“A morte vem de longe do fundo dos céus, vem para os meus olhos e virá para os teus; chega impressentida, nunca inesperada, ela é na vida a grande esperada”, assim diz um trecho de “A Morte”, de Vinicius de Moraes. E assim como no dito popular, o poeta define a morte como algo inerente à vida. Mas, para aqueles que ficam, resta a incerteza e uma mistura de sentimentos, muitas vezes indescritíveis.
Na intimidade do pesar, conferir redes sociais, reler conversas antigas, visitar registros feitos pelo Google Maps, que por coincidência eternizaram pessoas no mapeamento geográfico, ou mesmo solicitar ilustrações digitais para lembrar os que já se foram são alguns dos recursos que têm se tornado uma válvula de escape no ato de saudar os mortos nos tempos atuais.
O uso da tecnologia relacionada ao luto abre um debate amplo: para uns é conforto e para outros é reabrir uma ferida e dificultar o processo de aceitação do luto.
Para a cearense Luzia Gomes, de 64 anos, que já vivenciou quatro perdas na família em contextos distintos de luto, medidas como essa trazem um sentimento dúbio. "Por um lado seria bom a gente ouvir (a voz do familiar falecido), mas por outro lado poderia abrir de novo, a gente ficaria mais dolorida”, comenta.
Ela confessa que não se sente confortável com as lembranças da perda e que evita usar qualquer recurso tecnológico para lembrar dos que já se foram. "Eu não gosto de ficar lembrando", afirma com pesar.
Para Luzia, o peso da saudade não pode ser amenizado com recursos digitais. Olhar fotos, vídeos e mesmo revisitar redes sociais não fazem parte da rotina do processo dela de luto, que se apega as lembranças para aquecer o vazio deixado pelo familiar falecido.
Ela critica fortemente o costume antigo de registros durante velórios e enterros e julga o ato como uma invasão. Com relação a morte, Luzia demonstra respeito e abnegação.
"Eu acho que já foi determinado por Deus, né? Já tem que ir né? Vamos deixar quieto, né para mim né? Na minha opinião", afirma ao expressar desconforto com tentativas de "recriar", por meios digitais, as relações e vivências que estabeleceu com quem já morreu.
Dona Luzia, como é conhecida no bairro Jóquei, em Fortaleza, teve a primeira perda de um ente amado aos 23 anos, em 1982. No primeiro contato, o luto se apresentou como um desejo imenso de morrer. O caçula de Luzia morreu com 1 ano e 4 meses, em decorrência de uma doença desconhecida, um mês e quatro dias depois dos primeiros sintomas aparecerem.
Na tentativa de descrever os sentimentos que cercaram a perda do filho mais novo, Luzia destaca a impotência:
"Me senti incapacitada de cuidar do meu próprio filho. Eu queria morrer, porque ele faleceu nos meus braços. Eu olhava para minha filha e eu dizia: 'Jesus não posso. Meu Deus, não posso, eu tenho que viver por ela' e graças a Deus ele me deu força e eu criei minha filhinha, mas foi difícil demais."
Me senti incapacitada de cuidar do meu próprio filho. Eu queria morrer, porque ele faleceu nos meus braços. Eu olhava para minha filha e eu dizia: 'Jesus não posso. Meu Deus, não posso, eu tenho que viver por ela. LUZIA GOMES
Após a morte do filho, ela precisou lidar ainda com a separação do marido e teve que voltar a morar com os pais, que posteriormente também viriam a falecer. Luzia conta que, na época, perdeu peso por não conseguir se alimentar. Desnutrida, ela revela que chegou a pesar 35 kg.
Situações como as vividas por Luzia refletem padrões que podem ser comuns no enfrentamento do luto. Marcela Montalvão Teti, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o luto possui níveis que se assemelham a depressão e ressalta a importância do cuidado do manejo desse sentimento.
