Músicas, novelas, filmes, cosméticos, culinária. Múltiplas são as áreas do mercado cultural da Coreia do Sul que superam a distância entre os países e adentram as dinâmicas de consumo e fruição dos brasileiros – despertando, assim, a curiosidade para ampliar os conhecimentos sobre a nação asiática.
O movimento, no entanto, é muito mais do que uma simples popularização destes produtos nas camadas da internet. Voltando algumas páginas na história, para a década de 1990, a nação sul-coreana passava por uma crise financeira e, como uma medida de recuperação e melhoria de imagem, o governo passou a investir na indústria cultural.
Os primeiros locais alcançados pela Diplomacia Cultural sul-coreana foram os Estados do leste asiático - como China, Japão e Hong Kong -, com produções audiovisuais (animações, novelas, filmes), musicais e os manhwa (mundialmente conhecidos como mangás). Pouco a pouco, a "Hallyu Wave" - ou "Onda Coreana" em português - , como é conhecido o movimento, foi escalando e abrindo caminho no cenário pop ocidental, conquistando seu espaço. O k-pop, com seus grupos masculinos e femininos, foi ganhando cada vez mais fãs no mundo afora. Os k-dramas, novelas que apresentam um roteiro diferente das produções hollywoodianas, despertam a curiosidade e conquistam o público.
Este último produto cultural exportado, inclusive, chega ao Brasil sendo chamado de dorama e passa a compor o leque de palavras de uma parcela de brasileiros. Essa popularidade chegou à Academia Brasileira de Letras (ABL), que tornou a palavra parte do vocabulário da instituição. Residente em Fortaleza, Mi Young Lee, ou Elisa, como prefere ser chamada, celebra o fato de os brasileiros terem abraçado as novelas sul-coreanas, mas pontua que não esperava isso, devido a diferença entre elas e as obras brasileiras. A nativa do país asiático e os pais dela têm um mercadinho com produtos comestíveis importados diretamente da nação, localizado na avenida Desembargador Moreira, na Capital. À medida que as produções se tornam mais famosas em solo brasileiro, a procura pelos produtos cresceu.
Mas a história de abertura do Uri Mercado está para além do k-pop ou dos doramas. Em 2013, o Ceará recebeu um grande número de coreanos, que estavam vindo para trabalhar na construção do Porto do Pecém. Eles se estabeleceram em localidades nas redondezas da obra, Elisa e a família já moravam no Brasil, em São Paulo, mas resolveram vir para o Estado abrir o estabelecimento, voltado inicialmente para os coreanos que passaram a residir ali. “Querendo ou não, você sente falta da sua comida materna. Então, no começo resolvemos abrir por conta deles", explica, contando que a primeira localização da loja foi na Vila do Cumbuco.
Com a finalização da obra, eles começaram a retornar ao seu local de origem, e as vendas caíram. Contudo, a mulher descobriu que pessoas saiam de Fortaleza para irem até o comércio, interessadas nos produtos. "Percebi que também tínhamos público brasileiro interessado nessa parte de cultura asiática - japonesa, coreana. Vi que tinha uma pequena procura, não era grande naquela época, mas [aumentou] conforme a cultura coreana foi se espalhando mais", conta.
O mercadinho é voltado para venda de variados produtos na área da gastronomia, como, por exemplo, aqueles para a montagem de pratos (arroz, nori [alga], pasta de pimenta), industrializados de fácil preparo, como o famoso lamen (ramyun em coreano), e doces - bombons, chocolates, biscoitos. A famosa bebida alcoólica sul-coreana, Soju também está na lista. A venda dessas mercadorias não fica restrita apenas às terras cearenses. Clientes de outros estados também procuram e compram, recebendo elas por envio de encomendas.
A mulher afirma ficar surpresa com a fama que a cultura dela vem ganhando no País. "Todos os dias fico surpreendida com ela crescendo aqui no Brasil. Nunca pensei nessa possibilidade", revela.
"Mas fico muito agradecida por gostarem da nossa cultura, apesar de ser muito diferente daqui. E tem gente que gosta é disso", brinca Elisa.