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Furto ao Banco Central: a poeira do túnel, os que escaparam e outras histórias
Reportagem Seriada

Furto ao Banco Central: a poeira do túnel, os que escaparam e outras histórias

Quadrilha que violou caixa-forte do Banco Central de Fortaleza por um túnel, e de lá saiu com R$ 164,7 milhões em agosto de 2005, ocultou personagens debaixo da poeira deixada pelo episódio histórico. E fez um legado no cenário criminal brasileiro. Nesta reportagem, você verá fotos inéditas a que O POVO teve acesso
Episódio 2

Furto ao Banco Central: a poeira do túnel, os que escaparam e outras histórias

Quadrilha que violou caixa-forte do Banco Central de Fortaleza por um túnel, e de lá saiu com R$ 164,7 milhões em agosto de 2005, ocultou personagens debaixo da poeira deixada pelo episódio histórico. E fez um legado no cenário criminal brasileiro. Nesta reportagem, você verá fotos inéditas a que O POVO teve acesso
Episódio 2
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Vinte anos depois, o tempo e a memória picotam detalhes do que foi aquele furto milionário ao Banco Central de Fortaleza. Mas o enredo é tão longevo quanto intrigante. De um plano absurdamente ousado e tudo o que até hoje se sucede. Uma quadrilha de 30 e poucos homens escavou um buraco de 80 metros de extensão (segundo laudo oficial da perícia da PF nos autos), entre o final de abril e o início de agosto, por debaixo de uma das avenidas mais movimentadas da Cidade, para invadir uma caixa-forte até então inviolável.

Tanto tempo depois e a poeira daquele túnel segue espalhada pelo ar. Em histórias e personagens que não foram notados à época das investigações policiais. Pelo impacto que causou no cenário criminal brasileiro, ao financiar diversas ações ilícitas nos anos seguintes. A sujeira ficou mais densa. Na época, não havia no Brasil notícias de um crime desse porte. Era o maior furto registrado no País.

Entre a noite do dia 5 e o começo da manhã de 6 agosto de 2005, o grupo entrou e saiu de lá, sorrateiramente, levando mais de três toneladas e meia em notas de 50 reais. No total, R$ 164.755.150,00. Eram cédulas que estavam separadas dentro do cofre porque iriam a descarte, por serem desgastadas. Seriam mais difíceis de rastreamento. Esta era informação vazada aos criminosos por seguranças terceirizados do banco. 

Vista da distância entre a casa da rua 25 de Março, nº 1071 (o imóvel de fachada branca, centralizado na parte de baixo da imagem) e o edifício-sede do Banco Central em Fortaleza (o prédio de colunas cinzas e janelas brancas), no Centro da Capital(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista da distância entre a casa da rua 25 de Março, nº 1071 (o imóvel de fachada branca, centralizado na parte de baixo da imagem) e o edifício-sede do Banco Central em Fortaleza (o prédio de colunas cinzas e janelas brancas), no Centro da Capital

Pela quantidade de criminosos, fatos conectados em pelo menos 14 Estados mais o Distrito Federal, desde a retirada até a lavagem do dinheiro, seria difícil o passado não apresentar velhas “novidades”. É o próprio responsável pelo inquérito do caso ao longo de cinco anos, o delegado federal Antônio Celso dos Santos, 65 anos, hoje aposentado, que conta de pequenas pontas que ficaram soltas.

Uma delas, segundo ele, foi a de que pelo menos dois homens da quadrilha não foram alcançados pelos investigadores quando o trabalho policial estava em andamento. Passaram incólumes, sem denúncia, sem punição pelo crime.

“Depois que o caso todo terminou, você pensando, repensando, lembrando de detalhes, teve dois que hoje nós sabemos que participaram, que a gente descobriu já no final, mas não tinha até então identidade de quem seria. E depois de muito tempo a gente pensando, falou: ‘pô, mas esse aqui era o era fulano de tal que a gente nunca conseguiu pôr a mão, que um era um genro do Pedrão (Pedro José da Cruz, um dos réus) que o pessoal chamava ele de ‘Loirinho’ e a gente não sabia quem era’”.


 

Celso aponta que Loirinho teria sido inclusive um dos “tatus”, tendo participado ativamente da escavação do túnel desde o início e recebido sua fatia de quase R$ 5 milhões. Sua identidade não foi confirmada durante a investigação principal. E se soube posteriormente de um desfecho trágico para o personagem. Sem lembrar de datas, o delegado descreve que Loirinho “foi sequestrado junto com o Anselmo (Oliveira Guimarães, o ‘Cebola’) para ser extorquido (por policiais). Foi morto e jogado dentro de uma cisterna”.

