Com Lady Gaga, "Casa Gucci" faz retrato envolvente e irônico do status quo
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
A performance empreendida em contextos pautados no status social existe tanto para convencer os outros quanto para convencer a si, uma espécie de verniz no qual se agarrar parece ser a única opção. Aparências cumprem importante papel no longa "Casa Gucci", que reconta o relacionamento entre Maurizio Gucci, herdeiro da grife italiana, e Patrizia Reggiani, marcado por ambição, traição e tragédia. Dirigida por Ridley Scott, a produção assume as estruturas e ferramentas do universo que narra para construir um retrato estilizado, melodramático, envolvente e acentuadamente irônico sobre ele próprio. Com Lady Gaga e Adam Driver nos papéis principais, o filme chega nesta quinta, 25, aos cinemas.
Grife familiar fundada em 1921, a Gucci é apresentada na trama — que compreende o período dos anos 1970 aos 1990 — como uma marca tradicional a ponto de se tornar ultrapassada, mas cujo nome ainda inspira fascínio. Uma das fascinadas é Patrizia, que trabalha na empresa de caminhões do padrasto e conhece Maurizio numa festa na qual consegue entrar através de um amigo.
Os dois engrenam uma conversa e, quando se apresentam propriamente, ela cria interesse acentuado ao ouvir o sobrenome do rapaz. A noite não se estende além da festa, mas Patrizia não desiste de se aproximar de Maurizio e, eventualmente, consegue conquistá-lo.
O começo do romance é retratado com tons quase fabulares, um idílioamoroso interrompido apenas pela contrariedade ao relacionamento por parte do pai dele, Rodolfo Gucci (Jeremy Irons), que avalia Patrizia como meramente interesseira. Isso leva a um distanciamento entre o progenitor e Maurizio, que passa a morar de favor com a família da noiva e, até, a trabalhar como limpador de caminhões.
É curioso notar como o filme estrutura o início da relação do casal, que passa ao largo das disputas escusas por poder e dinheiro que marcam-na mais tarde na narrativa. Maurizio é apresentado como um jovem tímido, pouco interessado no peso do nome ou mesmo em se aproximar da empresa, enquanto Patrizia soa deslumbrada com o novo universo que se abre, sim, mas até mesmo também ingênua.
A frivolidade e o mundano passam a moldar a narrativa quando os jogos de poder da Gucci — não somente enquanto império da moda, mas especialmente enquanto família — se alastram até o casal. Na prática, porém, o alastramento é mútuo, uma vez que Patrizia se vê a um passo da chance de frequentar verdadeiramente um circuito outrora distante e que Maurizio, antes reticente, é tomado pela sedução do poder e das consequentes regalias.
Quando o casal começa a se envolver, a grife é comandada pelos irmãos Rodolfo e Aldo Gucci (Al Pacino), homens rodeados por riquezas, mas impactados por questõesfamiliares próprias e pelo implacável envelhecimento. Enquanto Rodolfo cortou relações com Maurizio, Aldo precisa lidar com o filho Paolo (Jared Leto), um estilista que sonha em assinar uma coleção pela marca, mas é tolhido pelo pai.
Um tensionamentogeracional se estabelece entre os Gucci, uma vez que os sócios-proprietários prezam pela tradição da marca e Paolo sonha em novos ares. Neste contexto, Patrizia vê uma brecha para Maurizio entrar de fato na estrutura da empresa.
Apesar da mulher ser, no imaginário popular e na cobertura de mídia, vista como a causadora da derrocada da família Gucci, é interessante que o longa estabeleça um olhar que não necessariamente a exime das próprias responsabilidades — Patrizia é retratada como ambiciosa e manipuladora, o que traz os melhores momentos de Gaga na obra —, mas a equipara aos outros envolvidos.
Afinal, os Gucci só travam entre si uma série de acusações, trapaças e chantagens porque têm histórico e estofo para tanto, como nos esquemas de sonegação de impostos ou no prazer pessoal de ostentar luxos desmedidos.
Tropeços econômicos e intrigas familiares se sucedem na trama, dando um bem-vindo ar quase novelesco à obra. Em "Casa Gucci" é concedido ao espectador comum algo como um acesso privilegiado aos "bastidores" do poderio econômico, social e simbólico, "revelados" com requinte e afetação.
Há quem torça o nariz por achar "brega" ou "forçado", mas a opção por contar essa história tão intrincada pelo viés da artificialidade é acertada. Pelos suntuososcenários, excessivosfigurinos, irreaisperucas e macarrônicossotaques que misturam inglês e italiano, a produção potencializa o teatro das aparências que norteia não só os Gucci, mas seus semelhantes.
Confira o trailer de "Casa Gucci":
Casa Gucci
Quando: estreia nos cinemas nesta quinta, 25
Sessões Iguatemi: às 14h30, 17h40 e 20h50 (leg); às 13h40 e 21h30 (dub)
Sessões RioMar Fortaleza: às 14h, 15h, 17h30, 18h30, 21 horas e 22 horas (leg)
Sessões RioMar Kennedy: às 21 horas (leg); às 14 horas e 17h30 (dub)
Sessões Via Sul: às 20h30 (dub)
Sessões Shopping Parangaba: às 15h20, 18h30 e 21h40 (dub)
Sessões North Shopping: às 20h30 (leg); às 14h10 e 17h20 (dub)
Sessões North Shopping Jóquei: às 18h20 (dub)
*horários divulgados pelos shoppings
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