A Pinacoteca do Ceará traz no nome o que deve norteá-la enquanto pensamento e ação: o próprio Estado. Ressaltando obras de artistas cearenses de distintas gerações, o equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará foi inaugurado em dezembro de 2022 e acumula, em oito meses de atuação, mais de 93 mil visitantes. Os próximos passos, ressalta o diretor Rian Fontenele em entrevista ao Vida&Arte, buscam dar partida na descentralização de ações.
"Isso é um reconhecimento, um processo de pertencimento", define Rian sobre os números de público alcançados pelo equipamento em menos de um ano. "Temos defendido que as exposições sejam de longa duração, porque é tanto investimento e energia, tantas mãos e pesquisas, que dali você tem um substrato e uma possibilidade infinita de processos formativos", aprofunda o gestor.
Como mostra principal, a Pinacoteca acolhe "Bonito pra Chover", que se divide em três exposições: "Amar se aprende amando", que marca o centenário de Antonio Bandeira (1922-1967); "No lápis da vida não tem borracha", celebração do centenário de Aldemir Martins (1922-2006); e "Se arar", coletiva de arte cearense.
O equipamento recebeu também exposições na programação do II Fotofestival Solar e, atualmente, conta com "Chico da Silva e a Escola do Pirambu" em cartaz. A Pinacoteca promoveu ainda, conforme Rian, mais de 1600 ações formativas a partir de cada mostra "entre visitas mediadas, oficinas, ateliês de pesquisa e crítica, aulas abertas".
As atividades, ele elabora, dizem respeito a um "processo de consolidação de proposta de diálogo entre o acervo e a educação, compreendendo a importância disso para a construção de um pensamento crítico". Esse trabalho é base para o "compromisso de interiorizar" as ações, conforme adianta o diretor.
"Os grandes desafios adiante estão nessa construção no processo de descentralizar essa política. Todo o nosso compromisso está, depois desse primeiro momento de implementação, em como a gente leva (o diálogo com o educativo) junto com as escolas do interior", afirma.
Rian informa que as exposições dos centenários de Aldemir Martins e Antonio Bandeira vão ao Centro Cultural do Cariri, outro novo equipamento do Governo do Estado, mas que o pensamento da interiorização vai além das obras concretas.
"Não necessariamente precisa ir o material para um espaço cultural, mas que a gente possa levar (o pensamento) porque cada cidade tem uma escola e, nessa escola, a gente leva a experiência dos processos do educativo", explica. "Nosso ponto inicial da interiorização será um processo formativo de professores e de arte-educadores nas escolas. Isso cria um lastro e, a partir disso, a gente vai conseguir desenvolver melhor essas ações", avança.
Rian destaca que uma ação basilar da Pinacoteca é o compromisso de realizar as primeiras visitas mediadas de cada exposição com grupos de professores, "entendendo que eles têm essa responsabilidade rizomática de trazer alunos, que trazem pais e por aí vai".
Cada programação, ação, exposição e atividade promovida no equipamento, porém, depende da existência de um orçamento e, ainda, de uma plena capacidade de execução. Segundo Rian, o compromisso do Governo do Estado é de "manter o investimento", sem quedas ou cortes.
A gestão da Pinacoteca é feita pelo Instituto Mirante, pelo modelo de organização social (OS). Nele, a Secult repassa recursos do Estado para a OS, que os executa a partir de compromissos firmados com o Governo. O chamado contrato de gestão tem caráter anual, mas Rian aponta que ele "precisa e será plurianual" — o que garantiria maior capacidade de planejamento e continuidade.
O modelo de OS possibilita a ampliação de formas de captação, buscada pela Pinacoteca. "A gente não só tem um compromisso de ampliar esse valor (do Governo), mas de como a gente traz sustentabilidade com recursos privados, leis de incentivo, parcerias entre equipamentos e instituições", lista Rian.
O gestor destaca um trabalho específico para "implicar a sociedade fortalezense" na Pinacoteca, com buscas por contribuições diretas a partir da construção de uma política de patronato. "A gente tem metas que estamos construindo para que, a partir do próximo ano, a gente esteja nessa vinda desses recursos diretos e comece com políticas de patronato e de 'amigos da Pinacoteca'", adianta.
"Sem dúvida alguma era necessário fazer a entrega, mostrar a importância do espaço, para que, a partir do que tem construído, a gente faça esse convite de trazer um compromisso da responsabilidade social e cultural com o empresariado para um trabalho que já está sendo feito e reconhecido pela excelência", destaca.
Novas exposições e parcerias
Na conversa com o Vida&Arte, Rian adiantou uma série de movimentos, em diferentes prazos, para a Pinacoteca. Para dezembro, na comemoração de um ano do equipamento, haverá uma exposição de obras do cearense Leonilson e artistas cearenses dos anos 1970 e 1980. Há também previsão, sem data, de mostras da fotógrafa Claudia Andujar e arte cibernética, por exemplo. Até setembro, um dos galpões do espaço deve ser ocupado por parte do acervo do Museu Ferroviário, outro equipamento do Complexo Estação das Artes.
Em outros aspectos, a Pinacoteca também irá inaugurar uma loja/livraria e lançar o primeiro catálogo do equipamento, que trará registro da exposição "Bonito pra Chover" e ensaios sobre cultura cearense. Estão previstas, ainda, parcerias da instituição cearense com o Itaú Cultural e o Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Pinacoteca do Ceará