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Reflexos para o Brasil da saída de Trump
Reportagem Seriada

Reflexos para o Brasil da saída de Trump

Saída de Trump enfraquece bolsonarismo e fragiliza ministros do primeiro escalão do governo brasileiro; País terá que se readequar para manter as boas relações com o segundo maior parceiro comercial
Episódio 4

Reflexos para o Brasil da saída de Trump

Saída de Trump enfraquece bolsonarismo e fragiliza ministros do primeiro escalão do governo brasileiro; País terá que se readequar para manter as boas relações com o segundo maior parceiro comercial
Episódio 4
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O fim do mandato de Donald Trump nos EUA acende, ou ao menos deveria, um sinal de alerta para o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), e para alguns dos ministros do primeiro escalão do governo.

Ao longo dos quatro anos de Trump no poder, e dos dois de Bolsonaro, a relação entre Brasil e EUA saltou do pragmatismo para uma união umbilical e sem fissuras pregada pelo bolsonarismo, por vezes considerado uma cópia tropical do trumpismo americano.

Ao longo da atual gestão, Bolsonaro ignorou uma das regras básicas das relações internacionais e da diplomacia. O princípio de fortalecer laços entre países, não com governantes.

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Isso porque gestores vêm e vão, enquanto as relações entre as nações tendem a permanecer. A imagem brasileira derreteu no mundo em nome, muitas vezes, de um alinhamento automático com os EUA de Trump.

O bolsonarismo sem Trump, agora, perde um de seus pilares e fica mais isolado em uma América Latina que nos últimos pleitos devolveu o poder a governos de esquerda na Argentina e na Bolívia e decidiu por uma nova Constituição no Chile, por ora comandado por um governo de centro-direita.

A derrota de Trump é sinal de desgaste da onda populista de direita e extrema-direita que inundou diversas partes do mundo nos últimos anos. E a forma como se dá a saída do republicano pode ter suas repercussões similares por aqui durante o processo eleitoral em 2022.

Bolsonaro já sinalizou, em entrevista no dia seguinte à invasão do Congresso americano por radicais pró-Trump, que a “falta de confiança nas eleições” levou ao vandalismo no Capitólio e que, no Brasil, "se tivermos voto eletrônico" em 2022, "vai ser a mesma coisa".

(Mar a Lago - Flórida, 07/03/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro acompanhado  do Senhor Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, posam para fotografia..Foto: Alan Santos/Presidência da República(Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República (Mar a Lago - Flórida, 07/03/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro acompanhado do Senhor Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, posam para fotografia..Foto: Alan Santos/Presidência da República

Cleyton Monte, professor vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política Eleições e Mídias (Lepem-UFC), aponta similaridades entre o que ocorre nos EUA e o que pode acontecer no Brasil em dois anos.

“Quando Bolsonaro critica a urna, ele se opõe ao Ministério Público, ao TSE, ao STF e se coloca acima das instituições. Assim como Trump. Essa é a marca do populista. Ele acredita que é a encarnação da vontade do povo. Por isso a lógica populista é tão nociva à democracia. Porque ela abre precedentes”.

Entretanto, Monte ressalta que no caso brasileiro situação pode ser mais “nociva” que nos EUA. “Não tenho tanta certeza de como nossas instituições responderiam aqui, porque são mais frágeis. Tudo aquilo nos EUA (a invasão ao Capitólio), só não foi pior pela força das instituições”, destaca, projetando que em 2022 o Brasil terá um pleito com “fortes traços de embate, mobilização, uma eleição extremamente agressiva não só do ponto de vista retórico”.

Muito ligado ao guru Olavo de Carvalho, chanceler Ernesto Araújo tem protagonizado uma política externa errática à frente do Itamaraty(Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República)
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República Muito ligado ao guru Olavo de Carvalho, chanceler Ernesto Araújo tem protagonizado uma política externa errática à frente do Itamaraty

Efeitos práticos da derrota de Trump podem ser sentidos rapidamente no Brasil. Dois ministros que serão postos à prova são o chanceler Ernesto Araújo, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ambos membros da ala mais ideológica do governo brasileiro.

O primeiro chegou a atacar os democratas e o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, e nunca escondeu alinhamento com as políticas de Trump, nome ao qual já classificou como "salvador do mundo ocidental"em um artigo.

Araújo deverá estar de férias durante a posse de Biden, fator que demonstra sua falta de alinhamento com a nova gestão americana e acentua a fragilidade que pode vir a sofrer no cargo.

O segundo, por pressão da gestão Biden, que tem sinalizado questões ambientais como uma das prioridades. Com o aumento dos desmatamentos no Brasil e o reforço que Biden dará ao debate global sobre o tema, as pressões recaem de forma mais imediata sobre esse segmento do governo brasileiro.

Se quiser manter as boas relações com seu segundo maior parceiro comercial, uma questão de sobrevivência econômica, o Brasil terá que fazer adequações ao modelo que assumiu com Bolsonaro em algumas searas. Por ora, o presidente sinaliza que continuará com Trump até o fim. Depois disso, paira uma dúvida sobre o que fará.

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