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O impacto do banimento a Trump nas redes sociais
Reportagem Seriada

O impacto do banimento a Trump nas redes sociais

Após os bloqueios, mundo volta a debater os limites da liberdade de expressão e o que é censura. Decisão das plataformas gera expectativa sobre a postura quanto às demais lideranças globais
Episódio 2

O impacto do banimento a Trump nas redes sociais

Após os bloqueios, mundo volta a debater os limites da liberdade de expressão e o que é censura. Decisão das plataformas gera expectativa sobre a postura quanto às demais lideranças globais
Episódio 2
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Um total de 88,8 milhões. Esse é o número de seguidores que Trump possuía no Twitter até ter o perfil bloqueado permanentemente por violar regras da plataforma e incitar a violência no episódio que culminou na invasão do Capitólio dos EUA. Apesar de ser o megafone predileto de Trump, o Twitter não era o único.

O presidente e as contas vinculadas a ele sofreram algum tipo de restrição em pelo menos outras 11 redes sociais pelo mundo. Eentre elas, gigantes como Facebook, Instagram e Youtube, que tomaram medidas sem precedentes para barrá-lo.

Após os bloqueios, o mundo voltou a debater os limites da liberdade de expressão e o que é censura. No caso de Trump, há um ponto a ser observado: o contexto importa.

O presidente dos EUA, Donald Trump, caminha para falar à imprensa antes de ir até o Marine One no gramado sul da Casa Branca (Foto de Brendan Smialowski / AFP) (Foto: Brendan Smialowski / AFP)
Foto: Brendan Smialowski / AFP O presidente dos EUA, Donald Trump, caminha para falar à imprensa antes de ir até o Marine One no gramado sul da Casa Branca (Foto de Brendan Smialowski / AFP)

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Se o Capitólio não tivesse sido invadido por radicais inflamados por Trump, suas postagens possivelmente sofreriam apenas alguma restrição. Na prática, seria mais um dia normal nas redes sociais do presidente desde que ele perdeu a eleição.

A decisão das plataformas abre um precedente e gera expectativa sobre a postura delas quanto às demais lideranças ao redor do mundo. Mas caberá apenas às redes sociais decidir o quê, quando e em que contexto bloqueios serão necessários? Isso não seria colocá-las acima de Estados?

A chanceler alemã Angela Merkel, classificou como "problemática" a suspensão das contas de Trump, defendendo um "marco regulador" para tais ocasiões. O debate é complexo, mas cada vez mais urgente.

A chanceler alemã, Angela Merkel, foi uma das líderes que lançou questionamentos sobre o banimento nas redes (Foto de Michael Kappeler / POOL / AFP) (Foto: Michael Kappeler / POOL / AFP)
Foto: Michael Kappeler / POOL / AFP A chanceler alemã, Angela Merkel, foi uma das líderes que lançou questionamentos sobre o banimento nas redes (Foto de Michael Kappeler / POOL / AFP)

Mesmo bloqueado, Trump criticou as restrições e recusou-se a assumir responsabilidade pelo ataque à democracia no Capitólio. “O que eu falei foi totalmente apropriado”, disse em primeira aparição pública após a invasão que terminou com cinco pessoas mortas.

Monalisa Soares, pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), destaca que a utilização das redes sociais por Trump faz parte de um “repertório típico de populistas de extrema direita” e que este é o modus operandi. A pesquisadora reflete ainda sobre as perdas de visibilidade que Trump sofre com as sanções.

“A principal perda está nesse espaço de comunicação direta com seus apoiadores. Sem ele, fica escassa a possibilidade de repercutir para milhões de pessoas sem intermediários. Na imprensa e na televisão a visibilidade é mediada, mas nas redes sociais não. Ele perde a ampla capacidade de projetar suas mensagens sem mediação ou filtro”, explica.

Na segunda-feira, 11, a rede social “Parler”, criada em 2018 e que atraiu amplamente grupos conservadores dos EUA e apoiadores de Trump, foi desativada após gigantes como a Amazon, Google e Apple suspenderem o serviço de seus servidores e lojas de aplicativos.

A Amazon decidiu suspender a plataforma de seus servidores por violar os termos de serviço e falhar em lidar com o aumento constante de conteúdo violento.

O fundador do Parler, John Matze, acusou as empresas de tecnologia de estarem em uma "guerra contra a liberdade de expressão" e já entrou com um processo contra a Amazon pela exclusão da plataforma alegando que a decisão de encerrar o serviço foi motivada por “animosidade política" e "para reduzir a concorrência no mercado de microblogs".

A rede social conservadora Parler foi forçada a sair do ar em 11 de janeiro de 2021 depois que a Amazon avisou que a empresa perderia o acesso a seus servidores por não policiar adequadamente o conteúdo violento.  (Foto de Olivier DOULIERY / AFP) (Foto: Olivier DOULIERY / AFP)
Foto: Olivier DOULIERY / AFP A rede social conservadora Parler foi forçada a sair do ar em 11 de janeiro de 2021 depois que a Amazon avisou que a empresa perderia o acesso a seus servidores por não policiar adequadamente o conteúdo violento. (Foto de Olivier DOULIERY / AFP)

Sobre o tema, Monalisa Soares considera “relevante” que ações como essa sejam tomadas para coibir apologia a práticas violentas e ataques à democracia e direitos, mas ressalta que “os grupos de extrema direita têm histórico de se organizar em níveis mais ocultos e menos conhecidos da internet” e que como estes estão sempre se reinventando e migrando para novas plataformas. Portanto, não é uma solução a longo prazo.

Quanto à liberdade de expressão, a professora destaca que ela não é absoluta. “Envolve o respeito aos direitos humanos e a própria experiência democrática. Ela não é absoluta em si, mas um aspecto a considerar dentro da prática democrática, onde o discurso envolve respeito aos direitos fundamentais estabelecidos”, encerra.

 

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