Logo O POVO+
Meio progressista, meio conservador: um perfil do eleitor cearense
Reportagem Seriada

Meio progressista, meio conservador: um perfil do eleitor cearense

Pesquisa Ipespe que mapeou o pensamento do eleitor sobre temas controversos, como liberação da maconha, aborto, legalização de cassinos e porte de armas, desenha o que podemos considerar o mais próximo de um perfil dos eleitores do Ceará
Episódio 9

Meio progressista, meio conservador: um perfil do eleitor cearense

Pesquisa Ipespe que mapeou o pensamento do eleitor sobre temas controversos, como liberação da maconha, aborto, legalização de cassinos e porte de armas, desenha o que podemos considerar o mais próximo de um perfil dos eleitores do Ceará
Episódio 9
Tipo Notícia Por

 

 

O Brasil tem 156.454.011 eleitores aptos a votarem neste 2022, dos quais 4,3% (6.820.673) estão no Ceará. E a maioria é formada por mulheres (3.603.756). Ou seja, 53% do eleitorado do Estado é feminino. E se fosse possível arriscar uma definição do cearense aferida a partir de suas posições sobre temas polêmicos, seria que o eleitorado local é meio progressista, meio conservador.

Eleitorado por gênero no Ceará

 

Pesquisa conduzida pelo Ipespe e divulgada pelo O POVO, apresentou uma lista com 11 temas cuja natureza é controversa. Entre eles, estão a liberação da maconha, o porte de armas, o aborto e o ensino doméstico.

Confrontado com esses assuntos, o eleitor respondeu seguindo a cartilha do progressismo em parte das questões. Sobre o chamado "homeschooling", por exemplo, uma pauta que ganhou propulsão durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), os entrevistados foram majoritariamente contrários.

Questionados, apenas 10% se mostraram totalmente a favor da prática, que faculta à família a tarefa pedagógica dos filhos. Outros 10% se disseram favoráveis em parte, enquanto 68% admitiram ser totalmente contra e 9% parcialmente contra o ensino domiciliar.

Made with Flourish

Outro tema caro ao bolsonarismo, a liberação do porte de armas é amplamente rejeitada pelos consultados pela rodada do Ipespe: 56% responderam ser totalmente contra a medida e 7% em parte contra.

São favoráveis em absoluto 22% dos que foram ouvidos pelo levantamento. Os que concordaram parcialmente somaram 12% e não sabem ou não responderam, 3%.

A pesquisa Ipespe contratada pelo O POVO foi realizada entre 18 e 20 de setembro. Foram ouvidos mil eleitores a partir de 16 anos, de todas as regiões do Estado, via telefone, pelo sistema Cati Ipespe.

A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95,45%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) sob o protocolo CE-04936/2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-05066/2022.

Made with Flourish

 

O desenho traçado pela pesquisa revela ainda como o eleitorado cearense encara assuntos como a criminalização do racismo, a adoção de crianças por pais do mesmo sexo e a legalização de cassinos e jogos de azar.

Os três pontos se inscrevem de alguma maneira no espectro do bolsonarismo. O racismo é tratado como bandeira identitária pelo atual presidente e, como tal, é combatido ou minimizado.

A adoção de crianças por casais gays contraria a agenda de costumes abraçada pelo candidato à reeleição, cuja base inclui segmentos religiosos, sobretudo aqueles de denominações evangélicas para os quais o tema é mais do que sensível.

Finalmente, a defesa da legalização dos jogos de azar e dos cassinos foi postulada pelo ministro da Economia Paulo Guedes, para quem o Brasil deveria tentar atrair esse tipo de negócio para criar empregos e fortalecer o mercado.

A tese, por sua vez, também é encampada por parlamentares do centrão, que hoje comandam a Câmara dos Deputados e controlam postos-chave do Governo, como a Casa Civil, à frente da qual está o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI).

Made with Flourish

A criminalização do racismo, porém, tem 51% de adesão integral dos eleitores ouvidos pelo Ipespe - 13% ainda afirmaram apoiar em parte a ação. Segundo o instituto, 30% se apresentaram totalmente contrários a qualquer tipo de punição criminal de conduta racista.

Quando o assunto é adoção de crianças por casais gays, cearenses totalmente favoráveis foram 41% e em parte a favor somaram 11%, totalizando 52% dos entrevistados que chancelam total ou parcialmente a pauta.

Nesse caso, totalmente contrários à adoção foram 35% e em parte contrários, 5%, fechando 40%. Não sabem ou não responderam chegaram a 8%.

A legalização de cassinos e jogos de azar é outro tópico que não conta com a simpatia do eleitorado local: 61% dos respondentes se posicionaram totalmente contrários a essa ideia apresentada por Guedes - 8% foram em parte contra.