“Às vezes quando alguém morre pensamos que somos responsáveis diretos ou indiretos. Pode ser seguido de uma crise de identidade, o que leva a uma sensação de não saber como conduzir a vida após a perda. Em geral, nossa identidade é social, nós somos algo para o outro. Quando o outro deixa de estar presente não sabemos mais quem somos e precisamos nos recriar”, explica a professora.
Com o luto gerando tamanha fragilidade emocional, a especialista pontua ser necessário refletir cuidadosamente sobre os impactos da tecnologia no processamento do luto já que os impactos do universo digital nesse momento tão íntimo não podem ser evitados. “Ter a tecnologia como extensão da vida é um fato. Bom ou ruim, é um fato”.
Apesar da revolução promovida pela IA, a criação de “avatares” para estender o convívio com quem já faleceu é algo que a antecede, conforme analisa a especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e Neurociência.
“Penso que já criamos avatares para o luto. Quando mantemos uma foto em nossa casa de alguém que morreu e conversamos com ela como se fosse a pessoa presente, estamos diante de um avatar”, analisa Marcela.
A especialista comenta ainda que o uso da tecnologia nesse contexto se apresenta como uma nova ferramenta para um processo psíquico milenar e faz um comparativo do uso de recursos digitais com o costume de enterrar os mortos e visitar seus túmulos.
“Se gostávamos muito daquela pessoa, a visitamos com frequência na sua ‘nova morada', deixamos flores e atualizamos o morto a respeito das mudanças que aconteceram na terra desde que ele ‘se foi’. A morte é um fenômeno inexplicável e nós buscamos amenizá-la criando diversos dispositivos para prolongar a vida”, explica.
O processo do luto e a necessidade de recriar a si mesma se repetiu outras três vezes na vida de Dona Luzia. Em 1997, enquanto estava trabalhando em Fortaleza e tentando reconstruir sua vida, ela recebeu a notícia de que o pai – que morava em Viçosa, sua cidade natal, no interior do Ceará – havia tido uma parada cardíaca e morrido logo após.
Segundo ela, o pai sofria de dores de cabeça devido a um aneurisma até então desconhecido. “Para mim foi um choque muito grande. Eu passei mais de 15 dias para poder a ficha cair que ele tinha morrido, porque eu não acreditava, mesmo tendo visto [o enterro] eu não acreditava”.
No segundo contato com o luto, Luzia sofreu com a negação da perda. A psicanalista e psicóloga especialista em mediação de conflitos Silvana Costa explica que nenhum luto é igual a outro e não devem ser comparados.
"A morte é diferente para a maioria das pessoas porque cada pessoa tem uma história com aquele que partiu. Essa relação de quem partiu com quem fica é que vai determinar a forma de enfrentamento dessa dor. Não dá para quantificar porque a dor é muito íntima, é um processo bem visceral, das entranhas", diz Silvana.
É nessas particularidades da relação com o falecido onde surge o desejo de revisitar memórias, e atualmente, isso se torna muito mais palpável e material por causa dos recursos tecnológicos disponíveis.
“Muitas vezes a família passa a cultivar todas as mensagens que foram enviadas no celular da pessoa que morreu, passa a ficar olhando todas as redes sociais daquela pessoa. É até uma invasão de privacidade com a pessoa que morreu”, detalha Silvana.
Para além das perdas que já havia vivido, Luzia enfrentou ainda um processo demorado e doloroso de luto ao acompanhar a mãe lutando contra as sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) por 12 anos. “A gente já esperava que a qualquer momento ela podia fazer a viagem dela, né?! Eu digo assim, mas ninguém nunca está preparado para isso, nunca”, lembra.
Apesar da dor, a morte em decorrência de uma doença que afligiu o então falecido por algum tempo pode representar um luto pacífico ou antecipatório. “Há uma preparação para a morte para a partida dessa pessoa, então a família passa a compreender isso de uma outra forma quando comparada a uma morte por acidente, repentina”, explica Silvana.
