"A atuação da Ceará Audiovisual Independente (Ceavi) é estratégica e tem como missão principal o desenvolvimento da indústria". É assim que o produtor Roger Pires, da Nigéria Filmes, define o principal papel da Ceavi, associação de produtoras cearenses que já reúne mais de 30 integrantes e terá lançamento oficial nesta quarta-feira, 7, na sede do Sebrae Ceará. A organização busca atuar na representação das empresas e na articulação entre elas e os setores público e privado.
Apesar de estar sendo lançada somente em 2023, a Ceavi existe há pouco mais de um ano. "Nós nos reunimos para que a gente possa levar à frente um projeto para o Estado, em que a gente possa ter uma indústria do audiovisual", resume Neil Armstrong, da produtora Lunart e um dos membros do conselho fiscal da associação.
A oficialização que ocorre agora, com o lançamento da organização à sociedade, é um passo a mais nas ações do grupo. Na ocasião do evento, haverá uma homenagem da entidade ao produtor Rosemberg Cariry, destacado como presidente de honra da Ceavi.
"(O lançamento) é simbólico pois mostra a força do setor e é um ato que cria legitimidade, quer seja na luta por políticas públicas mais consistentes, quer seja no diálogo com os legisladores ou diretamente com o mercado", destrincha Raylane Neres, da Argumento Produções, também integrante da atual diretoria.
"A gente sentia a necessidade de ter uma associação em que pudesse ter mais representatividade junto aos órgãos públicos, mas também ao setor privado, com quem a gente quer dialogar e atrair", aponta Roger.
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"Ter uma organização que reúne e articula tantas produtoras faz com que as instituições com as quais a gente dialoga percebam a nossa representatividade. Não somos mais um ou dois produtores que vamos bater à porta, mas somos vários que acreditam em determinadas estratégias, táticas e ideias", ressalta o presidente.
A Ceavi já vem se organizando, por exemplo, junto à discussão da Lei Paulo Gustavo, a partir da qual o Ceará receberá R$ 178 milhões em recursos — sendo R$ 96 milhões para o ente estadual e R$ 82 milhões para os municípios do Estado.
Os valores vêm diretamente do Fundo Nacional de Cultura e do Fundo Setorial do Audiovisual. A lei, vale ressaltar, irá contemplar todos os segmentos culturais, mas dando ênfase ao investimento no audiovisual, com alíneas específicas para o setor. "A gente tem debatido, estudado e pensado formas de como distribuir esses valores da melhor maneira", compartilha Roger.
O atual cenário, ele ressalta, é de "um novo rumo e uma nova esperança". "Foram anos muito complicados, sem investimento público em cultura e arte principalmente em âmbito federal, e isso faz com que também a gente se movimente, reivindique e esteja presente", contextualiza.
Apesar dos horizontes positivos antevistos pela entidade, os membros ressaltam demandas que seguem em aberto. "Uma das nossas reivindicações é ter a Ceará Filmes, uma agência autônoma que possa gerir, estimular e potencializar o audiovisual no Estado", destaca Roger, citando o Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual. A política cultural do Governo do Estado foi anunciada em 2017, estabelecida como lei em 2021, mas ainda não está totalmente concretizada.
"Tivemos tempos muito difíceis onde ficou mais evidente a necessidade e a oportunidade que pode ser não depender apenas de editais", ressalta Roger. "A principal demanda é a criação e/ou fortalecimento de mecanismos que permitam o diálogo entre as produtoras e o mercado audiovisual do Ceará, minimizando, no curto prazo, a dependência dos escassos e insuficientes editais públicos", dialoga Raylane.
A despeito das dificuldades enfrentadas nos períodos mais recentes, o audiovisual cearense teve, nos últimos dez anos, um período de força qualitativa e quantitativa fruto de políticas construídas anteriormente. Foi, como define Roger, um "momento de resultados consistentes" que inclui prêmios internacionais, nacionais e regionais, além de profusão de estreias de filmes e séries.
"Isso faz com que a gente reivindique um setor ainda mais estruturado, principalmente para que a gente não dependa apenas de editais e que a gente consiga — junto à iniciativa privada e às políticas de subsídio — trazer investimentos para as produções cearenses", afirma o diretor.
"A gente está exportando filmes e séries, ganhando prêmios nacionais e internacionais. A ideia é que a gente possa alavancar cada vez mais nosso audiovisual, dando oportunidade para mais e mais pessoas", arremata Neil.
Lançamento da Ceavi
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