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Jill Biden e Melania Trump: ativismo e discrição na campanha americana
Reportagem Seriada

Jill Biden e Melania Trump: ativismo e discrição na campanha americana

Uma participa ativamente da campanha do marido à presidência dos Estados Unidos e é apontada como a força do candidato democrata. A outra está na Casa Branca há quatro ano e é reconhecida por ser uma primeira-dama discreta, ainda que não saia da mira das críticas
Episódio 4

Jill Biden e Melania Trump: ativismo e discrição na campanha americana

Uma participa ativamente da campanha do marido à presidência dos Estados Unidos e é apontada como a força do candidato democrata. A outra está na Casa Branca há quatro ano e é reconhecida por ser uma primeira-dama discreta, ainda que não saia da mira das críticas
Episódio 4
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Há meses, Jill Biden atravessa os Estados Unidos sem descanso, com uma mensagem: apenas Joe Biden pode unir um país dividido ao extremo, se chegar à Casa Branca. Sua energia e mensagem otimista são apreciadas pelos eleitores democratas, e também por alguns republicanos.

Com um vigor que muitas vezes supera o de seu marido, que há muito limitou suas viagens de campanha, essa professora de 69 anos visita eleitores em estados-chave que provavelmente tenderão para o lado democrata neste 3 de novembro.

Ela convoca os americanos, "democratas e republicanos, rurais e urbanos", a se unirem para superar as divisões políticas, derrotar a pandemia e a crise econômica.

"Não concordamos em tudo, não é necessário. Ainda podemos nos amar e respeitar uns aos outros", afirma Jill, em um discurso diretamente oposto ao do republicano Donald Trump.

JILL Biden é personagem elogiada até mesmo pelos adversários republicanos do marido(Foto: Reprodução/AFP)
Foto: Reprodução/AFP JILL Biden é personagem elogiada até mesmo pelos adversários republicanos do marido

A energia unificadora por trás
do candidato democrata à Casa Branca

Neles, ela também expõe uma imagem mais íntima de Joe Biden, cuja vida foi atingida por "tragédias inimagináveis".

Jill Biden conta especialmente como o ex-vice-presidente Barack Obama teve forças para retomar suas atividades na Casa Branca, poucos dias após a morte de seu filho Beau, por um câncer no cérebro, em 2015.

"Ele aprendeu a curar uma família desfeita e, da mesma forma, se cura uma nação: com amor, compreensão, pequenos atos de bondade, coragem e uma esperança inabalável", diz ele, referindo-se à crise que atingiu os Estados Unidos por conta da pandemia e das tensões que se acumulam após quatro anos de governo Trump.

Não concordamos em tudo, não é necessário. Ainda podemos nos amar e respeitar uns aos outros
 
Jill Biden

Joe e Jill Biden se casaram em 1977, cinco anos depois de uma primeira tragédia, quando a primeira mulher do senador e sua filha morreram em um acidente de carro.

Ainda pequenos, seus dois filhos sobreviventes, Beau e Hunter, sugeriram ao pai que se casasse com Jill, lembra Joe Biden em suas memórias, onde escreveu: "Ela me devolveu a vida".

"Ela é a pessoa mais forte que eu conheço", elogiou o candidato, em um vídeo por ocasião da Convenção Nacional Democrata em agosto.

Primeira-dama do século XXI

Jill Biden interrompeu sua carreira quando teve sua filha, Ashley, em 1981, mas retomou os estudos para obter um doutorado em educação.

Ela ainda dá aula em uma universidade no norte da Virgínia, perto de Washington, onde deseja continuar trabalhando mesmo que o marido se torne presidente.

Sem contar Hillary Clinton, que foi senadora por um breve período após a administração de seu marido, Jill Biden seria a primeira-dama a seguir sua carreira profissional.

Se fizer isso, "mudará para sempre as expectativas e limitações" do papel, estima Kate Andersen Brower, autora de um livro sobre a história das primeiras-damas americanas, ressaltando que "a maioria das mulheres americanas deve conciliar a vida profissional com a vida familiar".

