Em ano de eleição nos Estados Unidos, o sistema eleitoral do país é tema de discussões - e confusões - na cabeça dos que residem em locais com um modelo onde o vencedor do pleito presidencial é aquele com a maioria total de votos; como Brasil e França por exemplo. Para compreender o sistema dos EUA é importante entender, antes de tudo, que a disputa entre Donald Trump e Joe Biden neste ano não ocorre em nível nacional, mas estadual. Na prática, é como se as eleições presidenciais fossem, na verdade, 50 mini-eleições em todo o país composto por 50 estados. Cada uma delas com um peso diferente para o resultado final.
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Para efeitos de comparação, os EUA não possuem uma Justiça Eleitoral Federal, correspondente ao TSE aqui no Brasil. Por lá os estados têm autonomia e independência para determinar as regras das eleições em seus respectivos territórios. Por exemplo, se será feito por papel ou em urnas, se o voto por correio será permitido com ou sem justificativa, etc.
A confusão a respeito do sistema eleitoral dos EUA ocorre porque, geralmente, tentamos compreender a eleição como um todo e não de modo compartimentado, como de fato ocorre. Pensando nisso, e na tentativa de desatar o nó que impossibilita o entendimento, O POVO+ fez um passo a passo destacando os principais pontos do processo eleitoral estadunidense, que é o mesmo desde que a Constituição do país foi promulgada no ano de 1787.
Vou citar um exemplo do peso de cada estado na disputa. Em teoria, se um candidato ganhasse em 11 estados, sendo eles: Califórnia, Texas, Nova York, Flórida, Illinois, Pensilvânia, Ohio, Michigan, Geórgia, Carolina do Norte e Nova Jersey, ele seria eleito presidente mesmo perdendo em outros 39 estados. Isso porque atingiria o número mínimo de votos (270) no chamado Colégio Eleitoral, grupo de 538 pessoas conhecidas como delegados que são quem de fato escolhem o presidente do país. O voto popular então é indireto e serve para selecionar de qual partido serão esses delegados no estado em que se vota.
Mas o exemplo pode ser aplicado apenas em teoria, pois é preciso considerar o histórico de votação dos estados citados. A Califórnia geralmente opta pelos democratas, enquanto o Texas tem histórico de votar nos republicanos. O Michigan, por exemplo, é um dos chamados “swing states”, ou estados-pêndulo, e varia preferência conforme a eleição. Ou seja, dificilmente a conta de vencer nestes 11 estados específicos baterá. Mas é uma possibilidade.
Para esclarecer a preferência dos estados é importante separá-los em grupos. Os que votam nos democratas são chamados “Blue States” (estados azuis) e os que votam nos republicanos são os “Red States” (estados vermelhos). Há ainda um fenômeno relativamente novo, chamado “Purple States” (estados roxos), onde registra-se uma tendência de migração do eleitorado de um partido para outro.
Neste cenário, o Texas é um caso interessante. Analistas têm percebido uma tendência de que, nos próximos anos, os eleitores do Texas (com preferência por republicanos) estejam mais dispostos a votar nos Democratas. Isto em decorrência de fatores específicos, como o aumento de descendentes de imigrantes nascidos por lá.
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