Nós adoraríamos imaginar que histórias como a do filme "Tio Frank", dirigido por Alan Ball e disponível no Amazon Prime Video, são coisa do passado. No caso, dos anos 1970, quando Beth (Sophia Lillis, de "It - A Coisa"), a jovem sobrinha de Frank (Paul Bettany), descobre que seu tio, professor universitário que mora em Nova York, é gay.
"Essa é uma história incrivelmente relevante ainda hoje", disse Bettany em entrevista ao Estadão. "Eu conheço uma pessoa que trabalha no cinema que esconde sua sexualidade da família. Pode ser mais raro isso acontecer hoje, mas existe. Então, o longa fala com muita gente lutando contra forças externas para poder viver sua vida de forma autêntica. Porque não fazer isso é uma forma de tortura".
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Originalmente, Beth e Frank são de uma pequena cidade da Carolina do Sul, um Estado mais conservador. Ele é aquele membro da família que não se encaixa totalmente, apesar do amor evidente que recebe de sua irmã Kitty (Judy Greer), de sua mãe (Margo Martindale) e até mesmo de sua tia Butch (Lois Smith). Com o irmão Mike (Steve Zahn), um tipo mais bronco, a relação é mais distante. No caso do pai, Mac (Stephen Root), ela é abertamente hostil - a razão, o longa vai revelando aos poucos.
Mas a morte de Mac faz com que Beth, agora estudando na cidade grande, e Frank façam uma viagem de carro até a cidade natal, acompanhados pelo companheiro dele, Wally (Peter Macdissi), um imigrante do Oriente Médio que também esconde sua orientação sexual da família.
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Aos 18 anos de idade, nascida em Nova York, Sophia Lillis é de outra geração e acha que muita coisa mudou. "Beth aceita o tio imediatamente", afirmou. "Achei isso bacana, porque mostra como a geração mais nova caminha na direção certa. A minha geração também é muito mais receptiva em relação às anteriores". A atriz sabe que sua realidade é bem diferente da que Beth vive. Mas conseguiu encontrar pontos em comum. "O filme é sobre seu amadurecimento. No começo, ela é muito tímida e quer ser exatamente como Frank. Depois, vai ficando mais independente e autoconfiante. Eu também não tinha muita confiança no que fazia. A sorte foi que minha família me apoiou demais, e agora me sinto mais confiante".
"Tio Frank" é um projeto pessoal para Alan Ball, conhecido por séries como "A Sete Palmos" e "True Blood". O roteirista e diretor também enfrentou o momento de falar sobre sua homossexualidade para sua mãe, mas foi a história que ela lhe contou, sobre um parente que "também era assim", que serviu de inspiração. O familiar em questão tinha perdido um amigo próximo num afogamento, e isso o marcou pelo resto da vida.
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Ball tinha uma experiência traumática semelhante, por ter sobrevivido a um acidente de carro que vitimou sua irmã. "Com o passar dos anos, a minha história e a que imaginei sobre esse parente acabaram se juntando para eventualmente se transformarem em 'Tio Frank'", escreveu Ball em uma declaração no material de imprensa. "Em retrospecto, eu vejo que o filme que me dispus a fazer, sobre ser gay nos anos 1970, assumir a homossexualidade para a família e lutar contra seu vício, não era só sobre isso".
Lançar uma obra sobre família numa hora em que muitas estão separadas, seja pelas ideias ou pela pandemia, parece o momento ideal. "É sobre uma família que tem diferentes visões sobre como viver a vida, mas que se ama e consegue superar as diferenças", disse Bettany. "A verdade é que muita gente tem as limitações da era em que cresceu. Mas não sei se essa é uma explicação convincente e para mim é difícil opinar porque tenho a sorte de não ter familiares com atitudes racistas ou homofóbicas".
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Para Sophia Lillis, todo mundo pode se identificar com a história dessa família. "O filme mostra os conflitos e o relacionamento familiar de maneira muito realista", disse a atriz, que assistiu a "Tio Frank" no feriado de Ação de Graças, a data mais importante para a família americana. "Acho que a história nos lembra da importância da família e serve para unir todo mundo, especialmente neste momento em que nem todos podem se reunir". (Mariane Morisawa, especial para o Estadão)