Cebola tinha 32 anos quando foi morto nessas circunstâncias em janeiro de 2007, com outros dois homens, Márcio Markoski Simão e Quirino José Brito, ambos de 27 anos. Os corpos acabaram num buraco como o que escavaram. Estavam amarrados, estrangulados, dentro de um poço a 22 metros de profundidade, no município de Santa Isabel, Região Metropolitana de São Paulo. Loirinho seria o apelido de Markoski. Sua relação com o furto ao BC teria sido identificada postumamente.



Do segundo personagem que passou batido à investigação, o delegado reconta que seu envolvimento não teria sido de chefia, era papel menos relevante no grupo. Teria sido próximo de gente da “casa do Mondubim”, apontada como uma das bases da quadrilha em Fortaleza nos primeiros dias pós-retirada dos milhões. “Nós nunca conseguimos identificar porque aparecia só apelido. E nem todo mundo conhecia o cara. Um morreu (Loirinho), não adiantava mais ir atrás, e esse outro até hoje não sei a identidade dele”, admite Celso.

No imóvel do bairro Mondubim, na avenida Perimetral, foram recuperados R$ 12,2 milhões em espécie e cinco pessoas foram presas. O dinheiro estava dentro de um buraco - mais um dessa história - debaixo da cama de um dos quartos da casa. Também houve buraco no quintal de uma casa na periferia de Natal, cerca de R$ 450 mil enterrados dentro de uma mala. Foram achados por meninos que pularam o muro para buscar uma bola que havia caído no local.

Um desses buracos estava na cozinha de uma casa em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, que escondia o cofre de um dos investigados mais procurados do caso: Antônio Jussivan Alves dos Santos, o “Alemão”. Apontado como um dos mentores do furto, Alemão foi preso em 25 de fevereiro de 2008, após 931 dias de fuga. Atualmente, está recolhido na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR).



Segundo o delegado, o financiador teria sido o paulista Luiz Fernando Ribeiro, o “Fernandinho”, que teria investido cerca de R$ 300 mil. Fernandinho foi morto apenas dois meses depois do furto. Em 7 de outubro, foi sequestrado quando chegava numa boate em São Paulo. Sua família pagou o resgate, de R$ 2 milhões, mas seu corpo foi desovado dois dias depois numa estrada em Camanducaia (SP). Policiais civis teriam cometido a extorsão mediante sequestro.

O dinheiro em espécie que não foi recuperado é uma das controvérsias mais perpetuadas nesse tempo. Muitos ainda pensam em cédulas de 50 enterradas por quem fez parte da quadrilha. Perguntado se, na hipótese de a investigação ser reaberta, ainda haveria gente a ser presa e mais coisa poderia ser descoberta, Antônio Celso não hesita. “Certeza, muita coisa, muita gente. Não os cabeças, mas um ou outro que teve participação secundária, algum lavador de dinheiro que acabou ficando com dinheiro também”.

Casa do bairro Mondubim, em Fortaleza, onde a Polícia Federal encontrou R$ 12,2 milhões em espécie, do dinheiro retirado do BC(Foto: CHICO GADELHA EM 28/9/2005)
Foto: CHICO GADELHA EM 28/9/2005 Casa do bairro Mondubim, em Fortaleza, onde a Polícia Federal encontrou R$ 12,2 milhões em espécie, do dinheiro retirado do BC

 

 

119 condenados em 28 ações penais, 35% recuperados do valor furtado 

Segundo levantamento feito pela 11ª Vara Federal no Ceará, o caso do furto ao BC de Fortaleza teve 133 réus em 28 ações penais e 119 deles foram condenados. Sete foram absolvidos na 1ª instância, mais 13 absolvidos em 2ª instância (Tribunal Regional Federal-5ª Região), dois acusados morreram, um teve ação trancada no TRF-5, dois acusados fizeram transação penal (admitiram culpa em acordo) e dois tiveram a competência declinada pela Justiça Federal e transferida para a Justiça Estadual.

Do valor retirado pela quadrilha, a Justiça Federal estima que 35% tenham sido recuperados, pouco mais de um terço. A partir de apreensões de dinheiro em espécie e bens confiscados de aquisições feitas por membros da quadrilha. Entre 2007 e 2013, foram realizados 77 leilões. De casas, sítios, terrenos, postos de combustíveis adquiridos, motos e carros, relógios, joias. Nos arremates, foram recuperados cerca de R$ 12,5 milhões.