Ele aprendeu a curar uma família desfeita e, da mesma forma, se cura uma nação: com amor, compreensão, pequenos atos de bondade, coragem e uma esperança inabalável
 
Jill Biden

Jill Biden se envolveu na campanha do marido desde as primárias. O candidato democrata adquiriu o hábito de se apresentar como "marido de Jill Biden".

Jill Biden chega à reta final da campanha presidencial com o marido Joe Biden na Belmont University em 22 de outubro de 2020 em Nashville, Tennessee, no último debate entre os dois candidatos antes da eleição de 3 de novembro. Chip Somodevilla / Getty Images / AFP(Foto: AFP)
Foto: AFP Jill Biden chega à reta final da campanha presidencial com o marido Joe Biden na Belmont University em 22 de outubro de 2020 em Nashville, Tennessee, no último debate entre os dois candidatos antes da eleição de 3 de novembro. Chip Somodevilla / Getty Images / AFP

Solidamente ao lado do marido, ela denunciou as "calúnias" lançadas pelo lado de Trump para "desviar a atenção", em referência às recentes acusações de corrupção contra Joe e Hunter, o filho mais novo envolvido na polêmica sobre seus negócios na China e Ucrânia, quando seu pai era o vice de Barack Obama.

Manteve-se discreta, porém, diante da acusação de um estupro que teria ocorrido na década de 1990, feita por Tara Reade e rejeitada categoricamente por Joe Biden.

O senador por três décadas e vice-presidente por oito anos (2009-2017) também foi denunciado por ter uma relação muito "tátil" com as mulheres, que se queixavam de gestos invasivos e inadequados.

Jill Biden diz não ver nada além de um comportamento inocente do marido. Joe, por sua vez, garante ter "aprendido" com as declarações dessas mulheres que consideraram seu espaço privado invadido.

O presidente Donald Trump acena enquanto caminha com a primeira-dama Melania Trump (Foto: EVAN VUCCI/AFP)
Foto: EVAN VUCCI/AFP O presidente Donald Trump acena enquanto caminha com a primeira-dama Melania Trump

Melania Trump, a primeira-dama discreta

Por Susan Stumme

Melania Trump foi criticada por suas palavras e por suas roupas. E, embora muitas vezes pareça pouco encantada com a vida na Casa Branca, a eslovena de 50 anos, a primeira em sua posição a ter nascido no exterior em dois séculos, pode estender sua permanência na mansão presidencial por mais quatro anos.

Terceira esposa do presidente dos Estados Unidos, Melania é uma ex-modelo de olhos deslumbrantes que tem sido uma fonte discreta de apoio ao líder republicano, geralmente fora das câmeras.

Em um livro publicado no ano passado, a repórter da CNN Kate Bennett afirmou que a primeira-dama é "muito mais poderosa e influente com o marido" do que o público imagina.

Toda vez que ele (Trump) precisa dela para uma grande demonstração de apoio, ela aparece
 
Katherine Jellison

Em 2018, ela pediu abertamente a demissão de um conselheiro sênior do presidente. Isso foi feito. Mas Melania permanece em grande parte um enigma - pelo menos em termos políticos.

Quando ela se colocou intencionalmente no centro das atenções, recebeu críticas. Sua campanha contra o bullying "Be Best", um papel característico de primeira-dama, não foi bem recebida.

Nem mesmo suas escolhas de moda foram aprovadas, gerando uma longa série de comentários e especulações.

"As primeiras-damas enfrentam o tremendo desafio de fazer um trabalho sem uma descrição de cargo e enfrentando críticas públicas quase constantes", avalia Kate Andersen Brower, autora de "Primeiras-mulheres: a graça e o poder das primeiras-damas modernas Estados Unidos" (em tradução livre). "Elas nunca conseguem agradar a todos ao mesmo tempo, e algumas primeiras-damas, como Melania, lutam mais do que outras", completa.

