa hegemonia", acrescentou.
A deputada destacou o protagonismo de Cid para a ascensão ao poder da atual estrutura de poder. "Ele sentiu que não estava sendo respeitado como alguém que teve papel crucial para a formação desse grupo".
Depois da reunião com Elmano, Cid telefonou para deputados aliados para deixá-los a par da situação e informar a decisão. Em nenhum momento, conforme os relatos, o senador pediu algo dos parlamentares quanto a posicionamento frente ao governo, nem cobrou apoio na decisão.
Assim como outros membros do grupo, Lia Gomes falou que é precipitado falar nas consequências da decisão. "É algo ainda muito recente, tivemos essa conversa anteontem, e agora ele chamou ontem só para comunicar, para que os deputados não soubessem por outras fontes. Mas não se aprofundou, isso será em outro momento", disse à Vertical.
Deputados foram informados da decisão e a maioria tem evitado fazer comentários públicos sobre o caso. Ainda pedetistas, eles tinham intenção de sair do partido e rumar para o PSB, tendo conseguido decisão favorável para desfiliação, no aguardo de avaliação final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os deputados fazem parte da base governista e alguns até ocupam, ou ocuparam, cargos na gestão de Elmano. Robério Monteiro havia assumido como titular dos Recursos Hídricos e Salmito Filho é secretário do Desenvolvimento Econômico. Agora, os parlamentares não sabem se o plano de filiação ao PSB segue de pé.
Falou-se sobre a expectativa de uma reunião de Cid com o grupo, mas deputados e prefeitos disseram não ter sido informados, até este domingo, de nada marcado.
A posição ainda é incerta também para os chefes dos Executivos municipais. São poucos os prefeitos que fazem oposição ao Governo do Estado, em uma dinâmica da necessidade de recursos e articulação de projetos. O PSB ficou com a maior quantidade de prefeitos eleitos no Ceará: foram 65.
Um deles é Alex Nunes (PSB), que teve 31.126 votos, 66,49% dos sufrágios em Tianguá. “Acredito que não”, respondeu ao ser consultado se haveria mudança quanto ao seu posicionamento em relação ao governo Elmano. Ele defende Cid Gomes e o deputado Júnior Mano (de saída do PL) como opções para o Senado em 2026. Cid não deixou claro se vai buscar reeleição como senador.
Chegou-se a especular nas rodas políticas que o senador estaria articulando a saída do PSB, partido ao qual se filiou no início deste ano, após deixar o PDT na esteira de uma série de divergências com as instâncias estaduais justamente por causa do apoio a Elmano. O destino cogitado seria o Podemos, não sendo a primeira vez que a movimentação é especulada. O partido é hoje uma sigla auxiliar do grupo, que recebe aliados de Cid além do PSB. Porém, por enquanto, nada foi definido, conta o presidente do Podemos no Ceará, o prefeito de Aracati, Bismarck Maia.
Ele pondera que não é “perfil” de Cid tomar ações de forma abrupta e avalia que o senador dará “tempo” para pensar com “paciência” . “Mas seria uma honra”, disse sobre uma possível chegada de Cid ao partido junto de aliados.
Líderes petistas fazem acenos a Cid e tentam conter crise
A posição de Cid Gomes (PSB) de deixar de apoiar o governo Elmano de Freitas (PT) foi recebida com preocupação, mas também cautela no PT. Líderes do partido acreditam que a situação pode — e mesmo que precisa — ser contornada. Porém, um recuo sobre a candidatura de Fernando Santana (PT) a presidente da Assembleia, estopim do rompimento, é considerado improvável.
Líder do bloco do PT na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), o deputado estadual De Assis Diniz (PT) diz que o rompimento entre o senador Cid Gomes (PSB) e a gestão Elmano de Freitas (PT) é, na verdade, uma "questão pontual". Ao O POVO, ele projetou ainda o ex-governador como "nome para ser candidato a senador" pela base aliada em 2026.
Cid está no primeiro mandato de senador. Ele também tem as bênçãos do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), conforme informou o colunista do O POVO Henrique Araújo.
"Divergências são normais e já ocorreram outras vezes. Isso se resolve com mais diálogo. Fato é que Cid é um grande amigo, parceiro de projeto e de luta", disse Camilo. "É meu candidato ao Senado em 2026. Não só pela gratidão que tenho a ele, mas pelo que ele representa para o Ceará", acrescentou, conforme a coluna.
De Assis procurou isolar a questão. "Esse é um momento que a gente tem que parar um pouco para fazer as leituras. Eu não diria que há uma cisão política. Há uma questão muito pontual, e ela pode e deve ser vista como questão de divergência, que é natural do mundo da política".
Ele prosseguiu: "Cid faz parte de um projeto que é bem mais amplo, faz parte de uma geração que elevou o Ceará a um outro patamar. Então, ele é parte integrada desse processo. E eu não tenho dúvida que é o nosso nome para ser candidato a senador. Em todas as grandes decisões, tem contribuído, então, não vejo uma ruptura", avaliou De Assis neste domingo, 17.
Apesar do estopim ter sido a indicação de Fernando Santana para suceder Evandro Leitão, ambos do PT, na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), petistas acreditam que a decisão não deve ser alterada. O líder do bloco do PT também enxerga dessa maneira.
"Quem tem a prerrogativa de conduzir e analisar os passos para a sucessão é o governador. O governador está olhando a sua sucessão, então, é natural que ele tenha, e eu não tenho dúvida que esse processo foi tratado, foi conversado, foi discutido com as lideranças, e dado ao governador a prerrogativa dele, como foi com o Camilo, como foi com o Cid. Eles escolhem. Eles ofertam. Então, como você [vai] querer imputar a um terceiro a decisão de uma relação que é, exclusivamente, de um processo que lhe dá, para dentro dessas questões amplas, uma situação de governabilidade?", indagou De Assis.
