"Eu sempre criei. Sempre, sempre, sempre. Eu sempre estive para a criação, não sei dizer quando comecei. Sempre fui desenhando tudo".
A arte autodidata de Arrudas Maria é consequência da espontaneidade do artista em se comunicar através de símbolos, retratando circunstâncias e imagens muitas vezes em atrito, e despertando assim no apreciador diferentes reflexões.
Constantemente crítico consigo mesmo, Arrudas cultiva o hábito de desenhar desde a infância, mas só começou a catalogar as próprias produções em 2017. Antes disso, possuía o costume de se desfazer de suas obras. "Sempre fui uma pessoa muito regrada, muito condicionada a procurar a melhor forma de mim. Então eu sempre tive o prazer de criar, mas destruía tudo que eu produzia logo que terminava. E isso tudo era até catártico, mas não muito produtivo”.
A relação de produção e destruição com sua obra também comunica a intensidade que o artista deposita nas criações. Além disso, a íntima ligação entre as obras e vida pessoal não é um segredo. Em muitas telas, o pintor retrata a mãe, fotografias antigas de parentes, autorretratos e rostos amigos. As obras de Arrudas, de modo geral, não possuem temas específicos e acabam sendo conduzidas pelo objeto de pesquisa atual do artista.
LEIA TAMBÉM | Galerista Leonardo Leal ressalta "frescor" das artes visuais cearenses
A beleza das cores e a tensão dos contextos são artifícios contrastantes em suas telas. Inquietude e aflição são sentimentos que podem perpassar o espectador que se permite refletir sobre as obras. Sobre essa característica no próprio trabalho, Arrudas elabora: "Eu percebo que, em minhas telas, tem um desejo de tensionar uma cena. Eu crio um cenário que remete ao cotidiano, mas que 'quebra' por conta de algo incomum: um objeto criando tensão, por exemplo".
Quando criança, não teve um desempenho escolar exemplar, mas, em compensação, tinha o desenho sempre como um hábito, uma aptidão e um talento. "Sou uma pessoa apaixonada por se comunicar por imagens, que tenta cada vez mais aprender a comunicação verbal", define a si mesmo o artista.
Para Arrudas, desenhar foi uma decisão, mas também uma sentença inevitável. Assim como outros artistas, vê a própria vocação para arte como algo que o cura, mas que, ao mesmo tempo, o condiciona: "Foi uma decisão de vida, mas ao mesmo tempo foi uma coisa 'só tem como ser essa'. Sou uma pessoa que sempre lidou com a depressão e, para mim, a vida só teria significado se fosse por esse caminho. Se eu conseguir pintar, está ótimo. O que eu fizer que conseguir sustentar a pintura, está ótimo".
A intensificação da produção artística começa em 2018, segundo o pintor, após o desenvolvimento de um episódio depressivo. "Acho que, talvez por ter passado por uma exclusão muito grande, com uma dor muito grande, eu tive a compreensão de que arte não pode ter uma forma. Eu preciso colocar todas as coisas pra fora e lidar com esse espelho", relembra o artista.
Quando questionado sobre o objeto de estudo atual, Arrudas explica: "Por muito tempo eu pintei corpos. Acho que hoje em dia eu tenho pintado muito fotografias, insetos, brincadeiras infantis. Eu não consigo definir muito minha pintura em períodos, temáticas ou recortes cronológicos, mas sim em diferentes experimentos com símbolos”.
Ao longo dos desafios deste percurso, o pintor destaca, em especial, a mãe como um suporte central na trajetória. "Para me formar enquanto artista tive muito apoio da minha mãe, que foi e é fundamental para mim. Ela do jeitinho dela, da forma exatamente caótica dela", descreve, acrescentando: "Tive muito apoio e incentivo do meu galerista, dos meus colegas de trabalho, da minha noiva Levi. Em contrapartida, todos esses apoios, tirando a minha mãe, foram bem recentes. Durante um longo período de vida, tive muito o 'não'", reconhece.
Conheça o artista
Arrudas Maria, graduado em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda na Universidade de Fortaleza, iniciou sua trajetória artística com desenhos feitos nas folhas dos cadernos escolares. Hoje, aos 24 anos, expõe seu trabalho artístico na Galeria Leonardo Leal. Além disso, recentemente venceu a 22ª edição da Unifor Plástica e está participando atualmente da exposição "A Primeira Galeria do Mundo", no Porto Dragão.
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui
<div><iframe src="https://open.spotify.com/embed-podcast/show/6sQZbAArx6gWIK8Gume6nr" width="100%" height="232" frameborder="0" allowtransparency="true" allow="encrypted-media"></iframe></div