Argumento reforçado pela especialista Marcela Teti: “O tempo entre o diagnóstico e a morte nos ajuda a nos preparar para a perda. Às vezes, o próprio paciente que vem a morrer auxilia a família no processo, dialogando e ensinando o outro a viver sem ele. Este processo pode ser libertador e bom para quem fica na terra”.
Diferentemente da morte da mãe que já vinha sendo esperada, com a morte do irmão mais velho, o luto se apresentou para Luzia de forma desesperadora. Ele foi assassinado aos 42 anos em uma briga de bar. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos a faca.
"Foi mais doloroso. Na hora (do atendimento médico) disseram que ele pediu para deixar ele viver porque ele não tinha feito nada com ninguém. Ele queria viver e alguém não deixou. Misturou o luto com o ódio."
Para Marcela Montalvão Teti, a morte súbita não deixa oportunidades de reação ao luto. “Ela encerra muitas vezes a vida de quem poderia viver mais tempo. Impede também que se resolvam ‘negócios pendentes’. Não poder encerrar a situação que você inicialmente tinha adiado, pode ser devastador para muitas pessoas e por isso inconsolável”, afirma.
Neste cenário, as pessoas tendem a ultrapassar os limites de uso “comum” da tecnologia na tentativa de romper com a saudade e eternizar o ente querido. Independentemente dos tipos de luto e os sentimentos que envolvem a dor da perda, a psicóloga e diretora científica da Associação Brasileira Multiprofissional sobre o Luto (ABMLuto), Maria Helena Franco, explica que é preciso ter cuidado no uso desses recursos por pessoas enlutadas.
O alerta, conforme a especialista, se intensifica em especial com relação aos recursos que permitem a recriação da imagem e voz de pessoas que já morreram. “A ferramenta é boa ou má dependendo do uso que se faz dela e especificamente em relação ao luto, considerando o luto de cada um”, aponta Maria Helena.
"No processo saudável de luto, se propicia a vivência das memórias sabendo que elas são e não revivendo ou criando condições artificiais de relação como o uso dessa tecnologia... A memória cabe num lugar de experiência vivida e guardada."
Apesar dos avanços, as IAs e os recursos tecnológicos ainda não são totalmente democratizados e seu uso para amenizar o luto ainda é questionado e gera dúvidas. O consenso entre os especialistas é de que esse debate está longe de acabar. Resta então o questionamento: Quais serão os limites da inteligência artificial na vida e na morte?
O luto está sendo alvo de investimentos massivos por parte de gigantes da tecnologia que prometem oferecer conforto para famílias que sofrem com a perda de algum ente amado. Imersa nesse fluxo, a empresa norte-americana HereAfter.ai está desenvolvendo um "avatar" para interagir socialmente com familiares e amigos após a morte de um indivíduo.
Na página da empresa, o sistema é apresentado como uma extensão das atividades sociais de cada ser humano vivo e também após a sua respectiva morte: "Suas histórias e voz. Para sempre". O avatar é construído a partir de uma base de dados alimentada pelo próprio indivíduo ainda em vida.
Histórias de amor do passado, lembranças de celebrações, posicionamentos políticos e até possíveis conselhos são relatados ao “biógrafo virtual” para que após a sua morte, o avatar possa ser o mais fiel possível a como a pessoa que ele representa foi antes de morrer.
Para a psicanalista e psicóloga especialista em mediação de conflitos, Silvana Costa, o desenvolvimento da tecnologia e das IAs chega com a ideia de ajuda, mas pode atrapalhar o seguimento natural do luto. “É uma negação do processo de morte”, enfatiza ao destacar que nenhum aparato digital, por mais complexo que seja, é capaz de ocupar um espaço humano dentro das relações afetivas.
“O avatar vai ficar interagindo com aquela família e acontece a probabilidade de um adoecimento psíquico, porque aquela pessoa que morreu continua presente. Se ela continua presente então o que que a gente vai pensar em relação à humanidade? Ninguém vai nunca morrer”, afirma a psicóloga.