Na convivência dentro da Assembleia, o deputado De Assis diz não perceber colegas parlamentares "com disponibilidade" para sair da base, embora considere que "pode ser que venha a aparecer".
Um fonte, que preferiu não ser identificada, disse ao O POVO que conversou com o governador após ele ter dialogado com o senador. Na mesa, Cid teria colocado sugestões que poderiam ocupar o posto destinado ao concunhado de Camilo.
"Ele não anunciou, oficialmente, uma ruptura, mas disse que estava se desligando. Eu acho que é tudo prematuro. [Ele] quis indicar o nome para a presidência da Assembleia, mas isso é uma prerrogativa hoje que cabe ao governador, por conta que o próximo presidente irá conduzir o processo sucessório do governador", reforça.
O PDT cidista, que aglutina os dissidentes que devem rumar ao PSB novamente de Cid, tinha os deputados estaduais Guilherme Landim, Sérgio Aguiar e Osmar Baquit despontando como opções para a presidência da Assembleia. Segundo essa fonte, o deputado licenciado e secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, teria afirmado que não se colocaria contra o Executivo estadual.
O resultado eleitoral é outro fator que, na avaliação da fonte ligada ao Palácio da Abolição, pesa sobre a decisão de Cid Gomes. "Embora ele tenha feito muitos prefeitos, o PT irá governar a maioria da população dos municípios cearenses. Além disso, foi lamentável a perda da Prefeitura de Sobral por parte da nossa querida Izolda Cela (PSB), mas foi uma derrota que marcou Sobral, o senador Cid, o prefeito Ivo Gomes", contou.
Líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, o deputado federal José Guimarães (PT) considera o rompimento prejudicial para o Estado. Ele ressalta a aliança construída desde 2006 que "precisa ser preservada para o bem do Ceará e, sobretudo, para derrotar a direita, mais uma vez, em 2026".
"Portanto, não acho bom qualquer sinal de rompimento. É ruim para o Estado, é ruim para o governo e é ruim para a política do Ceará. O projeto está em curso. Nós tivemos uma espetacular vitória em Fortaleza e nós temos que alinhar bem para evitar qualquer rachadura, qualquer perspectiva de rompimento. Não acho isso o caminho", disse ao O POVO no sábado, 16.
Segundo Guimarães, o intuito agora é "buscar um entendimento que preserve a unidade" entre os partidos. "Eu tenho acompanhado, sim, o diálogo do senador com o governador Elmano sobre vários temas, dentre eles a questão da presidência da Assembleia. Esses tensionamentos existem para serem enfrentados, discutidos e alinhados. Não acho um bom caminho qualquer rompimento", reforçou o petista, disponibilizando-se a conversar com Cid.
Artur Bruno, assessor especial de assuntos municipais da Governo, disse que ficou surpreso com o rompimento e espera que qualquer entrave seja solucionado também "pelo bem do Ceará". "Camilo, Cid, Elmano e Evandro são as principais lideranças do Estado e a união deles traz estabilidade para o Governo do Ceará e para a futura gestão de Fortaleza". (Thays Maria Salles)
Fernando Santana diz que problema não é com ele, mas com o partido
O deputado estadual Fernando Santana (PT) contou ao O POVO que a motivação do rompimento entre o senador Cid Gomes (PSB) e o governador Elmano de Freitas (PT) não tem a ver com o nome dele colocado para suceder Evandro Leitão (PT) na presidência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).
"O que eu estou sabendo, pelo menos as informações que chegam até o nosso conhecimento, é que não seria um problema com nomes, e sim com o partido. O que eu estou sabendo, que chega até mim, pelos meus colegas deputados e também pela imprensa", disse neste domingo, 17.
Apesar do imbróglio, Fernando também pontua "muito respeito" ao senador Cid. Fontes ouvidas pelo O POVO mencionaram que o senador "deverá tomar rumo em uma agenda individual, descompromissada com o governo", por não concordar com o hegemonismo do PT em nível local e nacional.
O estopim para o rompimento teria sido a escolha por Fernando Santana para postular o comando do Legislativo estadual sem Cid e aliados terem sido consultados. Outra fonte informou ao O POVO que o senador conversou com vários deputados aliados sobre o assunto e ponderou não ser uma posição partidária, mas individual.
O senador é um dos políticos que já questionaram a hegemonia do PT. (Thays Maria Salles)
Partidos de Cid elegeram últimos presidentes da Alece
No grupo que detém o poder no Estado desde 2007, já houve muita alternância de funções, com diferentes partidos e forças políticas tendo Governo do Estado, vice-governadoria, Prefeitura de Fortaleza, vice-prefeitura e também o comando da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Fortaleza. Nenhuma posição esteve tanto tempo sob o controle do mesmo grupo quanto o Legislativo estadual.
Quando Cid Gomes assumiu o Governo, na divisão de poder do grupo, a Assembleia ficou com com o então PMDB (hoje MDB), na época de Domingos Filho. Em 2011, Domingos tomou posse como vice-governador. Desde então, todos os presidentes eleitos na Casa foram ligados a Cid. O domínio foi quebrado em dezembro do ano passado quando — para contragosto público do senador, Evandro Leitão trocou o PDT pelo PT. Mas, a última vez que se elegeu um presidente que não estava no partido de Cid foi em 2009, quando Domingos Filho se reelegeu.
De lá para cá, foram presidentes Roberto Cláudio (pelo PSB), Zezinho Albuquerque (três vezes, por PSB, Pros e PDT), José Sarto (PDT) e Evandro. O senador vê o controle da Casa agora comprometido.