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Tiago Santana destaca "continuidade" e "incremento" como prioridades do Instituto Mirante
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Tiago Santana destaca "continuidade" e "incremento" como prioridades do Instituto Mirante

Tiago Santana destaca prioridades da gestão à frente do Instituto Mirante e explica fechamento temporário de equipamentos
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O fotógrafo e editor Tiago Santana foi anunciado diretor-presidente do Instituto Mirante em fevereiro (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA O fotógrafo e editor Tiago Santana foi anunciado diretor-presidente do Instituto Mirante em fevereiro

Há três meses, o fotógrafo e editor Tiago Santana foi anunciado como diretor-presidente do Instituto Mirante de Cultura e Arte, organização social sem fins lucrativos criada em fevereiro de 2022 para gerir equipamentos públicos como o Complexo Cultural Estação das Artes e o Museu da Imagem e do Som. Reconhecido pelo trabalho no campo cultural, Tiago é também irmão do ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação Camilo Santana.

Após anos atuando na política cultural do Ceará de fora da gestão, Tiago assume pela primeira vez cargo de natureza pública. Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte concedida na sede do Instituto Mirante, o gestor aborda pontos como a presença no cargo, desafios de orçamento, questionamentos sobre fluxos de pagamento e o recente fechamento temporário de três equipamentos sob gestão do Mirante.

O POVO - Você tem atuação como artista, editor, produtor de eventos e sempre foi uma figura presente nos grandes momentos das gestões do Camilo Santana e da Izolda Cela, as entregas de cultura. A quê você credita a indicação ao cargo no Mirante?

Tiago - Além da minha produção, (houve) sempre também um compromisso de colaborar com essa área, como militante cultural. Sempre participei de iniciativas do campo cultural, sempre me envolvi com eventos ligados à fotografia, um militante no sentido de fomentar, ajudar e contribuir para que as pessoas possam ter experiências no campo da cultura, o que é um direito. Participei de vários momentos da história do Brasil e do Ceará nesse nesse ponto. Em 2014, quando o Camilo é escolhido como candidato a governador, eu vi que eu não podia estar fora desse processo, inclusive eleitoral, de contribuir principalmente no campo que eu atuava. Eu nunca quis estar no Estado, dentro, isso foi uma decisão pessoal, familiar, mas não podia deixar de colaborar. Eu tinha dois caminhos (após Camilo assumir o governo): ou dizia que não queria me envolver, e seria criticado, ou atuava, e também seria criticado, então resolvi atuar. Nos oito anos (de mandato), meu papel sempre foi de defesa da garantia de que o governo cumprisse (as promessas do setor). Eu não era uma pessoa que tinha um cargo, mas articulei a minha posição para ajudar um projeto comum, de ter garantias. Acabei me dedicando muito a alguns projetos especiais que o governo tinha se comprometido: o novo Museu da Imagem e do Som, a Estação das Artes e o Centro Cultural do Cariri. Foi criado um conselho de consultores e fomos pensar nesses projetos. Tive um papel forte de estar junto desse grupo. Esse é um projeto que eu tenho muito apreço, carinho. Teve uma mudança de governo (com a eleição de Elmano de Freitas em 2022), obviamente é de continuidade e tem um compromisso do governador de continuar investindo (em cultura). Fui convencido de que era importante (aceitar a indicação ao Instituto Mirante) porque, nesse momento que os equipamentos ainda estão nascendo, cuidar deles ainda era muito importante, para deixar o mais consolidado possível. Não estou aqui porque sou irmão do Camilo, nem a Luisa (Cela, que assumiu a Secretaria da Cultura do Ceará em janeiro) está lá (na Secult) porque é filha da Izolda. Alguém pode até dizer, como dizem lá no parlamento, um oposicionista, mas não estou aqui por isso. Estou aqui porque é um projeto que vem se construindo há muito tempo.

OP - Nesses oito anos, você esteve fora da gestão, mas agora ocupa um cargo de natureza pública. Como vem sendo atender demandas, receber cobranças?