Apesar de abrir um amplo debate, o uso de tecnologias no enfrentamento do luto pode ser mais moderado. Em julho deste ano, O POVO reportou o caso da jovem norte-americana, Emily Watlington, que viralizou mundialmente ao revelar que recorre ao Google Maps para relembrar um momento ao lado de um amigo já falecido.
Nos comentários da publicação, milhares de outros internautas compartilharam experiências similares. “Às vezes faço isso no Google Maps vendo meu pai sentado na calçada de casa (...) Dói demais, mas as fotos nos ajudam a manter a memória viva, assim como as lembranças deles”, relatou uma das seguidoras, identificada como Emanoele Clarisse.
Uma outra confissão feita pelos seguidores do O POVO foi a de recorrer ao registro de vídeo para uma sensação de retorno à rotina.
“Faço isso com os registros da câmera de segurança do meu prédio. Vejo meu ex-marido quando vinha ver nossos filhos. Também o perdi. É uma dor eterna”, descreveu Dimitria Caminha, também na publicação.
Diante dos relatos, fica evidente que os avanços tecnológicos dos últimos anos vêm impactando, positiva e negativamente no processo de luto.
Dentro desse contexto, Silvana finaliza com a ressalva de que é necessário cautela ao se valer da tecnologia no trato das emoções humanas, em especial do luto. Caso contrário, há um risco de dissociação da realidade, já que os vivos serão nutridos por um “afeto falso” digital e como “o processo de negação da morte vai continuar existindo, nós vamos criar uma vida fake (sic)”.
A relação entre o luto e a Inteligência Artificial (IA)) está se expandindo para além de um conforto emocional às famílias e amigos. A tecnologia que recria vozes e rostos de pessoas mortas já está sendo utilizada para fins comerciais, gerando assim novas camadas no debate sobre os limites do luto na era digital. Um caso de grande repercussão no Brasil relacionado a essa discussão é a campanha publicitária da Volkswagen com a cantora Maria Rita junto à presença digitalmente produzida de sua mãe, Elis Regina, que faleceu em janeiro de 1982.
Para além deste caso, Marília Mendonça, Cristiano Araújo, Gabriel Diniz, Cazuza e Belchior também tiveram suas vozes digitalmente revividas por Inteligências Artificiais, interpretando canções atuais em produções amadoras e distribuídas pela internet. As duas situações expõem o nível do envolvimento da sociedade com as IAs e a tentativa de prolongamento da vida e obra desses artistas, mesmo que para isso questões relacionadas à memória e ao luto por tais perdas sejam, por vezes, ignoradas.
Para o presidente da Comissão de Propriedade Intelectual, Mídias, Entretenimento, Direito e Novas Tecnologias na Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), Roberto Reial, a legislação atual ainda não é clara o suficiente para estabelecer parâmetros para a exploração econômica do uso de imagem de alguém já falecido.
“O desenvolvimento tecnológico digital tem sido gigantesco cotidianamente, e, por isso mesmo, se faz necessário, por exemplo, estabelecer um conceito formal para a IA, haja vista, existir a cada mês um novo software, uma rapidez na internet das coisas e os impactos constantes na vida de cidadãos”, explica o advogado.
Entretanto, ele explica que legalmente os direitos da personalidade “post mortem” são administrados pelos herdeiros, não havendo impedimentos para a publicidade. “Não há ninguém que venha proibir a utilização da imagem da Elis Regina para exploração comercial, se os herdeiros assim quiserem e desejarem, assim como quiseram. Agora, discutir se isso é moral, ético ou não, é uma outra discussão”.
Já para Joyceane Bezerra, doutora em Direito e professora titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Fortaleza (Unifor), há uma limitação legal pelo artigo 11 do Código Civil, que afirma que os direitos de personalidade são “intransmissíveis e irrenunciáveis”.
Segundo ela, os herdeiros podem se beneficiar com os direitos autorais decorrentes das atividades efetivamente realizadas, como músicas e shows, mas a lei não permite exploração da imagem ou voz, por exemplo, para criar situações nunca vivenciadas.