Os crimes apontados foram de furto qualificado, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro (a maioria dos réus). Mas também houve sequestro, extorsão, uso de documento falso. Deles, 31 foram condenados pelo furto propriamente. A maior pena aplicada, de 170 anos, para um dos escavadores, Raimundo Laurindo Barbosa Neto, o “Neto Laurindo”, foi depois reduzida para 17 anos. 

Assista aos episódios do webdoc Banco Central: o furto que não acabou, disponível no O POVO+

 


Pena de Alemão vai até 2035; ideia do túnel teria sido após dicas de vigilantes 

Um dos réus pelo furto ao BC que tiveram a execução de pena transferida para a Justiça Estadual foi Antônio Jussivan Alves dos Santos. Nos relatórios investigativos, “Alemão” é descrito como o que vendeu a ideia do plano de furtar o banco a partir de um túnel. No jargão policial, foi quem teria “levantado a fita”. Teria recebido dados preciosos de vigilantes terceirizados que trabalhavam no BC naqueles dias. Sobre a estrutura do prédio e o sistema de segurança.

Uma reunião numa casa na praia do Icaraí, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, teria selado o plano no início e consolidado já durante as escavações, segundo os autos processuais. Um retrato falado dele chegou a ser feito à época, a partir do depoimento de um agente sanitarista ouvido pela PF, quando ainda não se sabia se ele era participante do grupo.

O servidor havia inspecionado a casa na época da escavação e viu Alemão. Mas, segundo o delegado federal Antônio Celso dos Santos, o nome só foi confirmado com a prisão de cinco homens na "casa do Mondubim", 50 dias após o furto.

Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, e algumas de suas identidades falsas adotadas enquanto esteve foragido(Foto: REPRODUÇÃO POLÍCIA FEDERAL)
Foto: REPRODUÇÃO POLÍCIA FEDERAL Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, e algumas de suas identidades falsas adotadas enquanto esteve foragido

Alemão também recrutou parentes e conhecidos no chamado “núcleo Boa Viagem” da quadrilha. A cidade cearense é terra natal de vários dos condenados. Ele idealizou, escavou e deu ordens, conforme os autos processuais. A PF estimou que o condenado teria ficado com R$ 10 milhões a R$ 12 milhões na partilha, o que foi negado pelo próprio em depoimento.

Estava numa concessionária de pneus em Taguatinga (DF) quando recebeu voz de prisão. Usava cabelos grandes e diversas identidades falsas para tentar seguir fugindo. Ao ser preso, após dois anos e meio de fuga, em janeiro de 2008, disse que teriam sido R$ 5 milhões e que não era líder. Aquela fora mais uma entre todas as capturas dos membros da quadrilha, desde os escavadores aos lavadores, em que nenhum tiro precisou ser disparado pelos agentes federais.

Alemão hoje está com 56 anos de idade. Em 2007, dois anos após o furto, a Justiça Federal no Ceará anunciou sua sentença de 80 anos, 10 meses e 20 dias. Porém, em 1º de agosto de 2023, ele teve sua condenação revisada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A pena caiu para 11 anos e seis meses. O benefício da redução teria sido aplicado em relação aos crimes de uso de documento falso e por associação criminosa. A punição pelo furto foi mantida.

Desembarque de Alemão na sede da PF no Ceará, em março de 2008, após ter sido preso em Taguatinga (DF) em mais de 900 dias como fugitivo pelo furto ao BC(Foto: SEBASTIÃO BISNETO EM 4/3/2008)
Foto: SEBASTIÃO BISNETO EM 4/3/2008 Desembarque de Alemão na sede da PF no Ceará, em março de 2008, após ter sido preso em Taguatinga (DF) em mais de 900 dias como fugitivo pelo furto ao BC

Ao O POVO, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) confirmou que Alemão deve seguir na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) pelos próximos dois anos, no mínimo. Mas ainda preso por pelo menos mais uma década. “A 1ª Vara de Execução Penal da Comarca de Fortaleza determinou a renovação de permanência do preso, pelo período de dois anos, contados do dia 5/11/2024. O réu deve cumprir pena até 2035”.

Entre seus crimes ainda em cumprimento de pena também está uma tentativa de fuga no sistema prisional cearense. Em agosto de 2017, ele tentou pular um muro da Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Alemão foi baleado, permaneceu vários dias internado. Ao receber alta, passou a transitar por várias unidades do sistema penitenciário federal.