Integralmente favoráveis ao proposto pelo ministro são apenas 16% e em parte a favor, 8%.

O documentário "Meu Corpo, Minha Vida", dirigido por Helena Solberg, apresenta um debate a respeito da temática do aborto no Brasil(Foto: fotos Divulgação)
Foto: fotos Divulgação O documentário "Meu Corpo, Minha Vida", dirigido por Helena Solberg, apresenta um debate a respeito da temática do aborto no Brasil

A porção conservadora do eleitorado local também esteve em destaque na rodada do Ipespe. A respeito de pontos como aborto e liberação do uso da maconha, os entrevistados se colocaram majoritariamente contrários.

Em relação ao aborto, apenas 8% dos consultados foram totalmente a favor e 12%, em parte. Dos pesquisados, 66% foram totalmente contra e 11%, em parte contra - uma soma que perfaz 77% que expressam veto total ou parcial ao aborto.

O percentual de cearenses que se identificaram como totalmente contrários à descriminalização da maconha ainda é mais superlativo: 69%. Parcialmente contra foram 8%. Apenas 10% assumiram que são totalmente a favor do uso da droga.

 

 

 

Maioria rejeita taxa em universidades

Nos quase quatro anos de gestão de Jair Bolsonaro (PL) à frente do Planalto, houve uma série de troca de ministros da Educação. Apesar do vaivém, uma pauta estava sempre no radar do Governo: a cobrança de mensalidade ou de algum tipo de taxa nas universidades públicas.

De acordo com pesquisa Ipespe divulgada pelo O POVO, 80% dos cearenses entrevistados são totalmente contra a cobrança de mensalidade nas instituições de ensino superior públicas.

O percentual é o veto mais eloquente entre os temas com os quais os eleitores foram confrontados.

Made with Flourish

Para outros 6% de entrevistados, a posição assumida é parcialmente contrária. Ou seja, ao todo 86% condenam de alguma maneira o pagamento de mensalidade nas universidades.

Principalmente durante a temporada de Abraham Weintraub no MEC, o assunto esteve correntemente em pauta. O então ministro abriu uma verdadeira guerra contra as universidades federais e reitores não alinhados com o bolsonarismo.

O chefe da pasta chegou a dizer que as instituições eram espaço de baderna e ambiente de uso de drogas, sem qualquer tipo de prova sobre a grave acusação que fazia. Depois de um processo de desgaste interno, Weintraub deixou o cargo sob a mira do Supremo.

A grande maioria dos cearenses é contra a cobrança de mensalidade nas instituições de ensino superior públicas(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil A grande maioria dos cearenses é contra a cobrança de mensalidade nas instituições de ensino superior públicas

Viajou às pressas para o exterior ainda recorrendo ao passaporte especial de ministro. Hoje, é um adversário de Bolsonaro, a quem costuma criticar nas redes sociais.

A margem de erro da pesquisa Ipespe é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95,45%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) sob o protocolo CE-04936/2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-05066/2022. (Henrique Araújo)

 

 

Questão agrária tem baixa adesão em pesquisa

O Ipespe também quis saber dos eleitores cearenses consultados na rodada o que pensam sobre a demarcação de terras indígenas no estado.

Entre os que responderam, 35% foram totalmente a favor e 20%, parcialmente favoráveis - um total de 55%.

Totalmente contrários foram 25% e em parte contra, 5%, somando 30%.

Houve uma fração expressiva, no entanto, que não soube ou não quis responder: 16%.

Made with Flourish

A margem de erro do levantamento do Ipespe é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95,45%.

A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) sob o protocolo CE-04936/2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-05066/2022.

Ainda sobre temática agrária, o eleitorado foi questionado sobre se concorda e em que grau com a desapropriação de terras improdutivas para fins de reforma.

Marco temporal trouxe à pauta  demarcação de terras indígenas, com debate sobre conceitos de marco temporal e de ocupação tradicional de terras indígenas,(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Marco temporal trouxe à pauta demarcação de terras indígenas, com debate sobre conceitos de marco temporal e de ocupação tradicional de terras indígenas,

Mais uma vez, aqueles totalmente a favor chegaram a 34% e em parte a favor, 13%. Integralmente contrários somaram 30% e em parte, 7%. Não sabe/não respondeu foram 18%.

Embora, nas duas perguntas, os eleitores locais tenham se posicionado numericamente mais favoráveis tanto à demarcação quanto à reforma agrária, os percentuais observados foram mais baixos do que em outras questões colocadas para análise pela sondagem.

O índice dos que não responderam também está entre os mais altos da pesquisa, indicando que essa parcela da população ou não dispõe de elementos para considerar a pergunta e oferecer uma resposta ou não quis avaliar esse ponto. (Henrique Araújo)

O que você achou desse conteúdo?