Logo O POVO+
A era pós-Trump
Reportagem Seriada

A era pós-Trump

ESTADOS UNIDOS | Longe do poder, o trumpismo tentará sobreviver por meio da aglutinação e da reorganização. O tira-teima da continuidade, ou não, desse movimento será visto a partir das eleições legislativas de 2022
Episódio 1

A era pós-Trump

ESTADOS UNIDOS | Longe do poder, o trumpismo tentará sobreviver por meio da aglutinação e da reorganização. O tira-teima da continuidade, ou não, desse movimento será visto a partir das eleições legislativas de 2022
Episódio 1
Tipo Notícia Por

Nos Estados Unidos, o candidato que busca um segundo mandato presidencial enfrenta, na prática, um referendo sobre os quatro anos de sua administração. Em 2020, democratas esperavam que o país fosse às urnas para repudiar massivamente o governo do presidente republicano Donald Trump e ao seu legado

Em especial durante a pandemia do novo coronavírus. Não foi o que ocorreu. O resultado apertado evidenciou uma nação rachada, onde o trumpismo, mesmo derrotado, pode seguir como força política ativa no país.

A invasão ao Capitólio por radicais pró-Trump na quarta-feira, 6, demarcou uma nova fronteira na história política e institucional do país e escancarou a acelerada deterioração da democracia americana. Em 2017, o Congresso foi palco da posse de Trump: “A carnificina americana termina aqui” disse à época.

CONFIRA OS OUTROS EPISÓDIOS DA SÉRIE SOBRE A ERA PÓS-TRUMP

Acesse a cobertura completa do Coronavírus >

 

Um extremista segura uma bandeira de Trump dentro do edifício do Capitólio dos EUA. Win McNamee / Getty Images / AFP(Foto: Win McNamee / Getty Images / AFP)
Foto: Win McNamee / Getty Images / AFP Um extremista segura uma bandeira de Trump dentro do edifício do Capitólio dos EUA. Win McNamee / Getty Images / AFP

Agora, menos de quatro anos depois, uma multidão invadiu o mesmo edifício porque nega-se a aceitar o fim do governo. Às vésperas da posse de Joe Biden, o trumpismo manda um recado prático: Trump está de saída, mas não vai embora.

É difícil explicar o legado do republicano, um fenômeno ainda em acontecimento, que mesmo sem formação política ou experiência anterior em cargos públicos conquistou a confiança e mobilizou parcelas da população que a política tradicional falhou em alcançar.

Seus apoiadores comemoravam o bom desempenho econômico da gestão que acabou varrido pela pandemia, os cortes de impostos no primeiro ano de governo e as nomeações de juízes conservadores. Trump foi legitimando-se no cargo até que perdeu o controle.

Desconfiança e negacionismo

O presidente dos EUA, Donald Trump(Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP)
Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP O presidente dos EUA, Donald Trump

“Ao longo dos anos a gestão Trump plantou, com sucesso, um sentimento de desconfiança com as instituições e com a democracia e atraiu apoio de grupos e segmentos da sociedade que sentiam-se escanteados por esses órgãos. Dentre eles, membros de movimentos negacionistas e conspiracionistas como o QAnon; teoria infundada que diz que Trump trava uma guerra secreta contra pedófilos do alto escalão da sociedade”, explica o cientista político e estudioso do populismo, Fabio Gentile.

Para Gentile, a presença de grupos radicais nas bases de Trump representa uma “minoria” e é mais importante analisar como o trumpismo “aproveita-se da crise democrática representativa” para atrair seguidores.

“O projeto trumpista é um projeto de reorganização de sociedade de massa perante a crise da democracia liberal. Trump é produto dessa crise e seu sucesso desse novo modelo de organização das massas dentro de uma nação”.

Longe do poder, o trumpismo tentará sobreviver por meio da aglutinação e da reorganização. O tira-teima da continuidade, ou não, desse movimento será visto a partir das eleições legislativas de 2022, quando candidatos alinhados a Trump devem medir forças contra democratas e até mesmo com alas moderadas do partido Republicano.

Dono de um capital político consolidado, com mais de 74 milhões de votos recebidos no último pleito, é difícil imaginar que a figura do presidente não tenha peso definidor na disputa.

Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, usa uma máscara de gás e segura um busto dele depois que ele e centenas de outros invadiram o edifício do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em Washington, DC.(Foto de ROBERTO SCHMIDT / AFP) (Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP)
Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, usa uma máscara de gás e segura um busto dele depois que ele e centenas de outros invadiram o edifício do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em Washington, DC.(Foto de ROBERTO SCHMIDT / AFP)

Lucas Leite, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), projeta que o partido Republicano tem algumas opções.

“Parte deles quer se distanciar de Trump (após a invasão ao Congresso), mas não do discurso trumpista que provou ter sucesso e ser eficaz. Outra ala tenta resgatar o sentimento de que o partido se preocupa com questões institucionais e que não corrobora com essa visão radical”.

Para Leite, o trumpismo deixa a Casa Branca mas não a política. “O discurso do negacionismo permanecerá porque vários deputados e senadores já embarcaram nessa narrativa e sinalizaram que vão navegar nela por um bom tempo.

Apesar de um aumento do posicionamento antinarrativa demagógica e populistas da extrema direita, as ideias trumpistas vão continuar”, projeta, ressaltando que tudo dependerá do andamento do segundo processo de impeachment contra Trump aberto pelos democratas no Congresso.

Na tentativa de reforçar seu legado, Trump tem adotado medidas populares perante suas bases nos últimos dias de gestão. Ele foi ao Texas para visitar o muro na fronteira com o México, o qual diz que está pronto e mais recentemente voltou a classificar Cuba como uma nação financiadora do terrorismo.

Esta última uma ação sem efeitos práticos, já que pode ser revertida facilmente pelo próximo presidente, mas simbólica dentre republicanos e um aceno especial ao eleitorado mais conservador da Flórida, estado que possui grande concentração de imigrantes do país caribenho.

Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, carrega uma bandeira confederada enquanto protesta na Rotunda do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, em Washington, DC. - Os manifestantes violaram a segurança e entraram no Capitólio enquanto o Congresso debatia a Certificação de Voto Eleitoral da eleição presidencial de 2020. (Foto de SAUL LOEB / AFP) (Foto: SAUL LOEB / AFP)
Foto: SAUL LOEB / AFP Um apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, carrega uma bandeira confederada enquanto protesta na Rotunda do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, em Washington, DC. - Os manifestantes violaram a segurança e entraram no Capitólio enquanto o Congresso debatia a Certificação de Voto Eleitoral da eleição presidencial de 2020. (Foto de SAUL LOEB / AFP)

 

 

O que você achou desse conteúdo?