“Imagine-se a situação em que uma pessoa com específico padrão ideológico (em vida) tivesse a sua imagem associada a um padrão contrário após a sua morte. No mínimo se teria uma violação à identidade pessoal”, afirma a professora.
Para ambos, a campanha publicitária levantou um debate acerca das opiniões e ideais defendidos por Elis Regina em vida que podem ter entrado em conflito pela decisão de outras pessoas. No caso das reproduções de voz de cantores falecidos após a morte, os juristas analisam que a lei ainda é imprecisa. A orientação legal diz respeito apenas aos impactos para as famílias e entes queridos, que podem buscar ajuda caso se sintam prejudicados por aquele feito.
Paralelo a esse debate, tramita no Senado o Projeto de Lei (PL) 2338, de 2023, que prevê a regulamentação sobre o uso da Inteligência Artificial no Brasil. O projeto é de autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e “estabelece normas gerais de caráter nacional para o desenvolvimento, implementação e uso responsável de sistemas de Inteligência Artificial no Brasil”.
Segundo o documento oficial, o Projeto de Lei busca garantir a centralidade da pessoa humana e o livre desenvolvimento da personalidade. Roberto Reial Linhares, porém, pontua que a medida deve ser vista “para ontem” para que não fique desatualizada, visto que os avanços tecnológicos acontecem a todo momento.
>> Artigo
*Por Fábio Gomes de Matos e Souza
Gostaria de compartilhar algumas informações e opiniões sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial e promoção de bem estar e saúde mental. Recentemente, o importante jornal britânico “The Gardian” publicou uma reportagem que narrava a história de uma mulher que que perdeu um familiar querido e usou o ChatGPT (Chat Generative Pre-Trained Transformer) para compartilhar sua perda.
A senhora escreveu para o ChatGPT a sua história, que estava perdendo uma pessoa querida da família e que estava sofrendo muito. A resposta fornecida pelo referido programa foi LUTO É O PREÇO QUE VOCÊ PAGA PELO AMOR.
Ou seja, só passam pela difícil experiência do luto aquelas pessoas que experienciaram o amor. Todos os dias morrem muitas pessoas no mundo mas vamos sentir muito mais a perda daquelas pessoas que tiveram uma relação afetuosa conosco.
O ChatGPT é um programa de chatBot, uma ferramenta nova e de interação que utiliza inteligência artificial. Chamou atenção desde seu lançamento devido às respostas articuladas. Alguns especialistas em tecnologia o consideram um marco, de forma semelhante ao Google que se tornou sinônimo de site de busca.
Tais ferramentas de inteligência artificial podem desempenhar papel complementar a iniciativas como psicoeducação e meditação guiada, ampliando e popularizando o acesso a esses recursos. Oferecer ferramentas para que as pessoas possam ser ajudadas, com mais tranquilidade, serenidade, procurar os outros amigos, procurar as pessoas que estavam afetivamente ligadas com essa pessoa que faleceu.
É necessário entender que o ChatGPT não é um terapeuta. É uma ferramenta útil mas a relação que se estabelece entre terapeuta e paciente, baseada em confiança e empatia implica uma interação entre dois seres humanos. Existem algumas propostas de terapias baseadas em aplicativos que ainda carecem de validação científica. E vivemos em tempos nos quais as pessoas tem variados níveis de saúde mental, sendo muitas vezes vítimas de pessoas que prometem curas milagrosas.
A busca de saúde mental é um caminho, cabe a comparação com uma estrada a ser percorrida, algumas vezes mais íngreme e em outras uma pista asfaltada. Cabe a nós guiarmos as nossas vidas e em alguns momentos pedir apoio às pessoas que nos querem bem e a profissionais qualificados.
Não devemos nos alienar das ferramentas de inteligência artificial, ou seja, nem ignorá-las nem endeusá-las. O caminho é torná-las nossas aliadas.
*Fábio Gomes de Matos e Souza é pós-doutor em Psiquiatria e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)