O advogado Luiz Henrique Baldissera, que atuou na redução da pena de Alemão, disse que ele não é mais seu cliente desde o ano passado e que não sabe quem estaria como seu representante atualmente. Na plataforma de consulta processual do TJCE, as movimentações mais recentes em relação ao nome de Antônio Jussivan são de junho de 2024, sobre embargos declaratórios.

 

 

"Homem do gorro" aniversariava no dia da retirada dos milhões e citou propina a fiscal

Dentro da quadrilha que furou e furtou a caixa-forte do BC, Jorge Luiz da Silva era conhecido como "Mineiro". Mas seu rosto ganhou fama e ares de mistério. Desde o segundo dia da investigação, a Polícia Federal divulgou a foto de uma RG com um homem usando um gorro preto e o nome inventado de "Paulo Sérgio de Souza". Parecia um deboche. Aquela foi a primeira cara exposta de alguém do bando.

As iniciais do personagem serviram para abrir a empresa de fachada "PS Grama Sintética", que moldurou a casa de onde saía o túnel até o cofre. E Paulo Sérgio havia circulado pela vizinhança nos dias em que o buraco ia se esticando pelos escavadores. Distribuiu até bonés de brinde, com a logo da falsa empresa, numa sauna gay que funcionava à noite em frente à casa do túnel.

Por acaso ou por piada, outra informação subliminar naquela identidade era a data de nascimento: 5 de agosto. O dia foi o mesmo que os criminosos usaram para iniciar a retirada dos R$ 164,7 milhões, até a primeiras horas da manhã seguinte, no ano 2005.

Documentação em nome de Paulo Sérgio de Souza, datada de abril de 2005, autenticada num cartório de Maranguape, usada para abrir a firma de fachada PS Grama Sintética(Foto: MARCOS CAMPOS EM 10/8/2005)
Foto: MARCOS CAMPOS EM 10/8/2005 Documentação em nome de Paulo Sérgio de Souza, datada de abril de 2005, autenticada num cartório de Maranguape, usada para abrir a firma de fachada PS Grama Sintética

Jorge Luiz/"Paulo Sérgio" teria sido um dos primeiros a receber o convite de "cabeças" da quadrilha para entrar no plano. Ainda em fevereiro de 2005, recebeu o chamado feito por Edinho (Edson Vieira de Almeida, condenado, preso), Alemão (Antônio Jussivan Alves dos Santos, condenado, preso) e Fernandinho (Luiz Fernando Ribeiro, morto). Estavam a seis meses da escavação ser concluída.

Todos são informações que constam no seu auto de prisão em flagrante, repassadas em depoimento. Ele disse que sua participação "seria arranjar um imóvel para alugar", mas que não saberia até ali para qual destinação. Teria chegado a Fortaleza em 8 de abril, reconheceu a firma num cartório de Maranguape no dia e a empresa foi registrada dia 18 na Junta Comercial do Ceará (Jucec).

Mas Jorge/PS garantiu só ter sabido do túnel "algum tempo depois", por Antônio Edimar Bezerra (um dos presos na "casa do Mondubim" com R$ 12,2 milhões em espécie, condenado, preso). A sequência, admitida por ele, é que acabou envolvido em tudo. Foi ele que comprou toda a madeira e anéis de aço usados para as escoras da parede do túnel.

Imagem do túnel, no ponto inicial da escavação, no momento em que agente federal entra para trabalho pericial(Foto: EDIMAR SOARES EM 8/8/2005)
Foto: EDIMAR SOARES EM 8/8/2005 Imagem do túnel, no ponto inicial da escavação, no momento em que agente federal entra para trabalho pericial

Ele contou até de "problemas com vários órgãos oficiais, como Polícia Militar, Coelce, Vigilância Sanitária, agentes da Secretaria da Saúde e fiscais da Prefeitura". Preventivamente, o túnel teria recebido "uma tampa de cerâmica muito bem feita" para eventuais situações inesperadas. Segundo Jorge/PS, a Coelce tentou cortar a energia por débitos antigos, mas ganharam prazo e evitaram; PMs quiseram entrar na casa, mas não tinham ordem judicial; a Vigilância Sanitária vistoriou os ambientes do imóvel.

A história mais curiosa contada por ele foi a de que supostamente pagou propina, de R$ 500, a um fiscal da Prefeitura. O servidor teria cobrado por fora para liberar o alvará de funcionamento. "Que foi o próprio interrogado que foi levar o dinheiro na Prefeitura no dia seguinte e o entregou diretamente nas mãos do referido fiscal, do qual não sabe declinar o nome". Teria sido na mesma data da entrega do alvará. E fiscais da Secretaria da Saúde também entraram na casa, era época de uma epidemia de dengue na cidade.