A primeira-dama dos EUA, Melania Trump, embarca em um avião na Base Aérea de Andrews em Maryland para uma viagem noturna em três estados. - Melania Trump gerou polêmica em tudo, desde suas palavras até suas roupas. (Foto: Brendan Smialowski / AFP)
Foto: Brendan Smialowski / AFP A primeira-dama dos EUA, Melania Trump, embarca em um avião na Base Aérea de Andrews em Maryland para uma viagem noturna em três estados. - Melania Trump gerou polêmica em tudo, desde suas palavras até suas roupas.

Vida de luxos

Melanija Knavs, seu nome de batismo, nasceu em abril de 1970 na Eslovênia, então parte da Iugoslávia. Sua mãe trabalhava na indústria da moda, e seu pai era vendedor de carros.

Ela estudou design e arquitetura antes de partir para Milão e Paris para iniciar sua carreira de modelo. Isso a levou aos Estados Unidos em 1996, onde dois anos depois conheceu Trump.

A primeira-dama disse que se tornar cidadã americana em 2006 foi "o maior privilégio do planeta Terra".
Na verdade, sua experiência americana é verdadeiramente um privilégio: uma vida de jet-set, situada entre um luxuoso apartamento em Nova York, na Trump Tower, e residências na Flórida.

No início, Melania não pareceu concordar com as aspirações presidenciais do marido. "Ela disse: 'Temos uma vida tão boa. Por que você quer fazer isso?'", contou o presidente ao jornal "The Washington Post".

Melania acabou se tornando a primeira primeira-dama americana estrangeira desde Louisa Adams, esposa inglesa de John Quincy Adams, que foi presidente entre 1825 e 1829.

Estilo questionado

Donald Trump entrou na Casa Branca em janeiro de 2017, mas Melania e seu filho Barron se juntaram a ele somente em junho, depois que o então estudante de 11 anos completou seu ano escolar.

"Estamos ansiosos pelas memórias que criaremos em nossa nova casa! #Movingday", escreveu Melania no Twitter na época.

Em Washington, entretanto, ela rapidamente sentiu a dureza da cena política. Foi criticada por usar sapatos de salto agulha em agosto de 2017 para visitar um Texas devastado pela tempestade e por calçar tênis antes de sair do avião.

Donald é um lutador. Ele ama este país e luta por você todos os dias
 
Melania Trump

Voltou ao centro das atenções em uma viagem de junho de 2018 à fronteira EUA-México para visitar crianças migrantes, por usar uma jaqueta com a frase "Eu realmente não me importo".

Ela estaria criticando o marido? Os meios de comunicação? Sua enteada Ivanka? Ou apenas vestindo uma jaqueta que gostou? Nada disso importava e as manchetes negativas persistiam.

Tampouco ajudou usar um chapéu branco de estilo colonial durante um safári no Quênia, alguns meses depois.

Para a professora de história da Universidade de Ohio, Katherine Jellison, Melania Trump poderia melhorar sua imagem se "fizesse mais aparições públicas e desse mais entrevistas, mas, é claro, ela escolheria suas palavras e seu guarda-roupa com cuidado".


"Popular"

Sua principal força como primeira-dama tem sido sua habilidade de projetar calma e compaixão, ao contrário de seu marido, em assuntos como covid-19 e tensões raciais.

Embora ela tenha estado amplamente ausente da campanha eleitoral este ano, em parte devido ao coronavírus que a afetou pessoalmente, seu discurso na convenção de nomeação republicana em agosto foi elogiado.

"Toda vez que ele precisa dela para uma grande demonstração de apoio, ela aparece", disse Jellison.
Brower observa que Melania é "extraordinariamente popular" entre a base política de seu marido.

"Donald é um lutador. Ele ama este país e luta por você todos os dias", disse ela na terça-feira em um comício de campanha no estado da Pensilvânia, seu primeiro evento sozinha em 2020.

O que Melania faria por mais quatro anos na Casa Branca? Brower prevê que ela adotaria um perfil ainda mais discreto.

"Ela é uma pessoa muito reservada. E, embora eu acredite que continuaremos vendo seu trabalho para ajudar as pessoas com dependência de opioides e as tarefas mais tradicionais da primeira-dama, vamos vê-la menos na cena pública

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