Tiago - Quando a gente está numa gestão, num governo, a política faz parte, é natural saber dividir e balancear as demandas políticas e as questões mais técnicas e operacionais. Eu estou muito tranquilo. É a primeira vez que eu assumo diretamente um cargo que, por mais que não seja de governo, tem ligação e contato direto com o governo. Eu assumi porque, mesmo com o compromisso do governo, eu fui convencido que estar nesse momento era importante para a continuidade, para que eu pudesse ser um articulador, junto com a Luisa, das garantias e fazer o diálogo da política com o lado técnico. Garantir que a sociedade entenda a complexidade desse projeto, que o próprio executivo e os secretários entendam, nos aproximar do legislativo para que eles entendam a importância de proteger e de garantir esse projeto, da sociedade civil e do empresariado. É um compromisso meu com o Estado que esse projeto tenha continuidade, ainda mais com um governo favorável, com o Ministério da Cultura. A gente tem que aproveitar esse tempo, esse momento e as articulações políticas que a gente tem. Eu estou aqui para dar continuidade, para garantir que a gente tenha os recursos necessários e ao mesmo tempo incrementar esse orçamento.

OP - Você veio falando de continuidade, manutenção. Quais são as ações nesse sentido?

Tiago - Primeiro, a gente estava apagando incêndio, né? Porque a OS nasceu com os equipamentos nascendo ao mesmo tempo. Esse ano foi atípico. O que a gente vai fazer agora é: o Estado tem que manter o investimento e a OS tem obrigação de incremento desse orçamento, seja com fontes relacionadas a leis de incentivo ou renúncia fiscal, seja com parceria com instituições nacionais ou fora do Brasil. Agora a gente vai abrir um leque de possibilidades e a gente está nesse momento que é de planejamento. A gente viveu um tempo de emergências e agora vamos parar para pensar um planejamento estratégico para os próximos três anos. Eu acabei entrando no momento de repactuar os contratos de gestão, mas a partir de agora é planejar. Os contratos de gestão são todos de um ano, o que é um erro, isso tem que mudar. Todo ano você tem que fazer um, como é que você planeja? Nossa ideia é fazer um próximo contrato pelo menos dos próximos três anos, entendendo o que a gente quer a curto, médio e longo prazos.

OP - Logo no começo do governo Elmano, foi anunciada uma redução de 10% dos contratos de gestão com OSs. De que forma isso impacta nos planos do Mirante?

Tiago Santana - Ótima pergunta, porque isso tem a ver justamente com o movimento de articulação política nessa área. O Elmano anunciou na época (fevereiro de 2023) o corte generalizado para todas as OSs, mas nós fomos conversar com ele e ele teve o entendimento que na área de cultura não iria cortar, porque a gente mostrou para ele que a gente já teria um corte. Entre o último contrato e agora, por dissídio salarial, por custos, a gente já teria (redução). A gente explicou e ele concordou, então tanto o IDM quanto o Mirante não tiveram o corte previsto. Isso é louvável no sentido de que o governo entendeu que é uma área sensível. Obviamente, ele não se comprometeu em aumentar, porque é o primeiro ano, mas nosso desejo é que se amplie, porque a gente sabe que precisa. Isso gera uma economia importante para o Estado, o PIB da Cultura é maior que o PIB da indústria automobilística e as pessoas não têm essa noção. Mas a gente precisa fazer nossa lição de casa, uma entrega de qualidade, mostrar que é eficiente, até para o convencimento do empresariado que é importante investir e olhar para isso. Os caras adoram ir para o MoMA (Museum of Modern Art, em Nova Iorque), para o (museu do) Louvre (em Paris), mas quando vai para a Pinacoteca acham que não tem implicação nenhuma aqui, não podem ser doadores. A gente tem que implicar o empresariado local.

OP - De que forma os institutos Dragão do Mar e Mirante têm trocado fluxos e expertises?

Tiago - O fato de eu estar no Mirante não quer dizer que vou cuidar e estou olhando só para os equipamentos do Mirante. Estou preocupado com a rede como um todo, com o diálogo da rede como um todo. Já tive várias conversas com a Rachel (Gadelha, diretora-presidente do IDM). O Mirante nasce com a expertise e o aprendizado do Instituto Dragão do Mar, aprendendo inclusive com os erros. É dividir essa gestão no sentido das experiências. A gente vai fazer uma reunião para pactuar uma agenda de colaboração mútua, fazer parcerias sejam do ponto institucional, de modelo e experiências de gestão, mas também da parte de programação, de que forma ela pode circular. A gente trabalha em rede.

OP - O modelo de OS vem nessa perspectiva de desburocratizar, mas historicamente existem demandas, atraso de cachê, questionamentos sobre pagamentos. De que forma esses fluxos vêm se dando no Mirante e como ele tem agido para resolver eventuais questões?