Jorge/PS, que tem 56 anos, demorou a ser alcançado. Só conseguiram prendê-lo em 25 de setembro de 2008. Tardou mais que a captura de Alemão, feita em janeiro daquele ano. Sua mulher também foi condenada pelo crime de lavagem. A PF disse que, com o dinheiro do furto, ele comprou quatro casas, oito terrenos, pelo menos três veículos foram confiscados. Jorge Luiz foi condenado a 50 anos por furto, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro. A pena foi revisada para 19 anos. Ele segue preso, segundo a Justiça Federal. 

Confira a situação atual dos réus do caso do furto ao Banco Central

 

 

Crime foi replicado em outras ações e fortaleceu facção

O plano de um túnel para invadir uma caixa-forte, tão segura como era a do Banco Central de Fortaleza, acabou replicado em várias ações ilícitas dentro e fora do Brasil nos anos seguintes. Túneis em Porto Alegre (RS), em Maceió (AL), na cidade de Assunção, no Paraguai, sempre para ataques silenciosos a instituições financeiras e de segurança de valores. Aquele não era o primeiro caso, mas o episódio fez legado com impactos mais duradouros no cenário do crime nacional.

À época do furto, o delegado federal Antônio Celso dos Santos coordenava a Divisão Nacional de Repressão a Crimes contra o Patrimônio da Polícia Federal. Hoje aposentado, atuando como consultor de segurança, ele opina que o episódio fortaleceu a conexão das quadrilhas para grandes furtos e assaltos, o dinheiro levado ajudou a bancar diversos outros crimes e até consolidou a presença da facção paulista no Ceará.

Criminosos da quadrilha que escavou o túnel na agência do Banrisul, em Porto Alegre, ao serem flagrados pelos policiais federais, em setembro de 2006(Foto: DIVULGAÇÃO POLÍCIA FEDERAL)
Foto: DIVULGAÇÃO POLÍCIA FEDERAL Criminosos da quadrilha que escavou o túnel na agência do Banrisul, em Porto Alegre, ao serem flagrados pelos policiais federais, em setembro de 2006

O estado nordestino já era zona de interesse de nomes graúdos do crime organizado, mas até então mais como refúgio do que como base. O caso BC também foi divisor para isso. Celso diz que o Ceará passou a receber investimentos mais fixos dos criminosos. "Era um local ideal para desenvolvimento de várias outras ações criminosas e eles foram se estabelecendo aí. Levou um pouco do eixo de São Paulo para o Ceará", pontua.

A investigação do furto ao BC teria levado à descoberta de material crucial, segundo o delegado, que gerou dados para entender uma das ações mais expoentes já realizadas pelo PCC: os ataques de 2006 em São Paulo, conhecidos como "Salve Geral". Já naquela época foi apontado que o dinheiro retirado do Banco Central teria ajudado nos atos violentos.

Delegado federal Antônio Celso dos Santos, que respondeu pela investigação ao longo de cinco anos, no dia que visitou o túnel pela primeira vez (Foto: Reprodução Polícia Federal)
Foto: Reprodução Polícia Federal Delegado federal Antônio Celso dos Santos, que respondeu pela investigação ao longo de cinco anos, no dia que visitou o túnel pela primeira vez

 

A sequência de atentados nas ruas da Capital paulista e rebeliões no sistema prisional estadual, aconteceram em maio daquele ano. Em dez dias, mais de 500 mortes, mais de 100 feridos, entre civis, criminosos e agentes de segurança.

"Pois daquelas ações surgiu material para várias outras investigações que até hoje o Gaeco ainda está trabalhando", diz, mencionando o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), núcleo do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Investigações sobre lavagem de dinheiro em diversos setores, como postos de gasolina, transportadoras, empresas de ônibus e cooperativas.


 

  • Texto Cláudio Ribeiro
  • Edição O POVO+ Fátima Sudário
  • Identidade visual Cristiane Frota
  • Imagens Acervo Polícia Federal, Acervo OPOVODOC, Fco Fontenele
  • Pesquisa Roberto Araújo/OPOVODOC
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Assalto ao Banco Central em Fortaleza

O furto milionário ao Banco Central em Fortaleza, em 2005, é daquelas histórias que parecem não ter fim. É um enredo que alia crime, mistério, suspense, plano (im)possível, crime organizado, sequestro, morte, investigação policial e jornalística, segurança pública, encontros e desencontros, além de uma poeira sempre no ar