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"Meu Nome é Gal" acompanha despertar artístico e pessoal da cantora
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

"Meu Nome é Gal" acompanha despertar artístico e pessoal da cantora

Com foco narrativo no período de 1966 a 1971, "Meu Nome é Gal" acompanha o percurso da tímida Maria da Graça até florescer como a forte e imponente Gal Costa
Tipo Análise
Sophie Charlotte interpreta a cantora Gal Costa na cinebiografia 'Meu Nome é Gal' (Foto: Stella Carvalho / divulgação)
Foto: Stella Carvalho / divulgação Sophie Charlotte interpreta a cantora Gal Costa na cinebiografia 'Meu Nome é Gal'

Nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gal Costa trouxe consigo desde sempre — mesmo ainda conhecida como a tímida Gracinha por amigos e família na Bahia — a força que é marca indelével da trajetória de vida e obra da baiana. Em meio a diferentes períodos possíveis para se debruçar, “Meu Nome é Gal” opta pelos anos iniciais da carreira da artista, um período-chave no qual, moldada por contextos pessoais e políticos, deixa fluir a voz revolucionária que guardava em si.

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O recorte temporal do longa, dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, vai de 1966 a 1971, apresentando momentos dos primeiros anos de carreira da artista (interpretada por Sophie Charlotte), da busca por se colocar como cantora aos olhos do público chegando ao começo do estabelecimento artístico. O foco permite que haja um aprofundamento maior no desenvolvimento da protagonista, construindo um retrato de diferentes despertares de Gal.

A partida do filme se dá com a chegada dela ao Rio de Janeiro, já em plena ditadura, para onde vai buscando formas de concretizar a carreira artística. Na cidade, é acolhida por nomes como Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Dedé Gadelha (Camila Márdila), amigos da Bahia que, no Sudeste, já despontavam no cenário cultural e intelectual do País.

Quem chega ao Rio, porém, é Gracinha, uma figura ainda contida, fechada, sem “pinta de subversiva”, como a amiga Dedé ressalta para a dona da hospedagem na qual ela fica. Esse fechamento, inclusive, é visto como um impeditivo para o início oficial da carreira dela como cantora aos olhos de algumas figuras poderosas do meio artístico, como diretores de TV e empresários.

A ideia de uma contenção é mais de uma vez aludida no longa, sendo elemento central para a obra: é o percurso de expansão da jovem que estrutura a narrativa principal de “Meu Nome é Gal”. Na recriação que o filme faz, por exemplo, do processo do álbum “Domingo” (1967), estreia dela em parceria com Caetano, a artista ouve do produtor Guilherme Araújo (Luis Lobianco) que precisa deixar sair a “borboleta” do “casulo”.

A escolha do nome artístico é significativa neste sentido. Guilherme opina que “Maria da Graça” parece cantora de fado ou freira, ao que os amigos lembram que já chamam a jovem de Gau, um apelido comum na Bahia. A vogal final é vista como “pesada” por Guilherme, logo trocada por um “L”, mais livre.

O encontro com a persona artística é, também, o encontro da protagonista com novas experiências de vida, com uma latente libertação que esperava somente o momento certo para ocorrer. Gal, afinal, já estava esboçada em Maria da Graça antes de surgir de fato.

Sophie Charlotte interpreta a cantora Gal Costa na cinebiografia 'Meu Nome é Gal'(Foto: Stella Carvalho / divulgação)
Foto: Stella Carvalho / divulgação Sophie Charlotte interpreta a cantora Gal Costa na cinebiografia 'Meu Nome é Gal'

O longa, como não poderia deixar de ser, entrelaça esse percurso pessoal da baiana com o contexto do Brasil da época — do lugar da artista como “voz” do movimento cultural disruptivo que os amigos buscavam estruturar, ainda que ela mesma preferisse falar pela arte do que por discursos e posicionamentos públicos, aos impactos da ditadura militar na carreira da artista.

As complexidades, contradições e camadas destes contextos que rondavam a artista na época são inúmeras e, por vezes, “Meu Nome é Gal” parece não dar conta de apreendê-las de maneira segura o suficiente. É um senão que busca se justificar pela escolha central do filme em ser um retrato da própria protagonista, não do período — o que cria situações até contraditórias nas quais ele parece mais acompanhar Gal reagindo ao próprio entorno do que, de fato, sendo figura atuante e com agência.

Se o recorte temporal é bem-vindo justamente por possibilitar um olhar mais preciso para o período de estabelecimento de Gal, o longa também parece inseguro de assumir a própria escolha mais perto da conclusão. Isso porque, com a morte da artista antes da finalização do longa, as diretoras voltaram à obra para tentar dar conta da perda.

Cinebiografia 'Meu Nome é Gal' acompanha trajetória de Gal Costa nos anos 1960 e 1970, em meio ao movimento tropicalista(Foto: Stella Carvalho / divulgação)
Foto: Stella Carvalho / divulgação Cinebiografia 'Meu Nome é Gal' acompanha trajetória de Gal Costa nos anos 1960 e 1970, em meio ao movimento tropicalista

A intenção é certamente boa, mas a sequência final parece apressada, quase anticlimática, abrindo mão das escolhas temporais feitas até ali para tentar abarcar a multiplicidade da carreira da artista. É uma homenagem, decerto, mas que acaba por “tirar” o filme dele mesmo.

“Meu Nome é Gal” não reinventa o gênero da cinebiografia, nem sequer a própria retratada — grande parte do que funciona nele, inclusive, é o reconhecimento de momentos-chave da vida e obra dela —, mas cumpre honestamente, ainda que de maneira menos forte do que o esperado, a vontade de reverenciar a artista — que, seja Graça, Gracinha, Gau ou Gal, desponta como “a voz mais bonita do Brasil”.

Meu Nome é Gal

  • De Dandara Ferreira e Lô Politi
  • 87 minutos
  • Quando: nos cinemas do Brasil a partir de quinta-feira, 12
  • Onde: sessões disponíveis no site Ingresso.com

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