Os dados populacionais de indígenas no Brasil deram um salto tecnológico, garantindo um censo mais realista quanto ao número de povos originários no País. Saindo de uma “fotografia analógica” para uma “em full HD”, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta 1.693.535 indígenas residentes, contra os 896,9 mil indicados em 2010.
Ainda que o número tenha quase dobrado, não significa que a população aumentou tudo isso na prática. De acordo com o IBGE, o boom é reflexo da nova abordagem do instituto para a autodeclaração em diferentes localidades indígenas.
Na pesquisa anterior, parte da dificuldade de mapear mais pessoas vinha do entendimento do que é terra indígena. No Censo de 2022, o IBGE ampliou o leque do significado de localidades indígenas: são qualquer parcela do território nacional com ocupação permanente de indígenas. Há, ainda, a consideração das localidades potencialmente indígenas, mesmo que não oficialmente delimitadas.
Qualquer parcela do território nacionalmente com ocupação permanente de indígenas. O IBGE se compromete também com as localidades potencialmente indígenas, não apenas as delimitadas.
Locais com agrupamentos de 15 ou mais indivíduos indígenas.
Ocupações domiciliares dispersas em áreas rurais e urbanas, incluindo entornos de terras indígenas e terras potencialmente indígenas.
Dessa maneira, indígenas não residentes em terras demarcadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) — ou seja, em zonas rurais e urbanas — são melhor considerados.
Daí, importa outra mudança no questionário do IBGE: toda entrevista inclui uma pergunta sobre qual raça, cor ou etnia o entrevistado se declara (branco, preto, pardo, amarelo ou indígena). Como algumas pessoas respondem de acordo com a informação que está no documento de identidade, muitos indígenas diziam “pardo” ou similares.
Para evitar essas situações, o IBGE começou a fazer uma pergunta de reforço se estivesse em qualquer localidade indígena (potencial ou oficial): você se considera indígena?
Antes, o reforço só era questionado dentro das localidades indígenas oficiais. Com a nova metodologia, o órgão mapeou 467.097 brasileiros que não teriam se autodeclarado indígenas apenas com a pergunta sobre cor/raça/etnia; desses, 445.010 (95,27%) residem fora de terras indígenas oficiais. Veja:
Em coletiva de imprensa, a coordenadora do Grupo de Trabalho de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE Marta de Oliveira Antunes pontuou: “No Brasil, 90,26% dos residentes em terra indígena são indígenas, mas apenas 36,73% da população indígena reside dentro das TIs.”
Significa que 1.071.469 (63,27%) indígenas brasileiros estão em zonas urbanas e rurais não consideradas como TIs. Mesmo assim, o número de TIs aumentou na última década, saindo de 505 para 573 (de 2010 a 2022). Nesse período, o IBGE afirma que quatro foram suprimidas e 72 foram inseridas na cartografia brasileira.
O Ceará é um dos estados com nova demarcação de TI na última década. É a TI Tapeba, declarada em 2017 no município de Caucaia. Sobrepondo-se a uma parte da Área de Proteção Ambiental Estuário do Rio Ceará, a TI Tapeba tem cinco mil hectares e abriga 5.791 indígenas.
Nacionalmente, o Ceará é o nono estado em população indígena, e o terceiro considerando apenas a região Nordeste. Apesar disso, apenas 18,58% dos cearenses residem em terra indígena.
Na visualização abaixo, explore os dados sobre a população indígena cearense por município:
Para este material foram consultados dados relacionados à população residente, total e indígena, por localização do domicílio, segundo Unidades da Federação, Terras Indígenas e Municípios Cearenses (Censo Demográfico 2022) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Para garantir a transparência e a reprodutibilidade desta e de outras reportagens guiadas por dados, O POVO+ mantém uma página no Github onde periodicamente são publicados códigos, metodologias, visualizações e bases de dados desenvolvidas.