Tiago - É uma obrigação nossa errar menos, porque a gente veio de uma história de anos de IDM. Não é fácil e tem várias questões. Primeiro, as questões internas, como falei, da gente estar apagando incêndio nesse (primeiro) ano, então agora é o momento da gente sentar, planejar e melhorar os fluxos. As críticas são naturais e você não sabe o quanto me dói quando acontece uma desse tipo. Tem também o outro lado, que não é simples. Tanto os artistas quanto os produtores também têm que entender que existe um fluxo. Não é por ser OS que não tem. É dinheiro público. Muitas vezes as questões não são só da OS, vêm do próprio produtor, artista, que também tem que cumprir determinados (fluxos). A OS tem que, no mínimo, garantir fluxos e a compreensão — e aí é um aprendizado mútuo — de que tem um roteiro, e encontrar caminhos que simplifiquem. Mas simplificar não quer dizer que a gente não vai ter que cumprir ritos. Agora, isso tem que estar claro. Talvez alguns dos problemas que a gente teve foram por falta de clareza na comunicação. O papel e o desejo de toda a gestão, da área jurídica, da financeira, é que isso seja zerado, que não seja norma como aconteceu em outros momentos, no IDM por exemplo. A gente tem que ter transparência, clareza na comunicação, diálogo muito grande com artistas e produtores. Nossa meta é que sejam exceções muito pontuais. Isso vai ser minimizado e reduzido, espero que a zero, mas é um processo de construção e, reforço, tem que ter uma clareza e uma comunicação para que o outro lado também entenda que tem um fluxo a seguir. Se você não comunica, não deixa isso claro, ele vai poder cobrar, mas se souber que tem um fluxo, isso minimiza as questões. A pior coisa é a falta de informação.

OP - Em relação à falta de comunicação e entendimento, o primeiro ano dos novos equipamentos teve diferentes momentos que provocam estranheza no público e classe artística: por exemplo, a sala imersiva do MIS fechando no primeiro mês de abertura, as questões das filas e acesso limitado a determinados eventos na Estação das Artes e, recentemente, o fechamento temporário de três equipamentos do complexo. Primeiro, gostaria de compreender esse movimento do fechamento. Depois de que forma o Mirante busca para conseguir fazer com que público e classe artística compreendam decisões e processos?

Tiago - Eles (os novos equipamentos) inauguraram todos prontos? Não. Inauguraram como deu para inaugurar. O governo tem o tempo político. Não fazia sentido o Camilo sair e não inaugurar pelo menos uma parte da Estação das Artes, o MIS e o Centro Cultural do Cariri. A Estação das Artes inaugurou a Pinacoteca só com a Izolda (em dezembro de 2022). A gente tenta fazer da melhor forma possível, quer fazer a melhor entrega possível. O MIS foi inaugurado? Foi, mas de forma ainda paliativa da sua infraestrutura tecnológica, faltavam ainda ajustes, mas tinha o tempo político, que é e foi importante, e aí (depois) ele teve que parar para fazer as adequações, e é natural porque a gente quer fazer a melhor entrega. A gente parou, explicou. A mesma coisa está acontecendo no Cariri. O teatro já era para estar pronto, mas aí não depende de mim, depende da Superintendência de Obras Públicas (SOP), da construtora, é muito mais complexo do que a gente imagina. A Estação das Artes foi a mesma coisa, a gente também depende de outros setores. A gente tem um contrato com uma empresa de tecnologia, de áudio e vídeo. Essa empresa tem um tempo de execução, (mas) com a operação do dia a dia (do equipamento) ela não conseguia finalizar. Então a gente teve que tomar uma decisão. É difícil: ou a gente para e executa, finaliza e faz uma entrega de qualidade agora, ou a gente vai ficar sempre nesse remendo. É difícil, mas é para o bem do usuário. É uma decisão de gestão. Em algum momento do tempo, também vai ter que parar para manutenção. O maior problema de equipamento cultural é manter ao longo do tempo. Você tem que cuidar o tempo todo e, se tiver em algum momento que fechar uma semana e fazer uma revisão, vai ter que ser feito. Nosso desejo é que a Estação abre no dia 2 de junho com tudo isso resolvido. Mas a gente tem o Mercado Gastronômico, que ainda não ocupou em definitivo. Tem um potencial gigantesco, a gente está no processo de entender e vamos agilizar para ter a ocupação definitiva. A gente adoraria ter inaugurado com tudo funcionando, mas não depende só da gente, depende de uma série de passos que tem a ver com a secretaria, o governo, e continuo nesse diálogo de parceria com as instituições do Estado. A gente não está isolado, temos demandas que dependem de terceiros e a gente tem que ser muito transparente e dizer que está fechando porque precisa finalizar e entregar o equipamento da forma que foi idealizado.

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